A Europa não tem líder para guiá-la na turbulência
Este deveria ser o ano em que a Europa colocaria a casa em ordem. O acordo da saída do Reino Unido do bloco seria ratificado. O presidente francês, Emmanuel Macron, com seus grandes planos de revitalizar o continente, sucederia à chanceler Angela Merkel, da Alemanha, como líder de fato da União Europeia. O retrocesso democrático na Hungria e na Polônia seria reprimido. O populismo seria contido. Antes fosse.
Turbulência é o novo normal da Europa. A diferença, quando outro ano agitado termina, é que a União Europeia não tem mais um líder forte para guiá-lo. Merkel desempenhou esse papel, mas é um pato manco. Macron é confrontado com protestos violentos e uma crise doméstica generalizada criada por ele mesmo.
Que a recente turbulência esteja vindo das três potências tradicionais da Europa Ocidental – uma vez consideradas fontes de estabilidade política – mostra como nenhum canto da Europa ficou imune às fraturas políticas que se espalharam desde a crise financeira de 2008.
A questão imediata é quem poderá organizar e liderar a Europa, com uma nova geração de políticos que emerge lentamente. “Com a atual Comissão Europeia e o Parlamento chegando ao fim de seus mandatos, e o enfraquecimento tanto de Merkel quanto de Macron, não há um líder pan-europeu convincente”, disse Daniela Schwarzer, diretora do Conselho Alemão de Relações Exteriores.
Dominique Moïsi, cientista político francês do Institut Montaigne, um grupo de pesquisa, disse que a liderança europeia foi reduzida porque os líderes de países-chave estão autocentrados e têm pouco poder. “Este é o momento em que a Europa deve desempenhar um papel importante, mas está obcecada por si mesma e pelo que acontecerá amanhã”, disse ele.
Com o Brexit pendurado em Bruxelas, ninguém espera que a cúpula realizada hoje e amanhã produza algum avanço. E com a crise dos partidos de centro e a ascensão dos extremos, a Europa viverá tempos incertos. “É todo um novo cenário político que emerge lentamente”, diz Pierre Vimont, ex-embaixador da França.