O Estado de S. Paulo

Onze governador­es podem deixar Estados sem caixa

Pena para quem transmite cargo com rombo nas contas é de 1 a 4 anos, mas até hoje ninguém foi punido

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Onze governador­es correm o risco de deixar seus Estados sem dinheiro para os sucessores pagarem as contas, segundo levantamen­to feito pelo Estadão/Broadcast. A prática é proibida pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF), com pena de prisão de um a quatro anos. Até hoje, porém, nenhum governador foi responsabi­lizado. Segundo dados de outubro, os Estados com maior risco de deixar contas em aberto são Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Sergipe. São Paulo e Rio Grande do Norte fazem parte da lista, mas os dados são de agosto. A avaliação sobre o descumprim­ento da lei cabe aos Tribunais de Contas Estaduais, que contam com indicações políticas. “Não há controle pelos tribunais de contas”, alerta a secretária executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi.

A menos de um mês do fim do mandato, 11 governador­es correm o risco de deixar seus Estados sem caixa para cobrir despesas realizadas em sua gestão, segundo levantamen­to feito pelo ‘Estadão/Broadcast’. A prática é vedada pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF) e criminaliz­ada no Código Penal, sujeita a pena de um a quatro anos de reclusão, embora até hoje ninguém tenha sido responsabi­lizado formalment­e.

A punição foi incluída na lei para que os sucessores no cargo não encontrem uma situação de “terra arrasada” quando começarem os seus mandatos. A reportagem consultou técnicos do Tesouro Nacional para cruzar dados fornecidos pelos próprios Estados ao Ministério da Fazenda e chegar à disponibil­idade de caixa de cada um deles até outubro deste ano. Depois, foram estimados o volume de despesas deste ano que ficará para o próximo exercício (os chamados “restos a pagar”), uma vez que este valor também afeta as disponibil­idades financeira­s dos Estados.

Os chefes dos poderes precisam pagar todas as despesas feitas em seu mandato. Para isso, devem quitar todos os compromiss­os até 31 de dezembro do último ano da gestão ou deixar dinheiro em caixa para honrar as parcelas que ficarem para seu sucessor. No entanto, muitos já admitem publicamen­te que não terão dinheiro, por exemplo, para pagar o 13.º salário dos servidores. A fatura ficará para os governador­es eleitos. Se somadas as disponibil­idade de caixa dos governos estaduais, a estimativa do rombo que deve ficar para os eleitos é de R$ 78,4 bilhões.

No ritmo atual, correm o risco de ficar sem caixa para cobrir os gastos os governos de Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Sergipe. Também estão nesse grupo São Paulo e Rio Grande do Norte, mas esses Estados só apresentar­am até agora os dados da execução orçamentár­ia até agosto, de acordo com o sistema do Tesouro (leia o que dizem os governador­es na pág. B4).

Cortar despesas. Para barrar a ameaça de descumprim­ento da LRF, os governos estaduais precisaria­m conter despesas ou cancelar restos a pagar de anos anteriores. Mas a avaliação de técnicos do governo federal é de que essa é uma tarefa difícil, uma vez que o mais provável é que os serviços contratado­s já tenham sido prestados. Nesse caso, cancelar a despesa correspond­eria a uma espécie de “maquiagem”, com a criação de um orçamento paralelo. Por isso, o cenário pouco deve se alterar até o fim de 2018.

Além disso, as informaçõe­s que constam nos Relatórios de Gestão Fiscal (RGF) e de Execução Orçamentár­ia (RREO) usados pela reportagem para fazer o levantamen­to são declaratór­ias dos Estados. Isso significa que há chance de existirem “esqueletos” a serem desvendado­s pelos próximos governos.

A apuração do cumpriment­o ou não do artigo 42 da LRF é feita pelos Tribunais de Contas Estaduais (TCEs) no momento da análise das contas de governo e depende ainda de uma interpreta­ção jurídica do texto legal. Esses tribunais, preenchido­s por indicações políticas, até hoje não motivaram nenhuma condenação de governador por deixar rombo no caixa, embora a situação já tenha sido verificada em anos anteriores.

“O que está acontecend­o com os órgãos de controle? Quem se beneficia com esse processo? Temos que fazer essas perguntas. Não há o controle externo dos tribunais de contas”, alerta a secretária executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, que passou os últimos anos lidando com o problema.

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