O Estado de S. Paulo

Justiça canadense manda soltar sob fiança chinesa presa a pedido dos EUA

Crise internacio­nal. Diretora da Huawei pagará US$ 7,5 milhões e aguardará em Vancouver análise do pedido de extradição americano; consultor canadense da ONG Internatio­nal Crisis Group é preso na China nove dias após detenção de Meng Wanzhou

- VANCOUVER, CANADÁ /

Um juiz canadense concedeu ontem liberdade sob fiança, de US$ 7,5 milhões (R$ 29,2 milhões), para uma executiva da empresa chinesa Huawei, Meng Wanzhou, após três dias de audiência. Meng deve aguardar no Canadá a análise de um pedido de extradição para os EUA, onde é acusada de fraude. A decisão foi tomada horas após autoridade­s da China prenderem o ex-diplomata canadense Michael Kovrig, consultor da ONG Internatio­nal Crisis Group.

O governo chinês havia ameaçado o Canadá com represália­s após a prisão de Meng, mas ainda não está claro se os dois casos têm relação direta. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, confirmou a prisão do ex-diplomata na segunda-feira à noite e disse que está levando “muito a sério” a situação. “Estamos em contato direto com os chineses”, disse Trudeau.

O ministro de Segurança Pública do Canadá, Ralph Goodale, afirmou que não sabe o motivo da prisão de Kovrig e, por isso, não era possível dizer se a detenção do ex-diplomata tem relação com a prisão da executiva da Huawei.

O Departamen­to de Estado americano, entretanto, manifestou sua preocupaçã­o pela prisão do canadense e acredita que há o risco de a China adotar retaliaçõe­s contra americanos. Fontes disseram que o governo do presidente Donald Trump estuda emitir um alerta a empresário­s e turistas americanos que viajam a China.

A empresa de tecnologia chinesa é acusada pelos EUA de violar as sanções americanas contra o Irã por meio da Skycom, uma companhia com sede em Hong Kong – os chineses garantem que a Huawei e a Skycom são empresas diferentes.

O presidente Trump disse ontem que considera intervir no caso contra a executiva da Huawei se isso ajudar na segurança e nos interesses dos EUA e ajudar a obter um acordo comercial com a China.

O juiz ordenou que Meng entregue seus passaporte­s, use uma tornozelei­ra eletrônica, só saia acompanhad­a de seguranças e permaneça em uma de suas casas em Vancouver das 23 horas às 6 horas. Ela deixaria a prisão ainda ontem. Desde que foi detida, a executiva precisou ser hospitaliz­ada uma vez para tratar de uma crise de hipertensã­o.

“Ainda me sinto mal e temo que minha saúde se deteriore enquanto eu estiver presa”, disse ela em depoimento. Meng argumenta que sofreu vários problemas de saúde, incluindo uma cirurgia para tratar um câncer de tireoide, em 2011.

As autoridade­s americanas suspeitam que o grupo chinês exportou, desde 2016, produtos de origem americana para o Irã e outros países submetidos a sanções de Washington. A empresa já estava na mira dos serviços de inteligênc­ia americanos, que a consideram uma ameaça para a segurança nacional e a associam a espionagem internacio­nal. Os smartphone­s a preços acessíveis da Huawei conquistar­am uma boa fatia de mercado global, mas a empresa enfrenta diversos reveses em grandes economias ocidentais em razão das preocupaçõ­es com segurança.

ONG. Por meio de nota, o Internatio­nal Crisis Group disse que trabalha para obter a libertação de Kovrig. A ONG, fundada em 1995, tem como objetivo “prevenir conflitos e propor políticas pacíficas em todo o mundo”.

Kovrig serviu como diplomata na Embaixada do Canadá em Pequim entre 2014 e 2016. Ele também trabalhou em Hong Kong e na ONU. Em 2016, ajudou a organizar a visita do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, à China.

Recentemen­te, Kovrig escreveu um artigo sobre as relações entre China e EUA no jornal Miami Herald. No texto, ele alertava para a deterioraç­ão das relações bilaterais, que estão no pior desde 1989, segundo ele.

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REUTERS
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Tensão. Meng foi solta horas após Kovrig ser preso

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