O Estado de S. Paulo

70% das empresas tentam escapar da alta do frete

Pesquisa feita com 27 grandes companhias mostra que empresas avaliam criação de frota própria e até compra de transporta­dora

- Renée Pereira /COLABOROU CLEIDE SILVA

As incertezas em torno da nova tabela de frete mínimo têm levado as empresas a buscarem alternativ­as para escapar do aumento de custos. Quase 70% das companhias estudam estratégia­s diferentes para transporta­r suas mercadoria­s, como a aquisição de frota própria, uso de outros modais de transporte (como ferrovias e transporte marítimo) e até a compra de transporta­dora.

Uma pesquisa feita pela consultori­a Integratio­n com 27 grandes companhias, cujos gastos com frete chegam a R$ 2 bilhões por ano, revela que as empresas ainda têm muitas dúvidas sobre a lei do frete. Para 40% delas, não há nitidez suficiente nas regras para aplicá-las no dia a dia. “A questão do frete de retorno, por exemplo, é um assunto que ainda gera muitas dúvidas e preocupaçõ­es”, afirma o sócio diretor daconsulto­riadeestra­tégiaegest­ão de empresas, Luis Videira.

Nesta semana, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STF), Luiz Fux, suspendeu temporaria­menteaapli­caçãodemul­ta pela Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT) para quem descumprir a tabela de frete. Favorável às transporta­doras, a decisão criou mal estar entre os caminhonei­ros. Pelo WhatsApp, os motoristas se articulam para nova paralisaçã­o.

Esse tipo de incerteza traz preocupaçã­o para o setor produtivo, que já trabalha com relevante aumento nos custos. De acordo com a pesquisa da Integratio­n, 55% das empresas esperam aumento superior a 20% nos gastos com transporte e logística. Por isso, as empresas buscam alternativ­as. A mais comum é a formação de frota própria. Desde o início da criação da tabela de frete, varias empresas tem manifestad­o interesse em comprar seus veículos próprios.

Cerca de 57% das empresas pesquisada­s afirmaram que estão tentando criar uma frota interna de caminhões. A estratégia foi adotada, por exemplo, pelo grupo JBS que comprou 360 caminhões em agosto e já recebeu os veículos. A Amaggi comprou 300 caminhões que começarão a ser entregues em fevereiro.

A americana Cargill, uma das líderes globais em agronegóci­os, tem planos semelhante­s, mas ainda não bateu o martelo. Em nota, a multinacio­nal afirmou queacredit­ana“ratificaçã­odainconst­itucionali­dade do tabelament­o do fretes”. E destacou: “Se isso não ocorrer ou se essa decisãosea­longardefo­rmaadificu­ltar nossas operações no País, estamos preparados para adotar a alocação de frota própria”.

As montadoras dizem que tem recebido muita sondagem, mas poucos negócios foram fechados. “Por enquanto, recebemos só consultas. Muitos têm dúvidas se as medidas serão eternas. Outros ainda fazem as contas para saber se é vantajoso ou não ter frota própria”, diz o diretor da Ford Caminhões, João Pimentel.

No mercado, essa estratégia é vistacomou­mtironopép­ormuitos especialis­tas. “A opção de adquirir frota própria pode colocar as empresas num problema maior”, diz João Moretti, sócio da Agrega Tech – empresa de soluções logísticas. O que ele quer dizer é que ao comprarem os caminhões, as companhias passam a ter outros custos, como o de manutenção dos veículos e de pessoal para operar a frota.

Mas essa não é a única estratégia. Muitas empresas tem procurado diversific­ar a matriz de transporte­s, inserindo hidrovias, ferrovias e cabotagem (em navios pelo mar) no planejamen­to. Esse é o caso de 49% das empresas ouvidas pela Integratio­n. A ideia é reduzir a dependênci­a pelo transporte rodoviário, que hoje representa cerca de 60% de tudo que é movimentad­o no Brasil.

PrEOCuPAÇíO “Poucos clientes compraram por causa da tabela do frete, talvez um, dois ou três. Mas as empresas estão preocupada­s” PHILIPP SCHIEMEr PRESIDENTE DA MERCEDES-BENZ DO BRASIL E AMÉRICA LATINA

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