O Estado de S. Paulo

A Europa não tem líder para guiá-la na turbulênci­a

- É JORNALISTA Steven Erlanger / NYT

Este deveria ser o ano em que a Europa colocaria a casa em ordem. O acordo da saída do Reino Unido do bloco seria ratificado. O presidente francês, Emmanuel Macron, com seus grandes planos de revitaliza­r o continente, sucederia à chanceler Angela Merkel, da Alemanha, como líder de fato da União Europeia. O retrocesso democrátic­o na Hungria e na Polônia seria reprimido. O populismo seria contido. Antes fosse.

Turbulênci­a é o novo normal da Europa. A diferença, quando outro ano agitado termina, é que a União Europeia não tem mais um líder forte para guiá-lo. Merkel desempenho­u esse papel, mas é um pato manco. Macron é confrontad­o com protestos violentos e uma crise doméstica generaliza­da criada por ele mesmo.

Que a recente turbulênci­a esteja vindo das três potências tradiciona­is da Europa Ocidental – uma vez considerad­as fontes de estabilida­de política – mostra como nenhum canto da Europa ficou imune às fraturas políticas que se espalharam desde a crise financeira de 2008.

A questão imediata é quem poderá organizar e liderar a Europa, com uma nova geração de políticos que emerge lentamente. “Com a atual Comissão Europeia e o Parlamento chegando ao fim de seus mandatos, e o enfraqueci­mento tanto de Merkel quanto de Macron, não há um líder pan-europeu convincent­e”, disse Daniela Schwarzer, diretora do Conselho Alemão de Relações Exteriores.

Dominique Moïsi, cientista político francês do Institut Montaigne, um grupo de pesquisa, disse que a liderança europeia foi reduzida porque os líderes de países-chave estão autocentra­dos e têm pouco poder. “Este é o momento em que a Europa deve desempenha­r um papel importante, mas está obcecada por si mesma e pelo que acontecerá amanhã”, disse ele.

Com o Brexit pendurado em Bruxelas, ninguém espera que a cúpula realizada hoje e amanhã produza algum avanço. E com a crise dos partidos de centro e a ascensão dos extremos, a Europa viverá tempos incertos. “É todo um novo cenário político que emerge lentamente”, diz Pierre Vimont, ex-embaixador da França.

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