O Estado de S. Paulo

O peso da China

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É cada vez maior a presença do capital chinês nos investimen­tos estrangeir­os no Brasil.

Os dados não deixam dúvida: o peso da China no comércio exterior brasileiro, já notável nos últimos anos, tornou-se ainda maior em 2018. Do superávit comercial de US$ 51,7 bilhões acumulado pelo Brasil nos 11 primeiros meses deste ano, nada menos do que 50,7%, ou US$ 26,2 bilhões, resultaram do comércio do País com a China. No ano passado, esse comércio produziu 30,7% do saldo comercial acumulado no mesmo período (US$ 19,0 bilhões, de um total de US$ 62,0 bilhões). A segunda maior potência do mundo já absorve mais de um quarto do total que o País exporta. Dos US$ 220,0 bilhões exportados de janeiro a novembro deste ano, US$ 58,8 bilhões, ou 26,7%, tiveram a China como destino.

Só esses números bastariam para mostrar a crescente influência da China sobre a economia brasileira. Mas este é apenas um dos lados do relacionam­ento cada vez mais intenso entre o país cuja economia dentro de alguns anos será a maior do planeta e aquele que tem a maior economia da América Latina. Há outro, que resulta em laços econômicos mais fortes e que tendem a ser mais duradouros. É a presença cada vez maior do capital chinês nos investimen­tos estrangeir­os absorvidos pelo Brasil.

Há pelo menos um decênio a presença de investimen­tos chineses na economia brasileira vem se intensific­ando. Em 2010 – ano que marca o início do período de maior participaç­ão dos chineses na economia nacional –, o Brasil respondeu por cerca de um quarto das aquisições feitas pela China no exterior. Isso represento­u investimen­tos de mais de US$ 10 bilhões naquele ano. No ano passado, segundo o Conselho Empresaria­l Brasil-China (CEBC), o total de investimen­tos chineses anunciados e confirmado­s alcançou US$ 17,4 bilhões, dos quais US$ 8,8 bilhões foram confirmado­s.

O volume acumulado nos últimos anos é expressivo. O CEBC estima em US$ 98 bilhões o total de investimen­tos anunciados e confirmado­s (estes somam US$ 55 bilhões) em 157 projetos (dos quais 115 confirmado­s) entre 2007 e 2017.

Utilizando outra base de dados, a Secretaria de Assuntos Internacio­nais (Seain) do Ministério do Planejamen­to mapeou 269 projetos de investidor­es chineses anunciados e confirmado­s de 2003 até agosto deste ano, envolvendo investimen­tos de US$ 124 bilhões. Foram confirmado­s 124 projetos, que exigiram investimen­tos de US$ 54,1 bilhões. Há discrepânc­ias nos números entre os dois levantamen­tos em razão do uso de diferentes fontes. Ambos mostram, porém, a forte e crescente presença do capital chinês na economia brasileira.

A recessão iniciada em 2015, no governo de Dilma Rousseff, reduziu o preço dos ativos brasileiro­s, o que fez crescer o apetite da China por empresas nacionais. Mas a diversific­ação dos setores pelos quais o capital chinês se sentiu atraído também pode explicar o contínuo cresciment­o de sua participaç­ão na economia brasileira.

A Seain observa, por exemplo, que os investimen­tos chineses no Brasil ao longo do tempo observam um certo padrão. Entre 2010 e 2012, eles se concentrar­am nas áreas de petróleo e gás e de mineração. Entre 2013 e 2016, seu interesse se orientou para a indústria automobilí­stica e de mineração. De 2014 para cá, há crescente entrada de capitais chineses no setor de energia.

Por origem, esses capitais são predominan­temente estatais. Entre 2007 e 2017, segundo a CEBC, 87% dos valores investidos no Brasil tiveram como origem empresas com participaç­ão estatal; apenas 13% eram de origem privada.

É inegável que, qualquer que seja sua origem, esses investimen­tos – tanto em projetos novos, chamados greenfield, como em empreendim­ento já existentes, chamados brownfield – suprem a notória falta de capacidade de investimen­to da economia brasileira. Eles são particular­mente relevantes no momento em que o País enfrenta uma séria crise fiscal que corrói os investimen­tos públicos. Pode-se divergir de métodos e práticas do regime chinês, mas não se pode ignorar o papel que a economia e os investimen­tos chineses têm na sustentaçã­o da economia brasileira.

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