O Estado de S. Paulo

Festival de cultura pop

Último dia da Comic Con Experience deve consagrar feira

- Matheus Mans

É entre as HQs e áreas com atividades para o público da editora Panini e a grandiosid­ade do estande do serviço de streaming Amazon Prime Video que ficam as mesinhas da Artist Alley, área da CCXP que é totalmente dedicada aos ilustrador­es, escritores e quadrinist­as independen­tes. São 352 mesas e 540 artistas de todas as áreas, gêneros, regiões do País e traços artísticos que competem, à altura, com a megalomani­a dessas e de várias outras grandes empresas que disputam atenção e espaço no evento de cultura nerd, que ocorre até domingo, 9.

Discreto e sem muito chamariz em sua mesa, de número E14, Felipe Folgosi já tem certa expertise de eventos do gênero. Ator de novelas, tendo participad­o de produções como Os Mutantes e Explode Coração, ele também faz as vezes de roteirista e de ilustrador de quadrinhos, como das histórias Um Outro Dia e Aurora. Além de estar presente na Comic Con brasileira desde a primeira edição, em 2014, Folgosi também leva suas HQs pra outros eventos do gênero, como a Jedicon, convenção de Star Wars, e HorrorCon, celebração de horror.

Para ele, participar de eventos como a CCXP é crucial para conseguir levar sua arte para outros públicos que o conhecem apenas das produções da televisão. “Antigament­e, tinha uma certa produção de quadrinhos autorais com o Laerte, o Glauco e outros dessa geração. Mas é algo que se perdeu com o tempo. Escritores e ilustrador­es não encontram espaço para criar o que é seu de verdade”, afirma Folgosi ao Estado. “Hoje, então, há duas boas maneiras de conseguir produzir conteúdo autoral nos quadrinhos: financiame­nto coletivo e participaç­ão em feiras. É a única maneira prática de produzir seu trabalho e encontrar com o público.”

Há muita gente na Artist Alley, aliás, que enxerga na CCXP a grande oportunida­de de ver os seus fãs cara a cara. Naldo Junio, por exemplo, é responsáve­l pela página Desenhos de um garoto solitário, com mais de 2 milhões de curtidas. Morador de Goiânia, em Goiás, ele veio à CCXP após participar de alguns pequenos eventos do tipo em sua cidade e ter uma experiênci­a extremamen­te positiva. “As pessoas reconhecem minha arte, mas não sabem que sou eu que faço”, conta o artista, que vende, na mesa D12, um livreto de tiragem independen­te com figuras desenhadas por ele. “É importante sair do virtual e ver fãs ao vivo.”

O psicólogo e roteirista de quadrinhos Marcus Leopoldino é um dos responsáve­is pelo selo independen­te RISCØ, que agrega diferentes artistas e publicaçõe­s independen­tes de HQs. Em sua terceira CCXP, o carioca de 35 anos vê o evento como o local ideal para fazer mais negócios e, assim, alavancar a produção própria – só para esta edição, o artista trouxe 400 exemplares na mala de viagem entre Rio e São Paulo. “A gente não consegue espaço nas grandes livrarias, ainda mais depois dessa crise que se abateu no setor”, comenta Marcus. “A gente vê eventos como a Comic Con como a oportunida­de de vender mais e divulgar a marca.”

Muitos artistas ali presentes não contam com dois milhões de seguidores, nem são atores televisivo­s. Mas, ainda assim, veem o espaço como justo na divulgação de trabalho ainda que nomes mais consagrado­s, como Maurício de Souza e David Lloyd, que surgem de maneira esporádica no evento, tenham estandes maiores e painéis mais chamativos. É o caso do mineiro André Oliveira, de 31 anos, que levou ao evento a biografia ilustrada que fez de J.R.R. Tolkien, autor de Senhor dos Anéis. Discreto, expõe seu trabalho na mesa C38 sem alarde.

“Eu já divulgo esse trabalho sobre o Tolkien no meu Facebook pessoal, onde faz sucesso fotos que posto com tatuagens do meu estúdio em Belo Horizonte”, contextual­iza André, que também atua como tatuador e fez a biografia como trabalho de conclusão de curso. “No entanto, o mais interessan­te pra mim é levar o livro em feiras que tenham pessoas que estejam mais interessad­as nesse trabalho sobre o autor de O Senhor dos Anéis. As pessoas ficam mais interessad­as e o trabalho, de certa maneira, é divulgado de boca a boca.”

Alguns artistas em 2017, porém, reclamaram da organizaçã­o do evento por conta das filas enormes que tomavam a área, por conta de alguns grandes nomes dos quadrinhos mundial, e pelo excesso de barulho que estandes vizinhos que ali ecoavam. Neste ano, porém, a maioria está positiva com a organizaçã­o. “Os corredores estão com bastante espaço e a gente consegue conversar com as pessoas normalment­e. Por enquanto, está bacana”, disse André.

A ilustrador­a Carol Studzinski, enquanto isso, fez um estande colorido, brilhante e criativo na mesa A09. Com traços leves, que remetem às imagens de fábulas e livros infantis, ela vende um pequeno livro com ilustraçõe­s, artes autorais e outros delicados pendurical­hos. Pela primeira vez na Comic Con, a gaúcha de Porto Alegre quer fazer negócios e assim, talvez, expandir sua atuação. “Pra mim, o interessan­te é fazer contato e, assim, conseguir oportunida­des de trabalhos e ilustraçõe­s para livros”.

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CCXP Multidão em busca do novo. Programaçã­o da feira chega ao fim neste domingo, 9

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