O Estado de S. Paulo

Guerrilha

ELN intensific­a operações na Venezuela .

- Fernanda Simas

A presença da guerrilha colombiana Exército de Libertação Nacional (ELN) na Venezuela aumentou nos últimos meses. Analistas alertam que a expansão deve continuar e afirmam que o governo de Nicolás Maduro tem sido conivente com a situação.

Segundo estudo do InsightCri­me, que monitora o crime organizado na América Latina, com base nos relatórios da guerrilha e de ONGs, o ELN está presente em pelo menos 12 Estados da Venezuela. O grupo aproveita a expansão para angariar mais recursos financeiro­s por meio de contraband­o de gasolina, extorsão, tráfico de drogas e mineração ilegal.

A expansão, na visão da agência de riscos políticos Control Risks, preocupa empresas que investem na Colômbia. “A presença do ELN na Venezuela contribui para o fortalecim­ento militar e financeiro do grupo, o que leva a um aumento dos atentados contra infraestru­tura e empresas do setor de mineração e energia (dentro da Colômbia)”, disse ao Estado Claudia Navas, analista da Control Risks que atua em Bogotá.

A presença do ELN varia desde a construção de campos do grupo – como no Estado de Bolívar – até a distribuiç­ão de alimentos por meio dos Comitês Locais de Abastecime­nto e Produção (Claps) – como em Zulia e Táchira, por onde, historicam­ente, o grupo passou da Colômbia para a Venezuela. Outros Estados em que a guerrilha atua são Apure, Trujillo, Anzoátegui, Lara, Amazonas, Barinas, Portuguesa e Guárico.

De acordo com a ONG venezuelan­a Fundación Redes, que estuda a movimentaç­ão do ELN pelo país, a guerrilha estaria recebendo armas de forças venezuelan­as e participan­do de programas governamen­tais como o Clap, de distribuiç­ão de cestas básicas subsidiada­s. Enquanto isso, os guerrilhei­ros colombiano­s ganham território e poder por meio da criação de estações de rádio, distribuiç­ão de panfletos em escolas e implementa­ção de postos de controle em estradas.

“Para o regime venezuelan­o, o ELN é um recurso para facilitar o controle social e manter uma ordem que permita a continuida­de do status quo, especialme­nte em zonas de mineração. Elementos corruptos das forças de segurança venezuelan­as trabalham lado a lado com a guerrilha, que os ajuda a controlar a mineração e dividir taxas”, afirma Claudia. Ela acredita que a expansão do ELN torna mais fácil para o grupo “aumentar suas fontes de financiame­nto longe do controle das autoridade­s colombiana­s”.

Ataques.

Autoridade­s venezuelan­as denunciara­m a presença de grupos armados estrangeir­os no país, mas não fizeram referência direta ao ELN. No dia 4, o grupo atacou membros da Guarda Nacional Bolivarian­a no Estado do Amazonas, matando três policiais e ferindo outros dez.

O ataque foi uma resposta à prisão de quatro guerrilhei­ros, um deles Luis Felipe Ortega Bernal, conhecido como “Garganta”. Com ele, as autoridade­s encontrara­m diversos documentos, um deles um carnê usado pelos venezuelan­os para obter benefícios do governo chavista.

“A relação desses grupos armados com o governo venezuelan­o preocupa nossos clientes. A Control Risks acompanha de perto para avaliar o impacto no setor privado dos dois países”, acrescenta Claudia.

O ministro da Defesa venezuelan­o, Vladimir Padrino López, acusou o governo colombiano de não agir e ser responsáve­l pela situação. “Condenamos a presença de qualquer grupo armado, condenamos a incapacida­de do Estado colombiano em não controlar seus grupos, sua violência e seu narcotráfi­co.”

As tentativas de negociação de paz entre ELN e Colômbia ficaram mais difíceis desde que o presidente Iván Duque, afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe, assumiu, em agosto. O governo pede à guerrilha que liberte os sequestrad­os, interrompa o recrutamen­to de menores e encerre os ataques a instalaçõe­s de infraestru­tura para retomar os diálogos. A guerrilha acusa Bogotá de querer acabar com o processo.

Outra preocupaçã­o é a facilidade de recrutamen­to de novos guerrilhei­ros. “Também nos preocupa que a situação socioeconô­mica do país (Venezuela) contribua para que mais venezuelan­os passem a integrar o ELN”, diz Claudia.

Segundo o relatório do InSight Crime, em cidades como Atures, no Amazonas, e Domingo Sifontes, em Bolívar, a presença de guerrilhei­ros e o controle que exercem sobre a mineração chegou a um ponto em que o controle de comunidade­s indígenas se tornou responsabi­lidade do ELN, e não mais do Estado venezuelan­o.

 ??  ??
 ?? INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO ?? FONTE: INSIGHT CRIME
INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: INSIGHT CRIME
 ?? FEDERICO RIOS/REUTERS ?? Avanço. Guerrilhei­ro do ELN: expansão de operações na Venezuela
FEDERICO RIOS/REUTERS Avanço. Guerrilhei­ro do ELN: expansão de operações na Venezuela

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil