O presépio musical de Bach
Bach compunha todo final de ano, em seus 27 anos de trabalho em Leipzig, cantatas para o período natalino. Por que apenas em 1734 decidiu-se por um oratório em seis partes e duas horas e meia de duração a ser apresentado nas duas igrejas da cidade – São Nicolau e São Tomás – durante os treze dias de festas entre 25 de dezembro e 6 de janeiro de 1735? As seis partes – de fato, cantatas – foram executadas em seis dias diferentes. Poucos fiéis ouviram o oratório na íntegra, como nós o fazemos hoje em dia. Mas ele tem uma unidade muito clara, não estamos diante de seis cantatas diferentes entre si (a sucessão das tonalidades, por exemplo, comprova sua intenção orgânica).
Por isso, faz todo sentido a opção de Luís Otávio Santos, que dirigiu do violino barroco seus Músicos de Capella em três partes na terça-feira (11), na Sala São Paulo. Pela ordem, o público compartilhou a primeira, para o Dia de Natal, “Louvem, exultem, ó, povos da Terra!”; a quinta, para 2 de janeiro, “Que a honra, ó Deus, seja cantada a Ti”; e a terceira, para 27 de dezembro, “Regente dos céus, nossas débeis vozes ouvi”.
Em geral, a performance dos Músicos de Capella foi muito boa. Os solistas vocais também aproveitaram seus momentos de destaque com competência (casos de Marília Vargas e Marcelo Coutinho). Infelizmente, e como já havia ocorrido no concerto de março, o contratenor Pedro Couri Neto contrastou negativamente com o restante dos músicos e cantores.