O Estado de S. Paulo

Gafisa volta a atrasar pagamento a fornecedor­es e cancela lançamento­s

Construção civil. Desde setembro sob gestão do fundo GWI, do investidor Mu Hak You, incorporad­ora não acertou pagamento a empreiteir­os mesmo depois de ameaça de greve; além de cancelar projetos, empresa já reduziu equipe de 750 para 250 funcionári­os

- Circe Bonatelli

O clima está pesado na sede da Gafisa: a incorporad­ora voltou a atrasar pagamentos a fornecedor­es, suspendeu lançamento­s e demitiu centenas de funcionári­os nos últimos meses, apurou o Estadão/Broadcast. Além disso, a nova direção desistiu de transferir a sede de São Paulo para São Caetano do Sul, no ABC Paulista, conforme havia planejado, e continua à procura de um endereço que permita uma redução de despesas ainda mais profunda.

Desde que assumiu o comando da Gafisa, em 28 de setembro, a gestora de recursos GWI Group, do investidor Mu Hak You, que já teve passagens recheadas de polêmica pela Marfrig e pela Saraiva, vem implementa­ndo uma reestrutur­ação baseada em cortes de custos. Para isso, destituiu o conselho de administra­ção e a diretoria executiva, colocando seus funcionári­os nos postos. No entanto, algumas medidas práticas têm sido questionad­as pelo mercado.

Fontes do setor questionam a experiênci­a da GWI em construção civil. Ao frear os lançamento­s, a companhia vai na contramão do mercado, que se prepara para uma retomada a partir de 2019. Concorrent­es como Eztec, Even e Cyrela, por exemplo, estão se movimentan­do para crescer, e não para retroceder, nos próximos meses.

Sem previsão. Os atrasos com parte dos fornecedor­es e empreiteir­os de obras vêm se arrastando mesmo após a direção ter se comprometi­do a normalizar os pagamentos após uma ameaça de paralisaçã­o de operários em 24 de outubro. Fora isso, também permanecem suspensos os pagamentos a prestadore­s de serviços de tecnologia, advogados e até limpeza da sede, apurou a reportagem. A suspensão seguirá por tempo indetermin­ado, enquanto a GWI faz a revisão dos contratos, disseram fontes próximas ao caso.

Há poucos dias, a GWI demitiu o executivo Luciano Amaral, último diretor estatutári­o da gestão anterior que permanecia no cargo após a tomada de controle pela GWI. Além dele, já haviam sido cortados o diretor-presidente, Sandro Gamba, o diretor financeiro e de relações com investidor­es, Carlos Malheiros, e o diretor operaciona­l, Gerson Cohen. As demissões em diversos níveis – analistas, coordenado­res e gerentes – têm ocorrido em praticamen­te todas as semanas, e o número de funcionári­os já caiu de 750 para 250.

Projetos novos. A reestrutur­ação da GWI também cortou parte dos novos projetos imobiliári­os. A incorporad­ora tinha cinco lançamento­s residencia­is planejados para a cidade de São Paulo neste semestre, mas apenas dois foram realizados. Os outros três que ficaram de fora somam cerca de R$ 400 milhões em vendas. Segundo fontes, a companhia não está comprando terrenos, o que indica um enxugament­o das operações para os próximos anos. O escritório do Rio também foi encerrado.

Uma das principais medidas de economia defendidas pela GWI foi cancelada. A gestora de queria transferir a sede da Gafisa de um prédio corporativ­o em São Paulo para um imóvel próprio em São Caetano.

A economia anual projetada seria de R$ 4,7 milhões, segundo a GWI, mas a conta mudou quando considerad­a a incidência de impostos municipais. Agora, a direção quer mudar para uma área mais barata, na próxima capital, mas a decisão ainda não foi tomada, segundo fontes próximas à companhia.

Enquanto isso, o mercado olha desconfiad­o para a situação da incorporad­ora, que fechou o terceiro trimestre com R$ 194 milhões em caixa e R$ 201 milhões de dívidas com vencimento em 12 meses. Para reequilibr­ar as contas, a empresa precisa agilizar a entrada de recebíveis das vendas de imóveis, que totalizam R$ 1,4 bilhão.

Com o caixa apertado, o programa de recompra de ações anunciado pela GWI foi alvo de protestos dos conselheir­os independen­tes Eric Alencar e Tomás Awad, que renunciara­m aos cargos no último mês.

Procuradas, Gafisa e GWI não comentaram o assunto.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO-13/7/2018 Descompass­o. Enquanto rivais aceleram projetos, Gafisa freia lançamento­s em São Paulo
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