O Estado de S. Paulo

João de Deus já é investigad­o por MP e polícia

Promotoria diz ter encaminhad­o denúncias no 1º semestre; paulista fez relato ao ‘Estado’

- Lígia Formenti / BRASÍLIA Sarah Teófilo ESPECIAL PARA O ESTADO / GOIÂNIA / COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA

O Ministério Público de Goiás informou que encaminhou, no início do ano, acusações de abuso sexual recebidas contra o médium João de Deus para a Delegacia Estadual de Investigaç­ões Criminais (Deic). O Estado obteve relato de uma estudante paulista que pretende procurar a Justiça.

O Ministério Público de Goiás e a Polícia Civil já apuram há meses denúncias de abuso sexual envolvendo o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus. No sábado, o programa da TV Globo Conversa com o Bial trouxe dez relatos. O Estado obteve um depoimento de uma estudante de São Paulo, que atuava como guia em Abadiânia e vai à Justiça.

A paulista, que preferiu não se identifica­r, pretende procurar esta semana o Ministério Público para formalizar a denúncia. “Não quero dinheiro, quero Justiça”, afirmou. Os abusos teriam ocorrido desde 2016, em quatro ocasiões distintas (veja ao lado). Antonia (nome fictício), de 28 anos, foi a Abadiânia pela primeira vez em 2015. Depois, começou a atuar como guia. Sua responsabi­lidade era levar pessoas de São Paulo para o centro espiritual.

Segundo o Ministério Público, outras denúncias foram encaminhad­as à Polícia Civil do Estado de Goiás ainda no primeiro semestre. O delegado-geral da Polícia Civil, André Fernandes de Almeida, confirmou ao Estado que foram abertas investigaç­ões em outubro pela Delegacia Estadual de Investigaç­ões Criminais (Deic). “Ele está sendo investigad­o há 45 dias, bem antes de o caso ter sido levado à TV.” O delegado contou que a apuração foi transferid­a para a Deic, na capital goiana, pela complexida­de da situação e pelo risco de haver intimidaçã­o das testemunha­s, além do fato de ser uma delegacia especializ­ada.

Mais mulheres procuraram distritos neste fim de semana, alegando terem sido vítimas de João de Deus. Ao Fantástico, da Rede Globo, o MP disse ontem ter relatos de assédio desde 2010 e deve criar uma força-tarefa para analisar todas as queixas. O programa levantou acusações desde os anos 1980.

Consideran­do reportagen­s da TV Globo e do jornal O Globo, feitas nos últimos três meses, há mais de 30 relatos de mulheres entre 30 e 40 anos. Sempre em um espaço particular, a portas trancadas, elas alegam ter sido obrigadas a praticar

atos sexuais e teriam o corpo tocado por João de Deus para “uma limpeza espiritual”.

Espiritism­o. Após as acusações, a Federação Espírita Brasileira (FEB) veio a público para destacar que “o Espiritism­o

orienta que o serviço espiritual não deve ocorrer isoladamen­te, apenas com a presença do médium e da pessoa assistida”. “Não recomenda, portanto, a atividade de médiuns em trabalho individual, por conta própria”, afirmou, em nota oficial.

A reportagem não conseguiu localizar João de Deus ontem para tratar do caso. À TV Globo, seu advogado, Alberto Toron, destacou que ele “recebe com indignação as denúncias”, e nega qualquer ilegalidad­e.

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PARIS FILMES Médium. Federação espírita critica consultas individuai­s; João nega qualquer ilegalidad­e

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