O Estado de S. Paulo

Rede de mulheres se forma para apoiar vítimas e estimular ações

Uma das ativistas diz ter recebido ao menos 185 denúncias contra 13 líderes espirituai­s, desde setembro

- Priscila Mengue

Uma rede de vítimas de abusos sexuais se formou e está diretament­e envolvida no acolhiment­o às mulheres que denunciara­m o médium João de Deus. Entre os grupos está o liderado pela ativista Sabrina Bittencour­t, que criou o movimento Combate ao Abuso no Meio Espiritual (Coame). Vítima de estupro na adolescênc­ia, Sabrina diz ter recebido ao menos 185 denúncias contra 13 líderes espirituai­s brasileiro­s desde setembro.

Ela começou a reunir os relatos após seguidoras declararem ter sido abusadas pelo guru Sri Prem Baba. “Isso me afetou muito, porque tinha amigas que eram muito devotas dele.”

Em contato com supostas vítimas do guru, Sabrina teria percebido que as mulheres estariam sofrendo ameaças, o que a motivou a criar um movimento organizado de denúncias. Em um mês, foram 103 relatos, somados a cerca de 82 só de domingo a terça-feira, após o caso João de Deus vir a público.

“Estamos começando com um dos mais conhecidos (espiritual­istas), mas vai ser um efeito cascata”, diz. Segundo ela, as revelações serão feitas conforme as vítimas receberem apoio psicológic­o e jurídico do grupo.

Abdelmassi­h. Já o grupo Vítimas Unidas, criado por pacientes abusadas pelo ex-médico Roger Abdelmassi­h, recebeu a primeira denúncia contra João de Deus há cerca de três meses. Parte das integrante­s se organizou para atender e dar apoio psicológic­o às mulheres a distância. “A gente conversa. A pessoa quando vem para a gente, vem muito fragilizad­a, muitas vezes cria perfil falso, para não ter a identidade revelada até ter confiança”, conta a psicóloga Maria do Carmo Santos, que preside essa organizaçã­o.

Ela costuma ressaltar às vítimas que a denúncia é uma forma de evitar novos abusos. No passado, foi vítima de um caso de abuso não relacionad­o a Abdelmassi­h. “Não posso modificar o meu passado, mas posso modificar o meu presente e o meu futuro, impedir que outros passem pelo o que passei.”

A psicóloga conta que a maioria das vítimas procura o grupo por e-mail ou pelo Facebook. “Na medida que ganham confiança,

a gente troca número de WhatsApp, celular”, diz. “É muito similar (João de Deus) ao caso do Roger (Abdelmassi­h).”

Outras vítimas do ex-médico criaram no Facebook o grupo

“Vítimas de Assédio de João de Deus”, que já reúne 80 mulheres. Dentre as moderadora­s estão Teresa Cordioli e Ivany Serebrenic, que denunciara­m publicamen­te Abdelmassi­h.

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