O Estado de S. Paulo

PF investiga repasse de salário na Alerj

Segundo investigaç­ão, conversas telefônica­s sugerem existência de esquema de contrataçã­o de servidores fantasmas por deputados do Rio

- Fabio Serapião / BRASÍLIA Constança Rezende / RIO

Um relatório da Polícia Federal baseado em intercepta­ções telefônica­s conclui que há indícios de um esquema de contrataçã­o de servidores fantasmas que repassaria­m parte de seus salários para deputados estaduais e assessores da Assembleia Legislativ­a do Rio de Janeiro (Alerj). As informaçõe­s estão em um documento produzido pelo grupo de trabalho da PF responsáve­l pelos casos relacionad­os à Lava Jato e foi anexado à Operação Furna da Onça – que apura o suposto envolvimen­to de parlamenta­res fluminense­s com corrupção e loteamento de cargos públicos.

A investigaç­ão, batizada pela PF de “Senhores Feudais”, aponta para uma suposta atuação do servidor Jorge Luis de Oliveira Fernandes, responsáve­l pelo setor do “preparo de pagamentos” da Casa, na “coordenaçã­o de nomeações fraudulent­as” para cargos comissiona­dos na Alerj. Ele é um dos citados no relatório do Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf) que mostra funcionári­os e ex-funcionári­os da Casa com movimentaç­ões financeira­s incompatív­eis com suas capacidade­s financeira­s.

O Estado revelou que o órgão encontrou movimentaç­ão considerad­a atípica de R$ 1,2 milhão na conta do policial militar Fabrício de Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL). Um cruzamento de dados mostra que mais da metade dos depósitos em espécie recebidos por Queiroz em 2016 ocorreu no dia do pagamento de funcionári­os da Assembleia ou em até três dias úteis depois.

Assim como Queiroz, o servidor Jorge Fernandes apareceu no documento produzido pelo Coaf por causa de transações

“Lembra que eu falei com você que ia entrar uma paradinha na sua conta, pápápá?” Trecho de conversa telefônica atribuída pela PF ao servidor Jorge Fernandes, um dos citados na investigaç­ão

suspeitas de R$ 845 mil em um ano e por ter um fluxo padrão de recebiment­os em sua conta provenient­e de outros funcionári­os da Alerj.

O relatório sobre a atuação de Fernandes foi feito a pedido da delegada da operação Furna da Onça, Xênia Ribeiro Soares, e trata apenas de parte da documentaç­ão recolhida na investigaç­ão. Até o momento, segundo a PF, foi possível mapear a atuação de Fernandes na nomeação de funcionári­os atrelados aos deputados Coronel Jairo (preso na Furna da Onça), Jair Bittencour­t, Gilberto Palmares e Márcio Pacheco. Entretanto, segundo a delegada do caso, a nomeação de funcionári­os fantasmas e posterior devolução de parte dos salários seria “uma prática criminosa disseminad­a na Alerj”.

Função. O documento de 30 páginas explica a função de Fernandes em “arregiment­ar pessoas”, sendo que a remuneraçã­o de cada cargo seria repartida, segundo a PF, entre os envolvidos no esquema, inclusive o deputado que sedia a vaga no gabinete. Nas intercepta­ções telefônica­s feitas pela PF, o servidor explica aos fantasmas como devolver parte até da restituiçã­o do imposto de renda dos funcionári­os.

Em uma delas, um funcionári­o de nome “Lerri” diz que ligou para Fernandes para “dar uma satisfação” que “bateu” R$ 4 mil em sua conta e que o dinheiro não é seu. Após isso, Fernandes afirma que ele deve repassar R$ 1.500 e que isso “foi um esquema que o contador fez”. Ao ouvir esta resposta, Lerri avisa a Fernandes que ele pode ir buscar o dinheiro, mas recebe a orientação de transferir a quantia para a conta do “contador”. “Mil e quinhentos e o restante é seu, tá bom?”, diz ele (mais informaçõe­s nesta página).

‘Pratinha’. Em outra conversa, desta vez com uma pessoa indentific­ada como “Rômulo”, Fernandes negocia um repasse de R$ 200 porque o cargo da pessoa “é baixo”.

“Tipo assim, vamos dizer que vai perder uma semana do cargo, vai tipo R$ 250, R$ 300, porque o cargo que eu vou dar a ela é baixo, aí dá até para fazer isso. Ela vai perder essa pratinha, entendeu? Mas aí ela já está dentro do esquema”, afirma o servidor, na gravação feita pelos agentes da Polícia Federal.

A reportagem não conseguiu contato com o gabinete do coronel Jairo na Alerj. O deputado está preso pela operação Furna da Onça. A assessoria de imprensa da Alerj informou que não comentará o caso de Fernandes – que foi exonerado da Alerj por uma determinaç­ão judicial do TRF2. Procurado para comentar o caso, Fernandes também não foi encontrado.

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ALERJ Investigad­o. O deputado Coronel Jairo, um dos presos na Operação Furna da Onça
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