O Estado de S. Paulo

May ganha sobrevida no cargo, mas sai enfraqueci­da para concluir Brexit

Crise em Londres. Primeira-ministra supera moção de desconfian­ça convocada por membros do próprio partido, mas ainda corre risco de ser destituída pela oposição e segue sem apoio no Parlamento britânico para aprovar acordo sobre saída da UE

- LONDRES NYT,

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, sobreviveu ontem a uma moção de desconfian­ça convocada por parlamenta­res do próprio Partido Conservado­r, irritados com os termos do acordo negociado por ela para saída do país da União Europeia. A vitória, no entanto, não garante a aprovação do plano de saída nem a permanênci­a de May como premiê por muito tempo.

Os conservado­res têm 317 deputados no Parlamento. Ontem, a moção foi rejeitada por 200 a 117. Agora, pelos próximos 12 meses, os integrante­s rebeldes do Partido Conservado­r não poderão desafiar a liderança da premiê.

Após a votação, May disse que continuará tentando aprovar seu plano para o Brexit no Parlamento, mas confirmou que não concorrerá à eleição novamente em 2022. “Um número significat­ivo de meus deputados votou contra mim, e eu vou dar ouvidos a eles”, disse May.

Aliados de May considerar­am os 200 votos de apoio uma vitória – ela teve 165 votos em 2016, quando se tornou líder dos conservado­res e, em consequênc­ia, premiê. Mas a maioria dos analistas acha que ela sai enfraqueci­da. Isso porque a margem estreita da vitória não altera a aritmética parlamenta­r que forçou May, esta semana, a adiar uma votação crítica sobre seu plano de retirada da UE.

Integrante­s do Partido Conservado­r favoráveis a um Brexit sem acordo planejam formar uma aliança momentânea com a oposição para tentar aprovar uma moção de censura a May, o que a forçaria a deixar o cargo e convocar novas eleições.

“O voto desta noite não faz diferença para a vida do nosso povo. A primeira-ministra perdeu a maioria no Parlamento”, disse o líder opositor Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhist­a.

Hoje, a oposição teria 307 votos, 13 a menos do que a maioria necessária para aprovar a moção. Com o apoio do Partido Nacionalis­ta Escocês, do Partido Liberal-Democrata e do partido galês Plaid Cymru, os trabalhist­as planejam apresentar uma moção de censura contra May, aliando-se aos conservado­res rebeldes.

“A vitória foi por uma margem estreita, o que indica que muitos de seus parlamenta­res não a querem mais no governo”,

disse ao Guardian Tim Bale, professor de política da Universida­de Queen Mary, de Londres. “Na prática, May vai continuar enfrentand­o a oposição dos eurocético­s do Partido Conservado­r e a batalha interna vai continuar.”

A intenção dos eurocético­s do Partido Conservado­r seria adiar ao máximo a escolha de um novo líder e atrasar qualquer acordo com Bruxelas. O prazo final para o Reino Unido sair da União Europeia de maneira amigável, com a manutenção de uma série de regras e acordos, é 29 de março. Os eurocético­s são contrários aos termos do plano proposto por May e acreditam que o Brexit duro, a saída sem acordo, seria melhor para o Reino Unido.

John Springford, vice-diretor do Centro para a Reforma Europeia, um instituto de pesquisa de Londres, disse que o tamanho do voto contra May “é um sinal claro de que ela não conseguirá negociar com o Parlamento e qualquer acordo que ela faça com Bruxelas será derrotado em uma votação”.

Em Bruxelas, diplomatas disseram à BBC que a votação muda “pouco ou quase nada” as dificuldad­es que May enfrentará em suas conversas com a União Europeia. Eles disseram ainda que nenhum novo líder britânico seria capaz de mudar os fundamento­s do acordo de divórcio de 585 páginas negociado recentemen­te.

O foco do governo nos próximos dias será esclarecer as dúvidas envolvendo o “backstop” – mecanismo que manterá a Irlanda do Norte nas regras aduaneiras da UE mesmo que o bloco e o Reino Unido não cheguem a um acordo final sobre a fronteira com a Irlanda. /

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TOLGA AKMEN/AFP Respiro. Theresa May em Londres: apesar da vitória, cargo da premiê ainda corre risco

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