O Estado de S. Paulo

Damares defende produção em área indígena

Segundo futura ministra, uma das prioridade­s do próximo governo é regulament­ar leis que permitam exploração comercial dessas terras

- André Borges/

A futura ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, afirma que a regulament­ação de leis que permitam a exploração comercial de terras indígenas, com acordo direto entre os índios e produtores, será uma das prioridade­s do novo ministério, que abrigará a Fundação Nacional do Índio (Funai).

“Essa questão da produção em área indígena é justamente o maior problema da Funai hoje, mas temos visto que essas iniciativa­s de produção feita pelo próprio índio estão dando certo”, afirmou ao Estado. “A Funai já está fazendo isso hoje, já tem iniciativa­s pioneiras sendo executadas e, ao que me parece, com resultados muito positivos”, completou a advogada e pastora, alinhada com a bancada ruralista e com as propostas do presidente Jair Bolsonaro.

“Eu quero tratar o índio como ser humano, como um cidadão, que explore sua propriedad­e, o subsolo, dê royalties disso, plante ou arrende sua terra para que seja plantada”, declarou Bolsonaro no início da semana.

Organizaçõ­es socioambie­ntais criticam afirmam que o governo deveria cumprir o que diz a lei, ou seja, coibir atividades irregulare­s, em vez de regulament­ar uma atividade ilegal. Para o Conselho Indigenist­a Missionári­o (Cimi), as práticas do arrendamen­to de terras não passam de uma “tática de desterrito­rialização indígena no Brasil”. “Nós entendemos que o direito constituci­onal ao usufruto exclusivo dos povos em relação às suas terras deve ser respeitado e não pode ser modificado”, disse Cleber César Buzatto, secretário-executivo do Cimi.

Hoje, há dez terras indígenas no País onde o índio, por conta própria, cuida de sua terra, planta,

colhe e vende a sua produção sem nenhum tipo de interferên­cia de produtores externos. Nesses casos, a atuação é considerad­a legal e é até apoiada pela Funai, uma vez que se trata de uma escolha do próprio povo indígena.

Um total de 27 mil índios vivem hoje nessas terras. O caso mais emblemátic­o desses casos é o dos índios paresi, no Mato Grosso. No município de mesmo nome, cerca de mil índios plantam soja, feijão e milho em partes de uma terra indígena que chega a um total de 563 mil hectares. Até a década passada, atuavam de maneira irregular, em acordos com produtores, mas acabaram firmando um “compromiss­o de ajustament­o

de conduta” e passaram por uma fase de transição entre 2012 e 2018, até ficarem completame­nte independen­tes.

Das dez terras com atividades rurais tocadas pelos indígenas, cinco estão no Mato Grosso: Paresi, Rio Formoso, Utiariti, Tirecating­a e Irantxe. Juntas, elas somam 1,1 milhão de hectares, ou duas vezes a área do Distrito Federal. As outras cinco terras estão localizada­s em Santa Catarina (Chapecó), Mato Grosso do Sul (Cerrito, Potrero Guaçu) e Paraíba (Potiguara e Potiguara de MonteMór).

Exceção aos demais casos, voltados para o plantio de grãos ou criação de gado, os indígenas das duas terras localizada­s na Paraíba desenvolve­m atividades de criação de camarão, tendo se livrado de produtores externos entre 1999 e 2005, passando a cuidarem de suas atividades de forma independen­te.

A atual direção da Funai vê as iniciativa­s de forma positiva e afirma que caso os indígenas queiram trabalhar com substituiç­ão dessas culturas, vai apoiá-los.

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VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL-6/12/2018 Missão. Futura ministra Damares vai cuidar da Funai

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