O Estado de S. Paulo

Divisão entre motoristas enfraquece greve

Paralisaçã­o não está descartada, mas caminhonei­ros discutem prós e contra do movimento agora

- Renée Pereira Lu Aiko Otta

A divisão dos caminhonei­ros em relação a uma nova greve a partir de amanhã pode enfraquece­r o movimento. Ao contrário do que ocorreu em maio, quando a paralisaçã­o começou com apoio da população e até das empresas (do agronegóci­o e transporta­doras) por causa do aumento do preço dos combustíve­is, desta vez a categoria pode ter um movimento isolado, pautado pela decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux. Na semana passada, ele suspendeu a aplicação de multas para quem descumprir a tabela de preço mínimo de frete.

Nos grupos de Whatsapp, os motoristas estão reticentes quanto à efetividad­e da greve neste momento e discutem os prós e contras da medida. Entre aqueles contrários à paralisaçã­o, o argumento é que o período é de pouca carga e que a safra ainda não começou. Ou seja, uma greve agora teria pouco efeito no dia a dia das empresas e na economia. Eles também ponderam que o País esta às vésperas do início da administra­ção de Jair Bolsonaro. Muitos querem dar um tempo para o novo presidente começar os trabalhos, e quem sabe tomar decisões favoráveis à categoria.

Outros caminhonei­ros entendem que deixar passar em branco o revés sofrido com a decisão do STF pode demonstrar franqueza do grupo, já que a decisão tem sido vista como uma grande derrota dos motoristas. Para esses, a paralisaçã­o é a única solução. Numa tentativa de apaziguar os ânimos, o líder dos caminhonei­ros Wallace Landim, conhecido como Chorão, postou um áudio do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que será o novo ministro da Cidadania do governo Bolsonaro. Ele afirma que, apesar da decisão de Fux, a lei continua valendo e é ilegal não cumprir a tabela.

O deputado alerta, porém, sobre os riscos de a categoria perder força com uma greve agora. “Greve deve ser uma arma para ser usada em último caso.” O fato é que há uma insatisfaç­ão muito grande entre os caminhonei­ros, que aumentou com a liminar contra as multas. “A greve não está fora do radar, mas é o último recurso”, disse o presidente do Sindicato dos Transporta­dores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ijuí (RS), Carlos Alberto Litti Dahmer. “O movimento está bem dividido entre os que querem um confronto direto com o STF e os que acham que ainda tem espaço para avançar pela negociação.”

Mas a paralisaçã­o não está descartada, disse Alexandre Fróes, de Santa Catarina. “Estamos em conversa direta com o futuro ministro (da Infraestru­tura, Tarcísio Gomes de Freitas) e com o capitão (o presidente eleito, Jair Bolsonaro).”

Para Litti, há como avançar pela área administra­tiva. Ele defende que a Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT) acelere os trabalhos para implementa­r um sistema eletrônico de controle do pagamento do frete. Hoje existe um documento obrigatóri­o para os serviços de transporte por caminhão chamado Código Identifica­dor da Operação de Transporte (Ciot). A proposta é que ele só seja emitido se o preço do frete estiver de acordo com os pisos mínimos. Assim, não seria mais necessário fiscalizar em rodovias nem aplicar multas.

Indecisão

“O movimento está bem dividido entre os que querem um confronto direto e os que acham que há espaço para negociação.”

Alberto Litti Dahmer

PRESIDENTE DO SINDITAC

 ?? FELIPE RAU/ESTADÃO-23/5/2018 ?? Reticente. Para motoristas, momento é de pouca carga
FELIPE RAU/ESTADÃO-23/5/2018 Reticente. Para motoristas, momento é de pouca carga

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