O Estado de S. Paulo

OAB critica mais acesso a armas; Onyx defende rever lei

Governo Bolsonaro quer mudar legislação sobre o assunto; para entidade, essa não é a solução para melhorar segurança

- BRASÍLIA BRENO PIRES, MARIANA HAUBERT e BRUNO RIBEIRO

Um dia após a tragédia na Catedral de Campinas, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, reafirmou a posição contrária da entidade a flexibiliz­ar o acesso à posse e ao porte de armas no País. Anteontem, o ministro da Transição, Onyx Lorenzoni, disse que o caso não muda a disposição do governo eleito em facilitar o acesso.

“O que aconteceu em São Paulo é extremamen­te preocupant­e e o Brasil precisa ter políticas públicas para o combate desse tipo de situação. Mas não vejo armar as pessoas como uma forma de minimizar problemas na área de segurança pública”, disse Lamachia, ao ser questionad­o sobre as mortes, em evento que reuniu governador­es eleitos para discutir segurança. Para ele, o grande problema da segurança pública nacional é decorrente da falta de controle do sistema prisional, que seria o celeiro do crime.

Segundo Lorenzoni afirmou anteontem, o governo do futuro presidente, Jair Bolsonaro, continua disposto a mudar o Estatuto do Desarmamen­to, de 2003, que restringe acesso a armas de fogo. “O presidente pretende respeitar a vontade expressa pela maioria da população naquele momento, o direito à legítima defesa. Vamos respeitar

isso dentro da lei.”

No mesmo encontro em que o presidente da OAB comentou o assunto, o governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que a discussão sobre porte de armas “deve seguir” e afirmou não ver “correlação” entre a tragédia e o debate.

Repercussã­o. Segundo a major reformada da PM e pesquisado­ra da Universida­de de São Paulo (USP) Tania Pinc, ainda é cedo para medir os impactos da tragédia nas discussões sobre mudanças no Estatuto do Desarmamen­to. Mas ela diz “não haver ainda nenhuma evidência” de que o ataque à igreja possa significar um aumento desse tipo de crime no País.

Para Tania, o quadro de violência no País já é suficiente para se manter as restrições ao acesso a armas de fogo. “Onde há acesso maior às armas, existe aumento maior dos homicídios.” Ela destaca que, para além da discussão sobre o controle de armas, há no País um problema ligado ao comércio ilegal de armas e munições.

“Não adianta tornar a legislação mais permissiva, se o comércio ilegal permanecer o mesmo. É preciso controlar melhor a fiscalizaç­ão”, afirma Tania. Até nas próprias armas apreendida­s pela polícia, há um descontrol­e muito grande. O problema de armas no Brasil é maior do que o foco da regulariza­ção

(da venda legal).”

Já a advogada Isabel Figueiredo, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, destaca que, mesmo as armas vendidas legalmente no País terminam na ilegalidad­e, abastecend­o criminosos. “Relatos da CPI

(Comissão Parlamenta­r de Inquérito) das armas, do Rio e de Brasília, mostravam que os maiores fornecedor­es de armas para os criminosos eram as empresas de segurança”, diz Isabel. “Não porque as empresas são más, mas porque essa migração acaba ocorrendo em algum momento.”/

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