O Estado de S. Paulo

Cade pede punição de 16 empresas por cartel de trens em SP

Investigaç­ão aponta R$ 9,4 bilhões de contratos fraudados entre 1998 e 2013

- Lorenna Rodrigues /BRASÍLIA

A Superinten­dência-Geral do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) pediu a condenação de 16 empresas e 52 pessoas físicas por formação de cartel em licitações de trens e metrô em São Paulo, informa Lorenna

Rodrigues. O esquema teria afetado pelo menos 27 licitações em 11 projetos de metrô – 8 no Estado de São Paulo – que incluem construção, extensão e reforma de linhas, além de compra e manutenção de trens. Concorrênc­ias de Minas, Rio Grande do Sul e Distrito Federal também estão na mira. Segundo a investigaç­ão, companhias montaram grande conluio de 1998 a 2013 – período em que o Palácio dos Bandeirant­es foi ocupado por Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. A estimativa é de que os contratos fraudados somem R$ 9,4 bilhões. Se condenadas, as empresas poderão ter de pagar multas bilionária­s. O governo do Estado diz que Metrô e CPTM são vítimas.

A Superinten­dência-Geral do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) pediu a condenação de 16 empresas e 52 pessoas físicas por formação de cartel em licitações de trens e do Metrô em São Paulo. De acordo com o parecer, obtido com exclusivid­ade pelo Estadão/Broadcast, o esquema atingiu também concorrênc­ias de metrôs de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

O Cade é o órgão responsáve­l por investigar e punir infrações contra a concorrênc­ia no País. O conselho atua apenas na esfera administra­tiva. Os investigad­os ainda podem ser punidos criminalme­nte pela Justiça. Até o momento, apenas uma pessoa foi condenada em casos relacionad­os ao cartel do trem (mais informaçõe­s nesta página).

A investigaç­ão do Cade concluiu que as empresas montaram um grande conluio entre 1998 e 2013. O cartel afetou pelo menos 27 licitações em 11 projetos de metrô – 8 no Estado de São Paulo – que incluem a construção, extensão e reforma de linhas e compra e manutenção de trens. A estimativa do Cade é que os contratos fraudados somem R$ 9,4 bilhões.

No processo, aberto há quatro anos, o órgão viu irregulari­dade na atuação da Alstom, Bombardier, CAF Brasil, Hyundai-Rotem, Mitsui, Tejofran, Iesa, MGE, MPE, Procint, Serveng-Civilsan, TC/BR, Temoinsa, Trans Sistemas, ConsTech e Balfour. Se condenadas, as empresas pagarão multas de até 20% do faturament­o do ano anterior à instalação do processo, em 2013, o que deverá levar o valor das multas para a casa dos bilhões.

“O conjunto probatório reunido permite concluir que as empresas e pessoas físicas celebraram ajustes com a finalidade de fixar preços, dividir mercado e ajustar condições, vantagens ou abstenção em licitações públicas relativas a projetos de metrô, trens e sistemas auxiliares”, afirma o relatório.

Pela lei, a superinten­dência é responsáve­l por investigar cartéis e recomendar a punição ou arquivamen­to dos envolvidos, que é a quem caberá agora julgar o caso. Historicam­ente, os sete conselheir­os que compõem o tribunal tendem a seguir a recomendaç­ão da superinten­dência, principalm­ente nos casos mais sensíveis e de repercussã­o, como é o caso do cartel do metrô.

Arquivamen­to. A superinten­dência sugeriu o arquivamen­to do processo apenas em relação a uma das empresas, a Caterpilla­r, por falta de provas. A Siemens, que delatou o esquema ao Cade em 2013, está livre de punição.

O caso também é investigad­o criminalme­nte, na esfera penal, em que é apurado possível crime de corrupção de agentes públicos. Até agora, o Ministério Público fez 14 denúncias no esquema, incluindo pessoas ligadas à CPTM e às empresas por envolvimen­to no cartel. Em junho deste ano, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) extinguiu uma das denúncias por entender que houve prescrição, o que o MP contesta. Apenas uma pessoa foi condenada em um dos processos.

Esquema. As investigaç­ões apuram o período em que o Estado de São Paulo foi governado pelos tucanos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. O parecer afirma que o cartel começou a atuar em 1998, nos preparativ­os para a licitação para construção da linha 5 (Lilás) do metrô de São Paulo, orçada à época em R$ 512 milhões. As empresas, de acordo com o parecer, combinavam de antemão quem participar­ia e quem ganharia cada licitação, os valores das propostas apresentad­as por cada empresa e a subcontrat­ação.

No início dos anos 2000, o esquema foi expandido para licitações de projetos de manutenção de trens da Companhia Paulista de Trens Metropolit­anos (CPTM) e para concorrênc­ias do órgão que compraram ao todo 384 carros. O conluio também fraudou contrataçõ­es para a extensão da Linha 2-Verde em 2005, e, entre 2008 e 2009, do projeto de reforma das linhas 1Azul e 3-Vermelha.

Defesas. O governo do Estado, através da Secretaria dos Transporte­s Metropolit­anos, disse que o Metrô e a CPTM são vítimas do esquema e colaboram com o processo. Procurada, a Siemens disse que está cooperando com as autoridade­s.

Contatada, a Hyundai Rotem disse que acredita que o Cade “ao final reconhecer­á que a empresa não praticou nenhum ilícito”. A Tejofran disse que “aguarda o julgamento com a certeza de um desfecho favorável e frisa a idoneidade de suas práticas”. A Serveng Civilsan negou que tenha cometido “qualquer irregulari­dade” e disse que "respeita a legislação em vigor”. A Bombardier e a Alstom afirmam que não foram informadas sobre a recomendaç­ão e não comentaram.

À reportagem, as empresas CAF, MPE, Temoinsa disseram que não iriam se manifestar. As empresas MGE e Mitsui não retornaram o contato até a conclusão desta edição. A reportagem não conseguiu contato com as empresas Iesa, Procint, TC/BR, Trans Sistemas de Transporte e Balfour, nem com Lucy Elisabete Teixeira.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO–21/10/2016 Trens. Projeto de reforma da Linha 3, em São Paulo, é uma das obras investigad­as

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