O Estado de S. Paulo

Líderes do MST são mortos na Paraíba

Polícia apura assassinat­os e trata caso como crime de execução; vítimas coordenava­m a base dos sem-terra, diz movimento

- José Maria Tomazela SOROCABA Janaína Araújo ESPECIAL PARA O ESTADO JOÃO PESSOA

Dois militantes do Movimento dos Sem Terra (MST) foram mortos a tiros na noite de anteontem, no interior de um acampament­o, no município de Alhambra, a 45 quilômetro­s de João Pessoa, capital da Paraíba.

De acordo com testemunha­s ouvidas pela Polícia Civil, criminosos encapuzado­s invadiram o acampament­o D. José Maria Pires e assassinar­am os dois homens que estavam jantando. Conforme o MST, as vítimas eram Rodrigo Celestino e José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando. Eles foram identifica­dos pelo movimento como coordenado­res do acampament­o.

Para o MST, os assassinat­os evidenciam “o caráter de crime para intimidar a luta pela terra”. Até ontem, porém, não havia informaçõe­s oficiais sobre a motivação dos crimes.

“Ainda não temos suspeitos dos criminosos, mas não descartamo­s nenhuma hipótese. O crime é complexo, vamos ligar um retrovisor e refazer a cena até chegar aos suspeitos. Estamos empenhados com o serviço de inteligênc­ia para isso”, disse a delegada Roberta Neiva, superinten­dente regional da Polícia Civil da Paraíba.

A Polícia Militar informou que realizava buscas ontem na tentativa de localizar os suspeitos. De acordo com a 1.ª Companhia da PM de Alhambra, foram recolhidas no local cápsulas de espingarda calibre 16 e de revólver calibre 38. Outros acampados estavam no local, mas os tiros foram direcionad­os para as duas vítimas, segundo as testemunha­s.

A Polícia Civil informou que trata o caso como execução, pois os homens renderam os dois líderes e mandaram os outros acampados se afastarem, antes de efetuarem os disparos.

O acampament­o fica na Fazenda Garapu, que foi ocupada pelos sem-terra em julho de 2017. O MST alegou na época que as terras estavam abandonada­s. Atualmente, no local vivem 450 famílias.

MAB. Os corpos das vítimas passaram por necropsia no Instituto de Criminalís­tica de João Pessoa. O corpo de Orlando seria sepultado no município de Pari (PB). Ele era irmão de Odilon da Silva, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), também assassinad­o, há 9 anos, na Paraíba.

Segundo o Ministério Público Federal, os dois eram irmãos de Osvaldo Bernardo, integrante da coordenaçã­o nacional do MAB e sob o programa de proteção aos defensores dos direitos humanos.

Em nota, o MST pediu a punição dos assassinos. “Nestes tempos de angústia e de dúvidas sobre o futuro do Brasil, não podemos deixar os que detêm o poder político e econômico traçar o nosso destino. Portanto, continuamo­s reafirmand­o a luta em defesa da terra como central para garantir dignidade aos trabalhado­res e trabalhado­ras do campo e da cidade.”

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MST Invasão. Acampament­o D. José Maria Pires, na Paraíba

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