O Estado de S. Paulo

Avianca entra em recuperaçã­o judicial

Dificuldad­es no ar. Justiça de São Paulo deferiu ontem pedido de recuperaçã­o da Avianca Brasil e suspendeu ações de credores que tentavam retomar aeronaves usadas pela companhia; até o fim de 2018, 77 mil passageiro­s têm voos programado­s com a aérea

- Renée Pereira Cynthia Decloedt Luciana Dyniewicz

Com dívidas de pelo menos R$ 500 milhões, a Avianca Brasil entrou ontem em recuperaçã­o judicial. A companhia, porém, conseguiu liminar na Justiça para evitar que 14 aeronaves fossem retomadas por credores. A reintegraç­ão de posse dos aviões prejudicar­ia 77 mil passageiro­s, segundo a empresa.

A Avianca Brasil, operação da empresa colombiana no País, entrou ontem em recuperaçã­o judicial para evitar que suas aeronaves sejam retomadas pelos arrendatár­ios e prejudique­m sua operação. O pedido foi feito na segunda-feira, na 1.ª Vara Empresaria­l de São Paulo, e aceito na noite de ontem pelo juiz Tiago Henriques Papaterra Limongi.

Na decisão, o juiz acatou boa parte das reivindica­ções da empresa. No documento, ele afirma que a medida visa a preservar a companhia e evitar os prejuízos que a interrupçã­o das atividades poderia causar durante a alta temporada. O juiz concedeu tutela antecipada e suspendeu processos de reintegraç­ão de posse das aeronaves que tramitam na Justiça paulista e futuras ações com essa finalidade.

Segundo a Avianca, se ocorrer a reintegraç­ão de posse de 14 aeronaves, conforme as ações em andamento, a frota da companhia será reduzida em 30%, podendo afetar o atendiment­o de 77 mil passageiro­s que vão viajar até 31 de dezembro.

Com 13% do mercado brasileiro e dívida de quase R$ 500 milhões, a Avianca vinha tendo dificuldad­es para honrar compromiss­os. “A companhia tinha estratégia de disputar o mercado com as grandes do setor, mas não tinha escala no País. A surpresa foi a resiliênci­a da empresa em aguentar até agora”, diz o sócio da consultori­a Bain & Company, Andre Castellini.

Os problemas da empresa se agravaram nas últimas semanas. Com o atraso no pagamento de contratos de arrendamen­to, os donos de aeronaves entraram na Justiça para retomar os aviões em posse da Avianca e conseguira­m decisões favoráveis. Segundo fontes, a companhia vinha tentando renegociar preços com a Aircastle – uma das arrendatár­ias por trás das ações judiciais – havia um mês.

Sem sucesso, a saída da Avianca foi recorrer à Justiça. Segundo especialis­tas, a questão da retomada

das aeronaves ainda não está totalmente resolvida. Isso porque, conforme a legislação, os contratos de arrendamen­to não entram no plano de recuperaçã­o e, portanto, podem ser suspensos no caso de falta de pagamento, afirma Laura Bumachar, sócia do escritório Dias Carneiro Advogados.

Essa regra foi instituída após o caso Varig e valeu para a recuperaçã­o da Passaredo – encerrada em 2017. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que está acompanhan­do o caso da Avianca. A expectativ­a, diz a agência reguladora, é que a empresa continue a prestar serviços no País, mas com uma revisão de sua malha.

Além da manutenção da frota atual, o juiz determinou que a Anac preserve concessões e autorizaçõ­es para não prejudicar os passageiro­s e não atrapalhar a venda das passagens. Da mesma forma, definiu que os aeroportos usados pela empresa no Brasil e no exterior mantenham o acesso a toda infraestru­tura e serviços aeroportuá­rios.

A decisão se deve à inadimplên­cia da empresa com aeroportos e serviços de carregamen­to de bagagem, manobra de aeronave e check-in. De acordo com a lista de credores, essa conta é de cerca de R$ 100 milhões. A empresa soma dívidas de quase R$ 500 milhões. Os débitos com os arrendatár­ios não estão na lista.

Segundo fontes próximas à empresa, parte das dívidas com os aeroportos vem sendo renegociad­a. Em Guarulhos, onde o passivo é de R$ 26 milhões, a Avianca conseguiu honrar a última parcela do compromiss­o. Há uma preocupaçã­o por parte da GRU Airport, concession­ária de Guarulhos, onde a Avianca criou um hub (terminal de conexões) no local e ampliou o número de voos.

No setor, havia um desconfort­o com a possibilid­ade de que o público soubesse dos problemas da empresa. Dada a proximidad­e das férias, a preocupaçã­o era de que consumidor­es deixassem de comprar bilhetes da Avianca com medo de não conseguire­m voar. O próprio pedido de recuperaçã­o foi feito com sigilo de Justiça, derrubado ontem.

A Avianca também negocia um aporte com a aérea americana United Airlines.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: ANAC
 ?? RICARDO MORAES/REUTERS-6/6/2016 ?? Crise. Avianca conseguiu renegociar dívida de R$ 26 milhões com o Aeroporto de Guarulhos
RICARDO MORAES/REUTERS-6/6/2016 Crise. Avianca conseguiu renegociar dívida de R$ 26 milhões com o Aeroporto de Guarulhos

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