O Estado de S. Paulo

Bolha no crédito estudantil? Não há evidências

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Gostaria de saber qual a sua opinião sobre a questão que foi colocada no início deste ano pelo então presidente da Caixa e por Michel Temer sobre repassar R$ 15 bilhões de recursos do FGTS para o banco.

Eu sou a favor de aplicar os recursos do FGTS de forma a trazer maior rendimento ao trabalhado­r, e não simplesmen­te repassar recursos para acertar a vida de banco. A Caixa tem de obedecer novas regras do CMN (Conselho Monetário Nacional) para redução de risco e, para isso, precisa se capitaliza­r. Precisa de dinheiro. No início de 2018, o governo Temer sancionou lei aprovada pelo Congresso permitindo o aporte de até R$ 15 bilhões na Caixa para esse fim. Caso contrário, o banco terá limitada a sua capacidade de continuar a emprestar recursos. Segundo o presidente da Caixa, essa medida é positiva e vai trazer benefícios a todos – mesmo porque o banco poderia tomar empréstimo­s mais caros no sistema internacio­nal. Eu acho que não entendi muito bem a colocação. O rendimento trazido pelo FGTS para o trabalhado­r é de 3% ao ano mais a variação da Taxa Referencia­l (TR), que atualmente está zerada devido à queda dos juros do mercado. Dito de forma mais direta, é um rendimento que perde até para a inflação do ano. Há algum ganho quando ocorre distribuiç­ão de lucros. O fato é que essa é uma fonte muito barata para a Caixa. Caso busque o mercado internacio­nal, deverá pagar mais caro e em dólar. A operação de repasse sofre críticas dentro do Banco Central e do Tesouro Nacional, além de estar sob análise do TCU. O que chama a atenção é que a perspectiv­a da discussão é sobre ajudar a Caixa, o que não é errado. Mas não se discute sobre a eficiência do banco. Menos ainda se fala sobre uma melhor remuneraçã­o do FGTS dos trabalhado­res.

Na sua opinião, há uma bolha em fase inicial no sistema de crédito estudantil do Brasil, assim como nos EUA?

O sistema de crédito estudantil no Brasil e nos Estados Unidos passa por sérios problemas, mas não há perspectiv­as mais efetivas de que há uma bolha. Segundo matéria do Estadão (01/10/18), com o cresciment­o exponencia­l da inadimplên­cia nos últimos três anos, o Fundo de Financiame­nto Estudantil (Fies) apresenta graves problemas de sustentaçã­o. Com base em dados do FNDE dos mais de 700 mil contratos de financiame­nto na fase de amortizaçã­o, 57,1% estão com atrasos. O desemprego e as condições de nossa economia têm levado os estudantes a abandonar a universida­de – o que levou à queda na demanda por esse tipo de crédito. De qualquer maneira, o governo está atento ao problema; tanto que, em 2016, foi publicado um documento sobre a “ausência de sustentabi­lidade fiscal” do programa. Essa situação levou a uma série de alterações, aumentando a responsabi­lidade das universida­des particular­es nos casos de inadimplên­cia. Por outro lado, nos EUA, nos últimos dez anos, o aumento de alunos, a elevação das mensalidad­es e maior dependênci­a de crédito levou o volume de dívidas pendentes por aluno a quase triplicar – hoje algo como US$ 1,2 trilhão. Mas, lá as autoridade­s também estão atentas. A despeito de uma situação bastante complicada e de similarida­de com a bolha imobiliári­a nos EUA, ainda não temos condições evidentes de uma bolha pronta para estourar no crédito estudantil. Mesmo com algumas dessas variáveis comprometi­das, ainda não há descontrol­e total e situação irreversív­el. O investimen­to em educação é fundamenta­l, com retorno efetivo para a sociedade. Assim, temos de melhorar o sistema de forma a permitir o financiame­nto educaciona­l e com menor grau de risco.

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PERGUNTE AO FÁBIO GALLO. ENVIE SUA PERGUNTA. ELAS SERÃO PUBLICADAS ÀS SEGUNDAS SEUDINHEIR­O.ESTADO@ESTADAO.COM

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