River e Boca tentam salvar a ‘final do mundo’
Insatisfeitos com jogo em Madri, arquirrivais decidem o título quase duas semanas após atos violentos em Buenos Aires
Os argentinos sempre sonharam com uma decisão da Libertadores entre River e Boca. “Final do mundo”, expressão talhada pelo esparramado orgulho portenho. O empate por 2 a 2 na ida foi belo. Expressão aprovada. Na volta, a violência da torcida, as falhas de policiamento e da organização transformaram o sonho da decisão inédita em uma vergonha nacional. A chuva de pedras soterrou o espetáculo. Duas semanas depois, jogadores insatisfeitos com a escolha de Madri torcem para que não ocorram novos atos de violência na partida de hoje, às 17h30 (horário de Brasília). Só querem que a ex-final do mundo acabe bem. Simples assim.
Santiago Solari, técnico do Real Madrid, anfitrião da partida, resumiu o sentimento da final que minguou. “A partida perdeu a transcendência”, disse o ex-jogador do River Plate.
A final de hoje encerra uma
fase na história do principal torneio sul-americano. A partir do ano que vem, ela será disputada em partida única com uma sede definida. O primeiro palco será Santiago, capital chilena.
Após o empate por 2 a 2 no longínquo 11 de novembro, na casa do Boca, o ganhador será campeão. Novo empate leva a decisão para a prorrogação. Se o empate persistir, pênaltis.
O caráter mítico e místico de Boca e River foi se perdendo a partir do dia 24 de novembro. Torcedores do River Plate jogaram pedras e garrafas no ônibus do Boca Juniors na chegada ao Monumental. Pablo Pavón precisou ser hospitalizado com graves ferimentos nos olhos. Jogo adiado para o dia seguinte.
No domingo, depois que os torcedores estavam no estádio, Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, concordou com o pedido do Boca de novo adiamento, pois os atletas não tinham condições de jogo. Depois de vários dias de incerteza, o Tribunal da entidade puniu o River Plate com multa de US$ 400 mil (R$ 1,54 milhão) e dois jogos com portões fechados. E Madri foi escolhida por interferência direta da Fifa sobre a Conmebol. Com as duas torcidas.
Ninguém gostou. O River se sentiu prejudicado, pois não jogará em casa; o Boca responsabiliza o rival pelo ataque e queria ser declarado campeão. Todos os argentinos queriam jogar em seu país. A alma do Superclássico se perdeu. “A decisão foi levada para fora da América do Sul por questões comerciais. O poder das instituições passou por cima da vontade dos jogadores”, avalia o sociólogo mexicano Fernando Segura, estudioso da violência no futebol argentino e membro da ONG Salvemos al Fútbol.
A preocupação com a segurança percorreu 10 mil quilômetros, a distância de Buenos Aires a Madri. Só se fala disso. Serão entre três e quatro mil policiais para coibir a ação de torcedores violentos. São esperados entre 400 e 500. Alguns foram deportados, como Maximiliano Mazzaro, líder de uma ala radical da torcida do Boca. “Tomara que seja um jogo de paz”, resumiu Dario Benedetto, atacante carrasco dos brasileiros.
O goleiro Franco Armani já pensa lá na frente e quer um fim para a história. Ontem, o Boca foi até o CAS (Corte Arbitral do Esporte) para ser declarado campeão. “Os jogos se ganham no campo. Depois de hoje, teremos um campeão e não se fala mais nisso”, definiu.