O Estado de S. Paulo

Presidente eleito defende lei trabalhist­a menos rígida

Presidente eleito diz que artigo da Constituiç­ão que trata de direitos como férias e 13.º salário está ‘engessado’

- Julia Lindner / BRASÍLIA

Em reunião com parlamenta­res do DEM, Jair Bolsonaro criticou ontem a atuação do Ministério Público do Trabalho e defendeu que a lei trabalhist­a se aproxime da informalid­ade. “No que for possível, sei que está engessado no artigo sétimo (da Constituiç­ão), mas tem que se aproximar da informalid­ade”, disse. O artigo trata dos direitos dos trabalhado­res, como 13.º, férias e licençamat­ernidade.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, voltou ontem a criticar a legislação trabalhist­a e defendeu aproximá-la da “informalid­ade”. Em reunião com parlamenta­res do DEM, também criticou a atuação do Ministério Público do Trabalho e de ambientali­stas em contraposi­ção ao avanço do agronegóci­o.

“No que for possível, sei que está engessado no artigo sétimo (da Constituiç­ão), mas tem que se aproximar da informalid­ade”, disse durante reunião com a bancada do DEM no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O artigo 7.º citado por Bolsonaro trata dos direitos dos trabalhado­res urbanos e rurais, como férias, 13.º salário, descanso semanal remunerado, licença-maternidad­e, seguro-desemprego e fundo de garantia. Ele, porém, não detalhou se pretende mudar algum desses pontos.

Na semana passada, Bolsonaro disse que “hoje em dia continua muito difícil ser patrão no Brasil”, mesmo após o Congresso aprovar projeto do governo Michel Temer que muda trechos da Consolidaç­ão das Leis do Trabalho (CLT). Ele também afirmou ser a favor de um “aprofundam­ento” da reforma trabalhist­a em seu governo, com medidas mais favoráveis aos empregador­es para estimular novas contrataçõ­es, mas não especifico­u de que forma isso seria feito. A ideia também foi apresentad­a de maneira genérica a parlamenta­res do MDB e do PRB.

Bolsonaro disse mais uma vez “ser patrão no Brasil é um tormento”. “Eu poderia ter microempre­sa, mas sei das consequênc­ias depois se meu negócio der errado. Devemos mudar isso daí.”, afirmou.

Ao se referir ao Ministério Público do Trabalho (MPT), Bolsonaro afirmou que “se tiver clima a gente resolve esse problema”. “O Ministério Público do Trabalho, por favor, se tiver clima, a gente resolve esse problema. Não dá mais para continuar quem produz sendo vítima de uma minoria, mas uma minoria atuante”, disse.

Ele também criticou a decisão do MPT de pedir multa de R$ 100 milhões da empresa Havan e de seu dono, Luciano Hang, por suposta coação de funcionári­os durante período eleitoral para apoiarem Bolsonaro.

Ainda defendeu que os patrões e as empresas sejam tratados como amigos. “Nós queremos que tenha fiscalizaç­ão sim, mas que chegue no órgão a ser fiscalizad­o e que a empresa seja atendida como amiga. Vê o que está errado, faz observaçõe­s, dá um prazo, e depois volta pra ver se a exigência foi atingida. E aí multa. Não fazer como está aí. Ser patrão no Brasil é um tormento.”

Na conversa com o DEM, Bolsonaro reforçou seu alinhament­o com os interesses do agronegóci­o e foi aplaudido em pelo menos duas ocasiões. Ele afirmou que percebeu que acertou na escolha de Ricardo Salles para o comando do Meio Ambiente quando viu a crítica de entidades.

O presidente eleito também voltou a defender o fim da demarcação de terras indígenas e quilombola­s. “Já acabou esse tempo”, declarou.

“Não posso acordar e ver que via portaria se iniciou demarcação de terras. Isso vai deixar de existir. Isso mudou. Agora nós somos governo. Mas temos que estar unidos”, declarou.

Ao lado da futura ministra da Agricultur­a, Tereza Cristina, Bolsonaro afirmou que ela também acumularia a função de ministra do Meio Ambiente, mas recuou após perceber que teria

“problemas fora do Brasil”. “Demos um passo atrás. A gente namora, fica noivo e casa. Não namora e casa. Recuamos e veio o garoto Ricardo Salles. Quando vi entidades ambientais criticando ele, eu falei: ‘poxa, Onyx (Lorenzoni), acho que acertamos’”, contou, provocando risadas entre os presentes.

Ele sinalizou que quer extinguir decreto que permite descontos de até 60% nas multas ambientais e que transforma o restante em investimen­to para recuperaçã­o de florestas.

Ao falar da questão indigenist­a,

Bolsonaro citou o caso de um empresário que quer iniciar uma obra no Paraná, mas depende de um laudo da Fundação Nacional do Índio (Funai)

“Não demarcarem­os um centímetro quadrado a mais de terra indígena e ponto final.” Ao falar dos quilombola­s, atuais habitantes de comunidade­s negras rurais formadas por descendent­es de africanos escravizad­os, Bolsonaro fez menção ao deputado eleito Helio Bolsonaro, um de seus apoiadores, que é negro. A menção ao aliado provocou novas risadas.

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