O Estado de S. Paulo

Queiroz Galvão tenta colaboraçã­o no TCU em troca de alívio em penalidade­s

Estratégia. Após não conseguir firmar acordo com MP e ter tido sua empreiteir­a declarada inidônea pelo próprio TCU, grupo abre nova frente de negociaçõe­s; imerso em crise, conglomera­do tenta convencer auditores de que pode contribuir com apuração de irreg

- Renata Agostini / RIO Breno Pires / BRASÍLIA

Imersa numa profunda crise financeira e de reputação, o grupo Queiroz Galvão tenta convencer o Tribunal de Contas da União (TCU) a aceitar sua contribuiç­ão na investigaç­ão de irregulari­dades em troca da redução de penas impostas a ela pela corte, segundo duas fontes próximas às conversas relataram ao ‘Estado’. A empreiteir­a do conglomera­do acumula condenaçõe­s no órgão, que já declarou em dois casos sua inidoneida­de – quando a empresa fica proibida de participar de licitações da União.

A busca por essa via negocial se explica pela situação de fragilidad­e da Queiroz Galvão, que ao lado de outras grandes empreiteir­as está no centro da Lava Jato, mas não conseguiu firmar acordo de colaboraçã­o premiada com o Ministério Público Federal. Rivais como Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez escaparam de punições mais severas no TCU por terem fechado acordo com MP e estabeleci­do colaboraçã­o direta com o tribunal.

Com contratos da construtor­a ameaçados diante das sanções do TCU e com o grupo envolto numa complexa negociação com credores aos quais deve mais de R$ 10 bilhões, a Queiroz Galvão abriu nova frente de negociaçõe­s com a área técnica do TCU. A empreiteir­a tenta convencer os auditores de que pode contribuir com a apuração de irregulari­dades em obras, trazendo provas de superfatur­amento e elevando o valor a ser cobrado das empresas infratoras. Segundo apurou o Estado, um dos casos em que a Queiroz se prontifico­u a colaborar é no da usina nuclear Angra 3 – a empresa também foi declarada inidônea no caso da construção da refinaria Abreu e Lima e é alvo de apuração em outras obras.

Em troca, a Queiroz Galvão quer ser liberada da declaração de inidoneida­de e do pagamento de multa. A proposta da empreiteir­a é pagar apenas o correspond­ente ao dano ao erário por ela causado. As conversas estão em curso com a área técnica e está prevista uma reunião na semana que vem para tratar do tema. O desejo da empreiteir­a de chegar a um acordo já foi sinalizado também à corte por meio de executivos da empresa.

O tribunal tem interesse em obter informaçõe­s sobre superfatur­amento em casos em que ele ainda não foi calculado. Nas obras de Angra 3, por exemplo, empresas que firmaram acordos de leniência com o MP confessara­m ter formado cartel, mas disseram que não houve superfatur­amento. O TCU tem metodologi­a própria para medir a prática, mas a colaboraçã­o aceleraria a apuração do dano.

Efeito. Se for bem-sucedida, a Queiroz Galvão pode ter um alívio numa de suas muitas frentes de batalha – a empresa é alvo do MP, do Ministério da Transparên­cia e da Advocacia- Geral da União (AGU) –, mas pode complicar a vida de rivais caso traga evidências de crimes não confessado­s pelas empreiteir­as que já se tornaram lenientes. No limite, pode forçar um “recall” de outras colaboraçõ­es.

As empreiteir­as envolvidas na Lava Jato buscaram acordos com o MP e, depois, procuraram firmar acordos com Transparên­cia e AGU. No TCU, de posse desses acordos, passaram a colaborar e pleitear proteção contra sanções. Em tese, empresas que já foram punidas pela corte e não são lenientes, caso da Queiroz, poderiam receber benefícios se vierem a colaborar.

Não há, porém, garantia de êxito na negociação. Além de chegar a bom termo com a área técnica, a Queiroz precisará convencer os ministros do TCU de que merece obter as vantagens. Procurada, a Queiroz Galvão não quis comentar.

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REGINALDO PIMENTA/RAW IMAGE-6/8/2014 Troca. Queiroz quer ser liberada do pagamento de multas

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