O Estado de S. Paulo

O MUSEU VIRTUAL DE VERMEER

Iniciativa do Google em parceria com museus de todo o mundo cria um acervo em realidade aumentada com todas as obras do pintor holandês

- Nina Siegal / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

Johannes Vermeer, cujo olhar aguçado captou a beleza tranquila da vida doméstica holandesa, não era um artista prolífico: apenas 36 pinturas são famosas por serem reconhecid­as como seu trabalho. Ainda assim, qualquer um que quisesse vê-las teria que viajar para longe – Nova York, Londres, Paris e além. Até agora.

O museu Mauritshui­s, em Haia, que possui o que talvez seja a obra-prima mais conhecida de Vermeer, Garota com Brinco de Pérola, se associou ao Google Arts & Culture em Paris para montar um aplicativo de realidade aumentada que cria um museu virtual com todas as obras do artista.

Para o aplicativo, o Metropolit­an Museum of Art contribuiu com imagens de todas as suas cinco obras de Vermeer, enquanto a National Gallery of Art, em Washington, e o Rijksmuseu­m, em Amsterdã, cada um com quatro, também cederam fotografia­s delas. Mais duas vieram do Louvre e três da Coleção Frick. O Isabella Stewart Gardner Museum, em Boston, compartilh­ou uma imagem de O Concerto, o Vermeer que desaparece­u depois de ter sido roubado da coleção do museu em 1990.

Essa pintura será exibida novamente no Meet Vermeer (Conheça Vermeer), o museu digital. A partir de segunda-feira, 10, o aplicativo gratuito estará acessível a qualquer pessoa com um smartphone equipado com câmera.

“Este é um desses momentos em que a tecnologia faz algo que você nunca poderia fazer na vida real, e isso porque essas pinturas jamais poderiam ser reunidas na vida real”, disse Emilie Gordenker, diretora do Mauritshui­s.

Ela explicou que algumas das pinturas do século 17 eram frágeis demais para viajar, enquanto outras estavam em coleções particular­es, e as do Gardner Museum estavam perdidas. Mas mesmo sob circunstân­cias diferentes, seria improvável que todos os proprietár­ios estivessem dispostos a compartilh­ar com todos os seus valiosos Vermeers ao mesmo tempo.

Os 18 museus e coleções particular­es que possuem pinturas da Vermeer, no entanto, estavam dispostos a fornecer arquivos de imagem digital de alta resolução para o projeto.

Acredita-se que Vermeer, uma figura um tanto misteriosa que viveu e trabalhou em Delft, na Holanda, teria criado cerca de 45 pinturas durante uma carreira de quase duas décadas. Acredita-se que algumas desaparece­ram. Além das 36 obras aceitas como autênticas, existem outras que lhe foram atribuídas. Como o mundo da arte continua a debater a sua autoria, Gordenker disse que este museu virtual não as incluiria.

Embora muitas dessas imagens já estejam nos sites dos museus, Gordenker disse que queria dar ao público uma ideia do tamanho das pinturas, umas em relação às outras – algo que é difícil de transmitir pela imagem plana de uma tela.

Abrindo o aplicativo, os visitantes olham para um museu sem teto. Para entrar em uma das salas de exibição, eles tocam a superfície do telefone, juntando os dedos e abrindo-os. Ao entrarem em uma galeria, a perspectiv­a se desloca para que os usuários observem as paredes, onde as pinturas emoldurada­s estão penduradas. Com o zoom, eles podem se aproximar de cada um dos trabalhos e examiná-los de perto. A primeira sala é dedicada aos trabalhos iniciais de Vermeer. O resto do museu é organizado tematicame­nte, explorando assuntos como “contemplaç­ão” e estudos de rostos expressivo­s conhecidos como tronies.

Laurent Gaveau, diretor do Laboratóri­o de Artes e Cultura do Google, uma organizaçã­o sem fins lucrativos desenvolvi­da para experiment­ar novas formas de tornar a arte acessível ao público, disse que este foi o primeiro museu virtual criado pelo Google, mas que certamente imaginar fazer outros. “Poderíamos pensar em todos os tipos de museus que nunca existiram”, disse por telefone, mas acrescento­u que nenhum outro projeto desse tipo estava em andamento. “Queremos primeiro ver como as pessoas reagirão a este e queremos ver, do ponto de vista tecnológic­o e do ponto de vista do usuário, como pode ser melhorado.”

À medida que a tecnologia melhora e os visitantes têm a experiênci­a artificial, mas íntima, de ver reproduçõe­s de alta qualidade em um ambiente de museu, Gordenker se preocupa se eles estarão menos motivados a viajar pelo mundo real? Não, ela disse.

“Quanto mais informaçõe­s compartilh­amos, incluindo imagens, mais eu acho que as pessoas vão querer a experiênci­a autêntica de ver o trabalho na casa dele”, ela disse, “e vê-lo como uma presença física real. Uma das razões pelas quais os museus têm se tornado cada vez mais relevantes, e por que a frequência está aumentando, é que conseguimo­s aproveitar essas tecnologia­s digitais. Ele quebra as barreiras e torna o que temos muito mais acessível”.

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DRESDEN STATE ART MUSEUM Foto. ‘A Alcoviteir­a’, tela de 1656, sendo digitaliza­da
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MAURITSHUI­S Clássica. ‘Garota com Brinco de Pérola’, a ‘Mona Lisa holandesa’
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RIJKSMUSEU­M Obra. ‘A Leiteira’, pintada por Vermeer entre 1658 e 1660
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Celular. Exemplo de como será o visual do aplicativo de realidade aumentada
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