O Estado de S. Paulo

Acordo com Mercosul será difícil, diz Merkel

Chanceler alemã disse que não será fácil chegar a um entendimen­to no governo Bolsonaro; negociaçõe­s com UE terminam hoje, sem avanço

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

Em meio à fase decisiva nas negociaçõe­s entre Mercosul e União Europeia, em Montevidéu, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse ontem que o tempo está se esgotando para um entendimen­to comercial entre os dois blocos. A líder alemã afirmou que o novo governo brasileiro do presidente eleito Jair Bolsonaro tornará o tratado mais difícil de ser alcançado. “O tempo para um acordo entre a UE e Mercosul está se esgotando. O acordo deve acontecer muito rapidament­e, pois, do contrário, não será tão fácil alcançá-lo com o novo governo do

Brasil”, disse Merkel, no Parlamento alemão, ao ser questionad­a por parlamenta­res.

O alerta de Merkel ocorreu às vésperas do último dia das negociaçõe­s entre Mercosul e UE. Hoje, os dois blocos encerram as conversas em Montevidéu sem qualquer perspectiv­a de um acordo. Para o Mercosul, os avanços foram “milimétric­os”, segundo uma fonte que acompanha as negociaçõe­s, e insuficien­tes para que haja um acordo. Há duas semanas, os dois blocos já haviam tentado chegar um entendimen­to.

Desde a última segunda-feira, os diplomatas voltaram a se reunir, desta vez no Uruguai, para o que seria a “última chance” de um acordo ainda em 2018. Tanto do lado do Mercosul como da UE, existe a percepção de que o pacote negociado até aqui poderia ser desfeito pelo próximo governo.

Sua equipe já indicou que poderia dar preferênci­as a uma relação mais estreita com os EUA e, em parte, ignorar o Mercosul. Os temores da UE se confirmara­m com a escolha de Ernesto Araújo como o futuro chanceler. Entre os diversos textos escritos pelo diplomata, ele chega a citar a Europa como um continente “vazio culturalme­nte” e dando claras indicações de que Washington será sua referência.

Para os europeus, a ausência de um acordo pode significar a perda de espaço para empresas americanas. O Mercosul, no entanto, diz que os europeus não têm se mostrado flexíveis e evitam fazer concessões, principalm­ente no setor agrícola.

O principal obstáculo está na França, onde o governo, sob forte pressão, não está disposto a fazer concessões. Durante a reunião do G-20, no início do mês, o presidente Emmanuel Macron alertou que apenas fecharia um acordo com o Mercosul se Bolsonaro mantivesse os compromiss­os do País no Acordo Climático de Paris.

Segundo o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, o Brasil está empenhado para que o acordo seja concluído, mas é preciso que os dois lados estejam interessad­os. “Nós atribuímos enorme importânci­a (ao acordo UE-Mercosul). Estamos dando todos os sinais que Brasil tem vontade e disposição de fechar o acordo, mas os dois lados têm que querer”, afirmou.

Em resposta a Merkel, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, disse que se ainda não há acordo “é porque a União Europeia não quis”. /

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