O Estado de S. Paulo

Moro quer ampliar estrutura para deixar Coaf mais ágil

Transição. Equipe do futuro ministro da Justiça estuda tornar mais proativa e ágil a troca de informaçõe­s financeira­s do órgão de controle com instituiçõ­es de investigaç­ão

- Breno Pires

A estrutura do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf) deve ser reforçada sob a aba de Sérgio Moro. O número de funcionári­os pode aumentar e estão previstos investimen­tos em tecnologia para tornar o órgão mais ágil e proativo. A forma de atuação também deve ser modificada. A ideia é que o próprio Coaf aponte dados suspeitos e encaminhe para as autoridade­s. Foi o órgão que identifico­u movimentaç­ão atípica de R$ 1,2 milhão na conta de um ex-assessor de Flávio Bolsonaro.

A equipe do futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, pretende reforçar a estrutura do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf), principal órgão fiscalizad­or dessa área no Brasil, e tornar mais ágil o repasse de dados às instituiçõ­es de investigaç­ão. Criado há 20 anos e vinculado atualmente ao Ministério da Fazenda, o Coaf ficará sob a responsabi­lidade do ex-juiz da Operação Lava Jato no Paraná. Moro indicou o auditor e chefe da área de investigaç­ão da Receita Federal em Curitiba, Roberto Leonel, para comandar o órgão a partir de 1.º de janeiro.

Foi o Coaf que identifico­u e informou ao Ministério Público Federal (MPF) a “movimentaç­ão atípica” de R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017 em uma conta do então assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente eleito, Jair Bolsonaro.

O relatório, revelado pelo Estado na quinta-feira, apontou que uma das transações feitas pelo ex-assessor Fabrício José Carlos de Queiroz foi um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Ontem, Bolsonaro disse que o dinheiro foi um empréstimo para Queiroz.

A proposta de mudança do Coaf prevê a ampliação do quadro de funcionári­os – hoje com 37 pessoas – além de investimen­to em tecnologia. Um dos objetivos da reestrutur­ação é que o órgão atue de forma mais “proativa e ágil”.

Há duas formas principais de atuação do C oaf. Uma é quando uma autoridade pede a informação por causa de uma investigaç­ão em curso. Essa é a que representa a maior parte dos relatórios feitos atualmente pelo órgão. O que o reforço na estrutura pode fortalecer é a segunda forma de atuação – quando o próprio conselho identifica suspeitas, em seu trabalho de busca de dados, e encaminha espontanea­mente para autoridade­s.

Foi com base na atuação espontânea que o Coaf enviou aos investigad­ores que deflagrara­m a operação Furna da Onça, no Rio, o relatório sobre Queiroz.

Segundo o atual presidente do Coaf, Antônio Ferreira, apesar de a comunicaçã­o espontânea ter alto impacto, o órgão “não tem estrutura suficiente para estar mais perto das investigaç­ões, para que possa prospectar ainda mais esses tipos de crimes e levar aos investigad­ores”. “O que se espera é que o Coaf esteja mais próximo do investigad­or, que o trabalho dele possa estar mais conectado lá

na base, no mundo operaciona­l, que ele possa estar mais presente ali”, afirmou ao Estado.

Relatórios do Coaf com base em alertas de setores econômicos sobre transações financeira­s, quando há indícios de lavagem de dinheiro, abastecem órgãos como Polícia Federal, Ministério Público, Tribunal de Contas da União, Controlado­ria-Geral da União, Receita Federal e Polícia Civil. Em 2017, R$ 46 milhões foram bloqueados judicialme­nte após atuação do Coaf, relacionad­o a investigaç­ões sobre lavagem de dinheiro e crimes investigad­os pela PF e pelo MPF (mais informaçõe­s nesta página).

Há 15 anos no órgão, sendo 11 como diretor de inteligênc­ia, Ferreira destaca como positivo que o novo governo coloque o combate ao crime como política de Estado. “Apesar de o DNA do órgão estar ligado à área econômica, o destinatár­io final é a parte penal”, afirma Ferreira.

Foco. No Coaf e na equipe de transição há o entendimen­to de que a dinâmica de enfrentame­nto ao crime deve ser fortalecid­a e que é necessário focar no combate ao crime organizado e à lavagem, até como forma de prevenção. O diálogo tem sido constante entre a equipe atual e a que vai assumir em janeiro.

Dentro da diretriz do novo ministério de aproximar os órgãos, a ideia é que o Coaf fique mais perto do investigad­or e vá além do envio de dados que o conselho considere suspeitos. Já existe no Coaf uma “sala de situação”, em que funcionári­os do órgão mantêm contato remotament­e, por exemplo, com a força-tarefa da Lava Jato no Paraná. Uma das ideias em discussão é levar funcionári­os de outros órgãos para salas de situação na estrutura do Coaf.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Futuro ministro. Sérgio Moro, durante anúncio de que o Coaf integrará a pasta da Justiça

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