O Estado de S. Paulo

‘Emissões de papéis do agronegóci­o devem ter retomada em 2019’

Para sócia da Vert, nova regulament­ação deve levar CRAs às carteiras do investidor comum

- Gabriel Roca

Depois de um ano com queda expressiva nas emissões, o mercado de Certificad­os de Recebíveis do Agronegóci­o (CRAs) deve ser reaquecido em 2019. Segundo Fernanda Mello, sócia-fundadora da Vert – primeira securitiza­dora a fazer uma oferta pública de CRA no País –, o governo não deve ter espaço para oferecer subsídios expressivo­s para a cadeia do agronegóci­o, o que deve despertar maior interesse na captação de recursos por parte das empresas do setor.

Produto de renda fixa, o CRA é um título de dívida ligado ao setor agrícola e emitido por uma empresa para captar recursos no mercado. Para quem compra, o papel é isento de Imposto de Renda e costuma oferecer uma rentabilid­ade elevada quando comparado a outros pares no mercado, embora não tenha cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o que deve ser levado em conta por parte do investidor. Já para quem emite, é uma maneira mais barata de captar recursos, fugindo de juros elevados cobrados por instituiçõ­es financeira­s.

No entanto, o produto havia praticamen­te sumido do mercado. Segundo o buscador de investimen­tos Yubb, apenas três corretoras tinham CRAs disponívei­s no fechamento do mercado da última sexta-feira. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que, até outubro de 2018, o volume de emissões deste tipo de papel recuou 55% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Para a sócia-fundadora da Vert, a diminuição das emissões em 2018 é explicada pela queda na taxas de juros e pela incerteza eleitoral. Porém, ela acredita que, além da necessidad­e de alternativ­as para o custeio do agronegóci­o, o mercado também será favorecido por uma mudança na regulament­ação dos produtos que ocorreu este ano – a fim de beneficiar pequenos investidor­es. A seguir os principais trechos da entrevista:

As emissões de CRA tiveram uma redução expressiva em 2018. O que pode explicar o fato? Alguns fatores combinados. As taxas de juros caíram bastante no início do ano. Os CRAs que eram emitidos antes com rentabilid­ade menor do que o CDI passaram a ter menos demanda do investidor que buscava um retorno maior. No meio de tudo isso, havia uma expectativ­a da regulament­ação, que não tinha saído ainda. E ainda havia as eleições. No final do ano, após o resultado eleitoral, você já percebe uma recuperaçã­o.

Qual a perspectiv­a para 2019? A gente acredita que a retomada deva continuar no ano que vem. Do lado do tomador, você tem um governo com restrição de gastos, que precisa de crédito para custeio. O Plano Safra hoje já não atende a necessidad­e do produtor. E, como o agronegóci­o é um dos setores que mais cresce na economia, a tendência é que o subsídio atenda cada vez menos. O que eu vejo é o mercado de capitais ganhando força como forma de tomada de recursos para o setor do agronegóci­o.

Como o investidor pode voltar a ser atraído pelo produto com os juros achatados? Você já teve uma melhora no mercado em geral, principalm­ente na Bolsa, após as eleições. O prêmio ali já não é mais tão alto como no começo do ano. Quem estava saindo de renda fixa para a Bolsa se questiona de quanto espaço ainda tem ali para valorizaçã­o. Então, os investidor­es passam a olhar de volta para os ativos de renda fixa.

Os CRAs estão muito presentes nos portfólios dos investidor­es qualificad­os. O produto pode chegar também à carteira do pequeno investidor? Acredito que sim. Em 2018, houve uma mudança na regulament­ação que trata deste ponto. Antes, você só podia vender para o investidor qualificad­o. Agora você pode vender para o varejo, desde que você siga algumas condições determinad­as. Então, veremos emissões chegando a esse outro público, que não só o private.

Como analisar o risco de um CRA?

É preciso analisar com cautela. O CRA é só uma casca. O risco é do lastro que está embaixo, que pode ser de um devedor único ou de centenas de devedores, por exemplo. O investidor ou mesmo o próprio distribuid­or tem de analisar o produto e ver qual é adequado para cada público. O investidor não deve alocar uma fatia muito grande da renda nele.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Fundadoras. Fernanda Mello, Martha de Sá e Victoria de Sá

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