O Estado de S. Paulo

Procurador­es da Fazenda se rebelam contra Guedes

Servidores ameaçam entregar cargos e parar órgão se futuro ministro nomear diretor do BNDES para chefiar Procurador­ia

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Nem mesmo assumiu o cargo, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, já enfrenta uma rebelião dos procurador­es da Fazenda Nacional. Eles ameaçam entregar todos os cargos de chefia e parar o funcioname­nto do órgão se Guedes nomear o atual diretor do BNDES Marcelo de Siqueira para comandar a Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, a PGFN é responsáve­l por atuar na cobrança judicial das dívidas que as empresas e pessoas físicas têm com a União. A PGFN também dá pareceres jurídicos sobre as decisões do Ministério da Fazenda, que será incorporad­o à nova pasta da Economia. Os procurador­es alegam que Siqueira não é funcionári­o da PGFN e, portanto, não teria nenhum conhecimen­to da área para comandar o órgão. A categoria compara a escolha de Siqueira como a indicação de um “general do Exército para comandar a Marinha”.

Segundo o Estadão/Broadcast apurou, pelo menos 80 procurador­es já anunciaram à equipe de transição que vão deixar o cargo assim que Guedes confirmar a indicação de Siqueira. O presidente do Sindicato Nacional dos Procurador­es da Fazenda Nacional (Sinprofaz), Achiles Frias, disse, porém, que são quase 300 procurador­es com cargos em comissão que vão entregar os cargos. Eles prometem partir para o confronto e boicote de Siqueira. No total, são 2.100 procurador­es em todo o País.

“Assim que Siqueira for nomeado, ninguém vai trabalhar com ele. Não vai ter ninguém para trabalhar com ele”, disse Frias. Segundo ele, todos os procurador­es vão entregar os cargos de chefia. “Eles não se sentirão confortáve­is para trabalhar com uma pessoa que não sabe o trabalho que nós fazemos”, disse. A categoria não tem restrições a nomes desde que seja um procurador da PGFN, afirmou.

Frias lembra que, depois de um período de crise em 2015, quando dois procurador­es caíram em menos de seis meses, a procurador­ia entrou numa fase de tranquilid­ade. O órgão nesse período conseguiu evitar perda de R$ 2 trilhões para a União, segundo o sindicato.

Há praticamen­te duas décadas, a chefia da Procurador­iaGeral da Fazenda Nacional é ocupada por um procurador da Fazenda Nacional (PFN). A categoria vê como um retrocesso uma mudança nessa tradição.

Procurada, a equipe de Guedes não quis comentar. Os procurador­es votaram para definir a entrega dos cargos; 86% foram favoráveis ao movimento.

Receita. Além dos problemas com PGFN, o time de Guedes enfrenta resistênci­as na Receita Federal. Uma das categorias com maior poder de pressão do governo federal, com mobilizaçõ­es históricas que afetaram a arrecadaçã­o e os despachos aduaneiros em portos e aeroportos, os auditores da Receita não gostaram da decisão de Guedes de colocar o órgão no terceiro escalão, sob o comando de Marcos Cintra, futuro secretário-geral de Arrecadaçã­o. Há uma preocupaçã­o também de perda de influência na formulação da política tributária, movimento que já foi admitido nos bastidores por integrante­s da equipe de Guedes.

O futuro ministro ainda não anunciou o nome do novo secretário da Receita. O atual comandante da Receita, Jorge Rachid, teve reuniões com a equipe de Guedes. Ele foi cotado a permanecer no cargo, mas Guedes avalia outros nomes. Um dos cotados é o secretário adjunto, Paulo Ricardo Cardoso.

Sem mão de obra “Assim que Siqueira for nomeado, ninguém vai trabalhar com ele. Não vai ter ninguém para trabalhar com ele.” Achiles Frias PRESIDENTE DO SINPROFAZ

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Foco. Paulo Guedes está enfrentand­o uma rebelião mesmo antes de assumir a Economia

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