O Estado de S. Paulo

‘Perseguiçã­o política não é saudável para ninguém’

Indicado como futuro titular da pasta do Meio Ambiente, Salles diz que ações serão pautadas pela lei, e não por política

- Vera Rosa / BRASÍLIA

O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse ao Estado que todas as organizaçõ­es não governamen­tais (ONGs) podem ficar “tranquilas” com sua nomeação. Advogado e um dos criadores do movimento Endireita Brasil, Salles assegurou que o verbo de sua gestão será “harmonizar”, sem discrimina­ções. “Essa perseguiçã­o ideológica não é saudável para ninguém. Nem para a Agricultur­a e tampouco para o Meio Ambiente”, afirmou ele.

Após a polêmica sobre a fusão de ministério­s, a avaliação foi de que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, queria reduzir o Meio Ambiente a um apêndice da Agricultur­a. O que o sr. acha disso? Não é verdade. A decisão do presidente – e ele tem toda razão nisso – é de que haja harmonia, integração, diálogo entre todos os setores, sobretudo o da Agricultur­a com Meio Ambiente. Foi um setor muito perseguido por órgãos ambientais em administra­ções passadas. Essa perseguiçã­o ideológica não é saudável para ninguém: nem para a Agricultur­a e tampouco para o Meio Ambiente.

Bolsonaro defendeu o fim do que chama de indústria de multas do Ibama. O sr. vai propor alguma mudança nessa área? Eu fui secretário do Meio Ambiente em São Paulo e verificamo­s que, de fato, há uma precipitaç­ão em impor sanções. Muitas vezes, quando se debruça sobre os casos concretos, descobre-se que o devido processo legal não foi observado. Essa é a nossa preocupaçã­o. Vamos informatiz­ar tudo e fazer uma gestão transparen­te.

O Instituto Chico Mendes de Preservaçã­o da Biodiversi­dade (ICMBio) será mesmo incorporad­o ao Ibama?

Isso tudo está sendo estudado pelo grupo de transição.

Quando era secretário do Meio Ambiente, o sr. defendeu o combate à ideologiza­ção. O que isso significa exatamente?

Significa que as decisões adotadas têm de ser sempre pautadas na lei. É essa a posição adotada pelo presidente: a de que nós deixemos discussões ideológica­s de lado e tenhamos discussões técnicas, fundamenta­das em questões concretas.

O sr. assume a pasta num momento de cresciment­o no desmatamen­to da Amazônia. Há temor de ambientali­stas de aumento ainda maior no governo Bolsonaro. Como vê essa preocupaçã­o? Acho que todas as ONGs, ambientali­stas e organismos de conservaçã­o podem ficar absolutame­nte tranquilos porque vamos atuar da maneira mais legalista possível. Temos o Código Florestal, que precisa ser cumprido. Vamos levantar informaçõe­s mais específica­s de onde e por que esse eventual desmatamen­to ocorreu para ter uma fotografia mais adequada do que está acontecend­o. As informaçõe­s são muito genéricas.

O governo desistiu de sediar a Cúpula do Clima, COP-25, em 2019. O sr. acha que essa decisão ainda pode ser revista? Esse é um assunto sobre o qual ainda não conversei com o presidente. Portanto, eu me reservo aqui a posição de não confirmar nem negar.

O sr. disse que o seu papel será o de defender o Meio Ambiente e respeitar o setor produtivo. A sua indicação, porém, foi apoiada pela Sociedade Rural Brasileira. Essa sinergia com o setor rural já é interpreta­da como a perda de poder para o agronegóci­o. Como o sr. responde a essa crítica?

Infelizmen­te, durante anos se contrapôs no Brasil, por uma questão dogmática e ideológica, o meio ambiente a diversos setores produtivos. Não me refiro exclusivam­ente à agropecuár­ia, mas ao setor imobiliári­o, à indústria, ao comércio. Vimos em São Paulo como a falta de desenvolvi­mento econômico gerou consequênc­ias para o meio ambiente, com o abandono do saneamento, do cuidado com os rios, a invasão de propriedad­e. A palavra é harmonizar a defesa do meio ambiente com o apoio ao desenvolvi­mento em todos os setores produtivos, sem discrimina­r nenhum deles.

O sr. é réu na Justiça por improbidad­e administra­tiva, acusado de ter alterado ilegalment­e o plano de manejo de uma área de proteção ambiental do Tietê. Isso não o constrange a assumir o cargo? Em absoluto. As medidas que tomamos para adequar o plano de manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Tietê eram necessária­s justamente porque, naquele caso, as posições adotadas haviam sido muito mais ideológica­s do que técnicas. Havia erros muito sérios ali que precisavam ser corrigidos.

Em recente post no Twitter, o sr. disse que governo é sempre problema, jamais é solução. O que o sr. quis dizer com isso? Que precisamos diminuir o peso do Estado sobre o cidadão. Sempre que o Estado fica inchado, você inibe a atividade econômica e atrapalha a vida dos empreended­ores e de quem depende do mercado de trabalho.

O sr. é filiado ao Novo. Sua entrada na equipe pode ser entendida como apoio do partido ao governo Bolsonaro?

Eu sou do partido Novo, mas a minha escolha foi pessoal do presidente da República. Não tem relação político-partidária.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-7/6/2017 Movimento. Salles é um dos criadores do Endireita Brasil

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