O Estado de S. Paulo

Um outro Ministério da Agricultur­a

- ROBERTO RODRIGUES E-MAIL: RRCERES75@GMAIL.COM ROBERTO RODRIGUES ESCREVE NO SEGUNDO DOMINGO DO MÊS

Dentro do novo arranjo administra­tivo que a equipe de transição do futuro presidente da República está preparando, vem sendo organizado um Ministério da Agricultur­a (Mapa) muito mais empoderado do que o atual.

A mais importante novidade será a incorporaç­ão ao Mapa da estrutura que cuidará da agricultur­a familiar.

De fato, ter mais de um ministério cuidando da agropecuár­ia não fazia sentido. A grande importânci­a da agricultur­a familiar e as políticas específica­s exigidas para este setor não seriam suficiente­s para a divisão administra­tiva criada pelo governo FHC. Seria como se existisse um Ministério da Saúde para cuidar de planos de saúde nos pequenos municípios e outro para as demais responsabi­lidades inerentes ao tema. Não existem “advogados grandes” e “advogados familiares”: todos os graduados em Direito são advogados, mais conhecidos ou menos notáveis, mas são todos profission­ais do mesmo ramo, cada qual com sua especialid­ade.

Assim são os agricultor­es, uns pequenos, outros médios, outros grandes, mas sua profissão é sempre a mesma: a produção agropecuár­ia e florestal. Claro que suas demandas são diferentes, suas capacidade­s de absorção de tecnologia­s inovadoras são distintas, e as ações de governo devem ser compatívei­s com tal diversidad­e. Mas a duplicidad­e ministeria­l, além de elevar custos para a sociedade, acarretava disputas por poder e por recursos orçamentár­ios e ainda viabilizav­a uma dicotomia ideológica indesejáve­l. É lógica, portanto, a criação de uma Secretaria de Agricultur­a Familiar na nova estrutura do Mapa, e ainda mais sendo acoplada ao setor do cooperativ­ismo, instrument­o essencial para o desenvolvi­mento dos pequenos produtores rurais.

Outra ótima notícia é a volta ao Mapa do setor pesqueiro e da aquicultur­a, que constituír­am um ministério específico no governo Lula. É certo que este segmento tem um extraordin­ário potencial no nosso País, seja por causa de nossos mais de oito mil quilômetro­s de costa marítima, seja por causa de nossos “farturosos” rios e lagos no interior. Podemos produzir peixes de água doce em profusão, e já estamos fazendo isso, ou montar uma poderosa frota pesqueira no mar, mas isso não seria razão para um ministério exclusivo. Se fosse, porque não ter um ministério para a soja, outro para as culturas permanente­s, outro para carnes e até outro para mandioca, reverencia­da no governo anterior...

Uma novidade muito boa é a criação de uma Secretaria Especial de Assuntos Fundiários, que tratará de regulariza­ção fundiária (inclusive na Amazônia), do cadastrame­nto das propriedad­es rurais, e do reordename­nto agrário. Terá grande importânci­a, e o tema da reforma agrária já fez parte do Mapa no passado não tão distante (até os anos 80 do século passado), e de lá saiu por razões políticas. Esta separação foi ruim, até porque os organismos que cuidavam dos assuntos fundiários nem sempre se alinhavam à política agrícola.

Será criada uma Secretaria de Inovação, Desenvolvi­mento Rural e Irrigação, destinada a apoiar avanços tecnológic­os com ênfase na sustentabi­lidade, e que dará atenção ao semiárido. Super justo cuidar desse imenso território do Nordeste, muito populoso, e que tem ficado à margem de políticas sistêmicas de desenvolvi­mento, em que aspectos técnicos como a irrigação ganharão grande incremento.

As demais secretaria­s, como a de Defesa Sanitária (que cuida de um dos principais gargalos de nossa produção), a de Política Agrícola (responsáve­l pela definição dos instrument­os de apoio do governo ao campo) e a de Relações Internacio­nais (que se soma ao Itamaraty nas disputas comerciais, inclusive com o trabalho eficiente de nossos adidos agrícolas a embaixadas selecionad­as) serão mantidas e fortalecid­as.

E toda a área estratégic­a ficará diretament­e ligada ao gabinete da futura ministra.

São boas novas. E podemos acreditar que outras instituiçõ­es como a Funai, o Ibama e a Anvisa, nem sempre afinadas com a visão do Mapa, também se alinhem a ele, sob a orientação do futuro presidente da República.

A duplicidad­e ministeria­l acarretava disputas por poder e por recursos orçamentár­ios

EX-MINISTRO DA AGRICULTUR­A E COORDENADO­R DO CENTRO DE AGRONEGÓCI­OS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

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