O Estado de S. Paulo

Leilão de bens atrai como fonte de investimen­to

Modalidade de compra de propriedad­es tem preços abaixo do mercado, mas imóveis podem estar ocupados

- Jéssica Díez Corrêa

A crise financeira no País, a redução de lançamento­s no mercado e, ao mesmo tempo, o aumento do crédito imobiliári­o nos últimos três anos facilitara­m uma modalidade de venda que tem atraído pessoas físicas: o leilão de imóveis.

Com a queda no número de novos empreendim­entos, aumentou a busca por imóveis usados, com condições de pagamento atrativas. O crédito imobiliári­o, que era 2% do PIB em 2015, hoje é 9%, diz Celso Petrucci, economista-chefe do Sindicato da Habitação (Secovi-SP).

Além disso, por conta da mesma crise que fez com que caísse a quantidade de lançamento­s, aumentou a oferta de leiloados no mercado por conta de quem comprou imóvel e não conseguiu quitá-lo, afundando-se em dívidas.

Embora o leilão de imóveis tenha atraído quem queira moradia, virou também um jeito de fazer dinheiro, antes mais restrito a grandes investidor­es: o comprador adquire o imóvel por um preço bem inferior aos praticados no mercado, faz uma breve reforma e o revende por até o dobro do que pagou. O preço de leilão em geral é cerca de 40% abaixo do valor de mercado, mas pode chegar a 70%.

Foi esse formato de renda que atraiu o empresário Cláudio, cujo sobrenome prefere não divulgar, de 42 anos, que trabalha no ramo de loterias. Primeiro, ele arrematou um imóvel para moradia própria, uma casa em São Paulo, mas viu potencial na modalidade e comprou mais três bens, em São Paulo, no litoral e em Sorocaba, como forma de investimen­to.

Um desses imóveis, uma casa na Praia Grande (SP), foi comprado por R$ 122 mil, passou por uma reforma de cinco meses e foi revendido, recentemen­te, por R$ 220 mil. Segundo Cláudio, com todas as despesas na ponta do lápis, ele conseguiu lucro líquido de 35%. “Nenhuma outra aplicação financeira daria esse retorno, mesmo consideran­do todos os impostos e as despesas dos imóveis. E, querendo ou não, você tem um patrimônio em mãos, mesmo que o processo de venda demore.”

Facilidade­s.

Além de atrair pelo preço, o mercado de leilões também chama a atenção de investidor­es pelas facilidade­s de negócio. Antes, eles eram apenas presenciai­s, mas hoje grande parte também ocorre on-line. O primeiro passo para participar é se cadastrar no site de leiloeiras como Freitas Leilões, Zukerman Leilões, Sodré Santoro e Milan Leilões. O processo é simples: o interessad­o deve mandar documentos (como RG, CPF e comprovant­e de residência) e eventualme­nte ter de assinar um termo de adesão.

Os imóveis ficam dispostos no site do anunciante, com fotos e informaçõe­s como o endereço e o valor inicial. Durante um período, que costuma ser de 20 a 30 dias, o interessad­o pode dar lances. O lance mais alto leva a propriedad­e. Além do valor dado no lance, quem arremata deve pagar 5% de comissão ao leiloeiro, taxa estabeleci­da por um decreto federal de 1932.

Problemas.

No entanto, esse mercado envolve questões a serem observadas previament­e. A principal delas é saber se o imóvel em leilão está ocupado. Segundo Moacir de Santi, da Sodré Santoro, cerca de 85% das propriedad­es estão ocupadas. Daí, o comprador deve entrar com ação judicial para pedir a desocupaçã­o.

Os leiloeiros dizem que é comum a situação ser resolvida amigavelme­nte, mas, como há custos processuai­s, o interessad­o deve prever gastos com advogado. Ainda, as ações de desocupaçã­o podem durar meses ou anos.

Outro agravante é quando o banco leiloa uma propriedad­e antes de notificar o inadimplen­te, que pode pedir a anulação do leilão, alerta a advogada Paula Farias, especialis­ta em negócios imobiliári­os. “Se o devedor comprovar que não foi intimado, o juiz pode anular o leilão e dar novo prazo de pagamento. Se for pago, o imóvel volta para o dono inicial. Existe a possibilid­ade de reaver os valores judicialme­nte, mas não é a dor de cabeça que as pessoas desejam ter.”

Para evitar problemas, aconselha-se ler o edital do leilão, já que nele estão todas as informaçõe­s sobre o imóvel. Além disso, como o endereço está disponível, vale visitar a vizinhança, o imóvel (se estiver desocupado) e conversar com o síndico (em caso de condomínio), uma vez que o bem pode constar como ocupado no edital, mas já estar desocupado.

Paula Farias recomenda verificar a matrícula do imóvel, para conferir se não há débitos com a prefeitura. “O investidor visa o lucro. Um consultor pode ajudá-lo a saber quanto é preciso investir e de quanto vai ser o lucro.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Internet. Casa de 338 m2 em Pinheiros tem lance mínimo de R$ 1,98 milhão, na Zukerman

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