China diz que ex-diplomata do Canadá foi preso por violar lei
Pequim alega que Michael Kovrig trabalha para ONG não registrada no país, o que poderia afetar segurança nacional
A China disse ontem que o canadense Michael Kovrig, detido em Pequim na segunda-feira, violou a lei por trabalhar em uma ONG, a International Crises Group, de Bruxelas, que não está registrada no país, algo que poderia afetar a segurança nacional. Kovrig é especialista em nordeste asiático e foi diplomata em Pequim, Hong Kong e na ONU. Os jornais oficiais chineses costumam definir as ONGs estrangeiras como uma “cobertura para espionagem”.
O Canadá anunciou que o empresário canadense Michael Spavor desapareceu ontem depois de ser interrogado pelas autoridades chinesas.
A detenção de Kovrig coincidiu com as ameaças de represália de Pequim ao Canadá pela prisão, a pedido dos EUA, de Meng Wanzhou, diretora financeira da empresa de telecomunicações chinesa Huawei. Ela foi libertada na terça-feira após pagar fiança de US$ 7,5 milhões e entregar seus passaportes.
Meng aguarda a análise de um pedido de extradição dos EUA, que a acusam de fraude. Ela usará uma tornozeleira eletrônica, terá de permanecer em sua casa em Vancouver, das 23 horas às 6 horas, e só sairá acompanhada de vigilância.
Para muitos na China, a prisão da executiva a pedido dos EUA não tem nada a ver com leis, sanções ou justiça. Mas sim com o orgulho nacional. As acusações de fraude contra Meng, filha do fundador da Huawei, se encaixam na narrativa chinesa sobre os esforços americanos para minar a ascensão da China como inovadora e rival.
Além disso, Meng é vista na China como uma espécie de princesa corporativa e a Huawei está envolvida com o esforço de Pequim para o desenvolvimento liderado pela China em toda a Ásia. “Os EUA estão deliberadamente fazendo isso contra a Huawei, porque ela é uma líder da indústria chinesa”, disse Chen Lili, médico de 30 anos. “Quando ouvi sobre a prisão de Meng fiquei chocado e com raiva.”
Autoridades dos EUA apresentam histórias diferentes. Meng, dizem eles, se envolveu em fraude sobre os laços da Huawei com uma empresa suspeita de desrespeitar as sanções dos EUA ao Irã. A Huawei é uma ameaça potencial para a ciberespionagem contra o Ocidente e seus aliados.
O contraste das posições tornou a prisão de Meng um caso de estudo em muitas questões – competição, segurança nacional, influência internacional – que estão interligadas com as contínuas batalhas comerciais e quase todas as transações entre Pequim e Washington.
“O governo (chinês) e as pessoas darão mais importância ao desenvolvimento da Huawei e a apoiarão mais agora”, disse Wu Xinbo, professor de estudos internacionais da Universidade Fudan, em Xangai. “Nas negociações comerciais entre EUA e a China, isso apenas tornará o governo chinês mais determinado a promover o desenvolvimento de alta tecnologia.”
Os EUA “estão tentando fazer o possível para conter a expansão da Huawei no mundo, pois a companhia é ponto fundamental para as competitivas empresas de tecnologia da China”, escreveu o jornal estatal China Daily, em editorial.
A Huawei tem sido o eixo de projetos do presidente Xi Jinping: a iniciativa de infraestrutura do Cinturão Econômico da Rota da Seda, através da qual a China está construindo aeroportos, estradas e redes de telefonia celular em 60 países, além do programa “Feito na China 2025”, com a meta de transformar o país em líder mundial em manufatura de alta tecnologia.