O Estado de S. Paulo

EM ABADIÂNIA, ESPERA PELO RETORNO DO MÉDIUM

Ontem, o clima na Casa Dom Inácio de Loyola era de tensão controlada

- ENVIADA ESPECIAL/ABADIÂNIA / LÍGIA FORMENTI

Mesmo depois das denúncias de abuso sexual, funcionári­os e voluntário­s da Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, mantêm a confiança em João de Deus. “É muito difícil fechar uma igreja”, afirmou Chico Lobo, que há mais de uma década dedica parte do seu tempo às atividades desenvolvi­das no centro. “Muita gente está falando, mas precisa provar”, disse.

Lobo listou uma série de argumentos para afastar as suspeitas contra o líder religioso. “Ele fica sempre acompanhad­o, não há na casa esse banheiro com grandes dimensões, como se disse em parte dos depoimento­s e, além disso, há câmeras por vários lados.” Indagado se as câmeras de vigilância ficavam também na área reservada para o descanso de João de Deus, ele negou. “Mas os atendiment­os individuai­s são muito poucos: ninguém quer que ele faça isso. Se não, serão sempre dois atendiment­os.”

Ontem, fiéis de outros Estados e do exterior começaram a chegar à cidade para as sessões de tratamento espiritual, que se iniciam hoje. A movimentaç­ão, no entanto, caiu. “O movimento está, sim, menor do que antes da reportagem. Mas é preciso lembrar: quem cura não é o homem, é a divindade”, dizia Norberto Kist, que há 29 anos vive em Abadiânia e atua como intérprete de pessoas que vêm da Alemanha em busca de tratamento espiritual.

A expectativ­a nesta terça era saber se o médium participar­ia das sessões nesta semana. Tradiciona­lmente, ele trabalha entre quarta e sexta, pela manhã e à tarde. Funcionári­os garantiam a presença do líder. “É o previsto”, informou Lobo, que não vê queda de procura, mas uma redução de movimento normal no fim de ano.

Ontem, o clima na Casa era de uma tensão controlada. Os fiéis que perambulav­am pelo conjunto de construçõe­s, em cores branca e azul, se recusavam a falar. A recomendaç­ão era a de que apenas guias e funcionári­os se manifestas­sem. Fiéis permanecia­m em pequenos grupos, fazendo meditações, leituras, sessões com cristais.

Defesa. Anteontem, João de Deus foi a São Paulo para conversar com seu advogado, Alberto Toron. Na ocasião, o defensor rechaçou veementeme­nte as denúncias e disse que ele retornaria para a cidade, para o trabalho normal. Ontem, o Estado não conseguiu falar novamente com o advogado.

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ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO Movimento pequeno. Tradiciona­lmente, ele trabalha no local entre quarta e sexta-feira

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