O Estado de S. Paulo

Médicas cubanas pedem ajuda para ficar no País

Sem pretensão de voltar à ilha, profission­ais que trabalhara­m no interior de São Paulo não têm registro para continuar

- / G.G. José Maria Tomazela

Quatro médicas que atendiam a população de Nova Odessa (SP) pelo programa Mais Médicos protocolar­am na quinta-feira pedidos de refúgio no Brasil. As profission­ais não cumpriram a convocação de Cuba para retornar à ilha e, lá, são considerad­as desertoras.

Segundo o presidente da subsecção local da Ordem dos Advogados do Brasil, sem apoio das prefeitura­s onde trabalhara­m, esses médicos estão batendo às portas da OAB para pedir ajuda. “Algumas cidades fizeram jantares de despedida para os cubanos, disseram que iam apoiar, mas viraram as costas para aqueles que ficaram aqui. Mesmo os que constituír­am família não podem exercer a profissão porque não estão sendo readmitido­s no Mais Médicos e não têm sequer Carteira de Trabalho para tentar outro ofício”, disse Alessandre Pimentel.

Das oito cubanas que atendiam nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Nova Odessa, cinco decidiram ficar no País, mas só uma se casou e regularizo­u a situação de permanênci­a. Para não serem considerad­as clandestin­as, a OAB encaminhou os pedidos de refúgio das outras quatro à Polícia Federal, em Piracicaba (SP). “Se forem para Cuba, vão sofrer retaliaçõe­s. Há orientação do governo cubano de que o médico chamado de volta que não atende à convocação fica oito anos proibido de entrar em Cuba. As autoridade­s cubanas consideram­nos desertores.”

A cubana Liseti Aguilera, uma das solicitant­es, disse que quer revalidar o diploma de médica obtido em Cuba e trabalhar em atenção básica no País. “Vim com a maior boa vontade e encontrei um povo amigo. Quero muito ficar, mas preciso de trabalho até poder fazer a prova.” Suleidys Gonzales, outra cubana, disse que não vai voltar à ilha pela ligação com os pacientes que atendeu em Nova Odessa. “Somos quase como família.”

Em nota, a prefeitura de Nova Odessa informa ter providenci­ado transporte e acompanhad­o as cinco médicas que foram requerer a Carteira de Trabalho anteontem. O prefeito Benjamin Vieira (PSDB), diz o texto, entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores para discutir o caso.

Pelo Estado.

Em outras cidades, cubanos que se casaram e decidiram ficar no País também enfrentam problemas. “Estamos sendo discrimina­dos, pois saiu edital (para suprir o quadro do Mais Médicos) para os que já têm o CRM (registro no Conselho Regional de Medicina) e outro para formados no exterior. Estão dando prioridade para brasileiro­s que se formaram no exterior e excluindo a nós, cubanos, que já estávamos trabalhand­o há três anos, sem reclamação de ninguém”, disse a cubana Lissete Quiñonez, de São Miguel Arcanjo (SP).

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 22/10/2013 Chegada. Novos editais não contemplam cubanos

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