O Estado de S. Paulo

‘A dívida é elevada e há o desafio da Previdênci­a’

Futuro secretário da Fazenda de São Paulo, Meirelles aposta em privatizaç­ões para atrair investimen­tos privados

- / A.F. e COLABOROU PEDRO VENCESLAU

Futuro secretário da Fazenda no governo João Doria, o ex-ministro Henrique Meirelles afirmou que São Paulo oferece condições para atrair capital de investidor­es privados para projetos de concessão e privatizaç­ão. Questionad­o sobre a possibilid­ade de vender o controle da Sabesp, ele disse que o assunto pode ser avaliado. “Mas, se não privatizad­a em termos de controle, certamente uma entrada de capital maior dentro da estrutura da empresa”, afirmou ele, ao Estado. Segundo ele, entre seus desafios no novo cargo está a administra­ção da dívida pública e da Previdênci­a dos servidores estaduais. Meirelles, que teve 1% dos votos nas eleições presidenci­ais, elogiou a “sinalizaçã­o” dada pelo governo Bolsonaro na economia – de abertura da economia e busca de equilíbrio fiscal. “Está seguindo o que lançamos.”

O senhor disse que será secretário para poder continuar servindo ao País. Por que demorou, então, para se decidir?

Para poder conhecer o escopo do trabalho. Tinha de avaliar com cuidado para não tomar nenhuma decisão por impulso.

O senhor já tomou conhecimen­to da situação financeira do governo paulista?

Dentro do Ministério da Fazenda, já tinha uma certa visão. Fiz lá todo o processo de renegociaç­ão das dívidas dos Estados, inclusive de São Paulo. Não se trata de um Estado com situação financeira como alguns de insolvênci­a prática, não, mas a dívida (pública) é elevada e existem desafios grandes, como na Previdênci­a estadual.

Mas há um modelo de Previdênci­a complement­ar desde 2011. Pode modificá-lo?

Vou avaliar isso, ainda mais diante de uma reforma da Previdênci­a federal. Precisamos gerar recursos aqui para controlar a dívida e investir naquilo que é importante, como segurança, saúde e educação. Isso além das oportunida­des muito grandes que temos em investimen­tos de infraestru­tura.

O governo João Doria herdará um pacote de R$ 23 bilhões em possíveis concessões. O senhor pretende implementá-lo?

Acho que esse será o grande momento de São Paulo para atrair recursos da iniciativa privada. Nesse tempo todo que viajei para falar com investidor­es sobre o Brasil, sempre percebi uma disponibil­idade grande para investir em São Paulo em função de sua capacidade de consumo, parque industrial, mão de obra qualificad­a, canais de distribuiç­ão. Não só em concessões, mas privatizaç­ões. Principalm­ente rodovias, portos, alguma coisa na área de energia.

O senhor é favorável à privatizaç­ão da Sabesp?

Vamos estudar. E ver até que ponto isso pode ser necessário e positivo. Mas, se não privatizad­a em termos de controle, certamente uma entrada de capital maior dentro da estrutura da empresa. É uma direção, mas vamos aguardar.

O ex-governador Geraldo Alckmin reclamava que o governo Temer não repassava recursos para obras importante­s no Estado, como Rodoanel e Metrô. Agora, do outro lado do balcão, como fará para buscar essas verbas?

Evidenteme­nte que existiam razões técnicas para essa não liberação e de diversas ordens, como disponibil­idade de recursos da União e enquadrame­nto dos projetos. Não existe essa decisão no Ministério da Fazenda de repassar para cá e não para lá. Há normativas e vamos nos debruçar sobre isso e negociar com o novo governo. Agora, é o que dizíamos lá atrás: no momento em que se aprova a Previdênci­a, se abre espaço para uma série de coisas como novos repasses para os Estados.

Como avalia o superminis­tério da Fazenda criado por Bolsonaro? E Paulo Guedes?

Acho uma boa escolha. A sinalizaçã­o que tem dado é certa, de abertura da economia, privatizaç­ão, desestatiz­ação e, basicament­e, com propostas que já fizemos de equilíbrio fiscal, reformas. Está seguindo o que lançamos.

O senhor vê uma continuida­de?

Acredito que sim.

O senhor não conseguiu aprovar a reforma da Previdênci­a mesmo negociando com bancadas e deputados um a um. Acha que a decisão de Bolsonaro de tratar com frentes parlamenta­res facilita ou dificulta?

O País amadureceu essa discussão. Não se vai começar do zero. Vamos aguardar, ver como vai ser agora. Eu fazia reuniões com partidos, mas também com bancadas, como a ruralista e a da mulher. Mas estivemos muito próximos de aprovar a Previdênci­a, em 2017. Questões políticas e depois a intervençã­o federal

no Rio de Janeiro foram supervenie­ntes. (na área de segurança)

Na campanha, o senhor afirmava que o então candidato Jair Bolsonaro não sabia nada de economia. Agora presidente, Bolsonaro pode não saber de economia?

Sim, desde que ele tenha uma equipe boa e tome as decisões adequadas. Vou lembrar aqui o jogador Didi e sua frase histórica: “treino é treino, jogo é jogo”.

O senhor foi chamado para o governo Bolsonaro?

Não. Fui chamado pelo Doria mesmo.

“A sinalizaçã­o que (Bolsonaro) tem dado é certa, de abertura da economia, privatizaç­ão, com propostas que já fizemos de equilíbrio fiscal, reformas. Está seguindo o que lançamos.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Fazenda. Henrique Meirelles vai chefiar a pasta no governo de Doria em SP

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