‘Unicórnios’ se apressam para IPO
Empresas que valem mais de US$ 1 bi resistiam a lançar ações na Bolsa; mas chance de freada na economia leva à reavaliação dessa estratégia
Durante anos, Uber e Lyft deixaram de lado a ideia de negociar suas ações em Bolsa. Agora, elas estão acelerando esse processo. Diante de um volátil mercado de ações e da perspectiva de uma desaceleração econômica no ano que vem, os serviços de transporte avançaram com mais urgência para uma oferta pública inicial (IPO, sigla em inglês), disseram pessoas que têm conhecimento dos planos das empresas, mas não estavam autorizadas a falar publicamente.
Originalmente, a Lyft pretendia listar suas ações em meados de 2019, mas começou a se mover mais rapidamente pelo desejo de abrir capital antes da Uber, disseram as fontes. Na quintafeira, a empresa, avaliada recentemente em US$ 15 bilhões, anunciou ter ingressado com pedido de abertura de capital.
A Uber também acelerou seu relógio de IPO. A empresa já havia dito que estava pensando no outono de 2019 no Hemisfério Norte para entrar na Bolsa, mas teria reduzido o prazo por preocupações de que uma recessão possa estar chegando. A Uber agora pode fazer seu IPO já em abril. Os bancos de investimento disseram à companhia que ela poderia ser avaliada em até US$ 120 bilhões em uma oferta pública de ações.
Os movimentos da Lyft e da Uber indicam quão complicado pode ser decidir a hora certa de abrir capital no momento em que os mercados de ações têm sido turbulentos e o quadro econômico mais amplo, turvo. O cálculo para quando uma empresa lista publicamente suas ações é muitas vezes um alvo em movimento,
mas as ações da Uber e da Lyft terão peso especial com uma série de outras startups altamente valorizadas do Vale do Silício também se preparando para abordar os mercados públicos.
A Airbnb, empresa de locação online, planeja a abertura de capital em meados de 2019, embora não tenha definido um cronograma formal, disse uma pessoa com conhecimento do assunto. A Slack, empresa de colaboração online, está na mesma situação.
“As empresas que estavam falando sobre 2020 foram informadas de que a janela pode não estar aberta por tanto tempo quanto se pensava”, disse Barrett Daniels, sócio da Deloitte, especialista em IPOs. Segundo ele, a orientação que estava dando
às empresas é que “se um IPO estiver em seus planos, eu provavelmente estaria me preparando para fazer isso agora”.
Capítulo final. Qualquer estreia no mercado de ações dessas empresas será o capítulo final da era dos “unicórnios”, as startups
de capital privado avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Muitas dessas empresas, que nasceram após a recessão de 2008, pegaram carona na onda do uso dos smartphones, transformando companhias, como por exemplo, de táxis ou de entrega de compras, em serviços sob demanda.
Durante anos, muitos unicórnios não estavam com pressa de abrir capital porque poderiam crescer facilmente com dinheiro de investidores privados e longe do escrutínio de Wall Street. Em 2016, Travis Kalanick, cofundador do Uber e então diretor executivo, falou para muitas startups de tecnologia em uma conferência que sua empresa faria um IPO “o mais humanamente
possível”.
Mas isso mudou à medida que os investidores e os funcionários de empresas de tecnologia aumentaram a pressão para que as empresas abrissem capital e aumentassem seus lucros.
Para Uber e Lyft, a maior questão que enfrentam dos investidores do mercado de ações é o quanto seus negócios podem ser lucrativos. Expandir um serviço de passeio exige muito investimento para recrutar motoristas em várias cidades, por eemplo. A Uber disse no mês passado que perdeu US$ 1,07 bilhão no terceiro trimestre, quando passou a investir em novas áreas, como bicicletas, patinetes e remessas de cargas.
Oportunidade
“As empresas que estavam falando sobre 2020 (para fazer um IPO) foram informadas de que a janela pode não estar aberta por tanto tempo quanto se pensava.”
Barrett Daniels
SÓCIO DA DELOITTE