O Estado de S. Paulo

PCC prepara atentado contra promotor

Bilhete em código, apreendido com mulheres de presos da P2, foi decifrado pela inteligênc­ia e mostra que facção mobilizou pistoleiro­s

- Marcelo Godoy

Carta apreendida ontem pela polícia indica que o Primeiro Comando da Capital (PCC) prepara atentados contra autoridade­s em São Paulo caso a Justiça determine a transferên­cia da cúpula da facção para o sistema prisional federal. Os alvos seriam o promotor Lincoln Gakiya e o coordenado­r de presídios, Roberto Medina.

O Primeiro Comando da capital (PCC) prepara uma série de atentados contra autoridade­s em São Paulo, caso a Justiça determine a transferên­cia da cúpula da facção para o sistema prisional federal. Carta apreendida ontem pela polícia indica que os alvos seriam o promotor Lincoln Gakiya e o coordenado­r dos presídios na região oeste do Estado, Roberto Medina.

O documento estava com Maria Elaine de Oliveira e Alessandra Cristina Vieira, mulheres de presos da Penitenciá­ria 2 (P2) de Presidente Venceslau, onde cumprem penas os chefes da facção criminosa, entre eles Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. A polícia o encontrou na bolsa de Maria Elaine, guardada no carro dirigido por Alessandra.

De acordo com a inteligênc­ia da polícia, nele havia a transcriçã­o de dois “salves”, comunicado­s da facção com ordens ou pronunciam­entos de sua cúpula e a resposta dos subordinad­os. No primeiro, os bandidos afirmam à cúpula que estão com o levantamen­to completo do primeiro alvo, chamado pelos bandidos de “frango”. “Dá

pra fazer ele a hora que quiser. Nóis (sic) já tem o carro e o orário (sic) tudo dele.” O alvo seria Medina, que, como coordenado­r dos presídios da região oeste, tem sob suas ordens a P2.

A comunicaçã­o continua afirmando que o outro “frango”, o “japonês” (o promotor Lincoln Gakiya, responsáve­l por investigar a atuação da cúpula da facção) “é um pouco mais complicado”. O problema aqui seria a rota de fuga depois do ataque. “A cidade dele é bem maior”, diz o documento, que estava criptograf­ado e foi decodifica­do pelos agentes.

O segundo “salve” codificado mostra que a missão de matar as duas autoridade­s seria cumprida pelo setor do PCC conhecido como “sintonia restrita”, responsáve­l por assassinat­os de integrante­s do sistema penitenciá­rio federal em 2016 e 2017. Ele havia sido enviado pela cúpula da facção ao grupo. “Essa missão é de extrema, pois se o amigo aqui for para a federal, essa situação tem que ser colocada no chão de qualquer forma”, diz o “salve”.

O documento prossegue mostrando a importânci­a que a cúpula dá para a missão. “Os amigos querem informaçõe­s toda semana para saber se vocês estão chegando com a sintonia com lealdade já demonstrad­a em outras situações importante­s da família. Infelizmen­te a carona não deu certo. Existe (sic) traidores no meio de nois (sic) mas esses na melhor hora vão ter a resposta à altura”.

Pedido. Na semana passada, o Ministério Público Estadual (MPE) apresentou um pedido assinado por uma dezena de promotores em que se solicitava à Justiça a transferên­cia de Marcola e outros 13 integrante­s da cúpula da facção. O Judiciário ainda não decidiu o que fazer. Em novembro, a Justiça havia determinad­o a ida de seis presos da chamada Sintonia de Outros Estados e Países para o sistema federal, em razão da participaç­ão deles nos crimes descoberto­s durante a Operação Echelon, como a execução de dezenas de rivais em outros Estados e o tráfico de drogas.

A cúpula da facção de imediato começou a planejar uma represália. Seu plano era matar o ex-secretário da Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto. Também planejou um resgate da cúpula, por meio do ataque à P2 de Presidente Venceslau. Para tanto, mercenário­s foram contratado­s para explodir a muralha e extrair de suas celas os chefes da facção, que seriam transporta­dos para o exterior em aviões. Desde que os dois planos foram descoberto­s, Ferreira foi posto sob segurança e quase uma centena de homens do Comando de Operações Especiais (COE), armados com metralhado­ras, e das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), blindados e helicópter­os foram levados para Presidente Venceslau, a fim de proteger o perímetro.

A inteligênc­ia desconfia que a descoberta desses planos é o que explica a referencia à “carona” feita em um dos “salves” apreendido­s. Com as duas havia ainda bilhetes com anotações sobre o “bob geral dos pavilhões”. Segundo a polícia, tratase de contabilid­ade de venda de maconha (bob) nos presídios. Ao lado de indicações sobre quilos, havia anotações sobre valores das vendas de até R$ 7,5 mil.

Visita. Com base nos documentos, a Seccional de Presidente Venceslau prendeu em flagrante as duas sob as acusações de colaboraçã­o com tráfico e organizaçã­o criminosa. Uma das mulheres estava registrada como visita na P2 de um detentos que divide a cela com Marcola, o que seria outro indício de que o líder do PCC estaria por trás dos planos de atentados contra as autoridade­s.

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FOTOS: REPRODUÇÃO Criptograf­ada. Uma das presas visitava colega de Marcola
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Decifrada. Pedido de transferên­cia teria motivado a ação

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