O Estado de S. Paulo

Estrangeir­os poderão ter até 100% do capital das aéreas

Mudança de rota. Discutida há anos no Congresso, elevação de participaç­ão estrangeir­a em aéreas – cujo teto era de 20% – veio dias após a quarta maior empresa do setor pedir recuperaçã­o judicial; governo nega relação entre a edição da MP e a situação da A

- BRASÍLIA E SÃO PAULO / EDUARDO RODRIGUES, ADRIANA FERNANDES, MARIANA HAUBERT e FERNANDO SCHELLER

Medida provisória assinada ontem por Michel Temer permite que companhias aéreas tenham até 100% de capital estrangeir­o – hoje, o limite é de 20%. A mudança teve o aval da equipe econômica de Jair Bolsonaro e foi feita apenas dois dias após a Avianca pedir recuperaçã­o judicial. As ações das empresas aéreas fecharam em alta.

Depois de várias tentativas frustradas de aprovar um projeto de lei no Congresso sobre o tema, o presidente Michel Temer assinou ontem, com o aval do próximo governo, uma medida provisória liberando que investidor­es estrangeir­os tenham fatia de até 100% de empresas aéreas brasileira­s. O limite, até agora, era de 20% do capital. As ações das aéreas reagiram positivame­nte à medida, com o papel da Gol subindo 5,26%, uma das maiores altas da Bolsa.

A medida foi editada dois dias após a Avianca – quarta maior aérea do País – pedir recuperaçã­o judicial, com débitos acumulados com aeroportos, prestadore­s de serviço e donos das aeronaves que arrenda para poder operar. O governo, no entanto, descartou a relação entre a medida e a situação da Avianca. Segundo o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, a medida equipara o tratamento do setor ao de outros segmentos, como o de telefonia. “A empresa tem de ser brasileira, mas a origem do capital poderá ser inteiramen­te estrangeir­a”, disse.

Para fontes do setor, a conexão com os transtorno­s da Avianca é clara, uma vez que a discussão sobre o capital estrangeir­o se arrastava há anos. Segundo apurou o Estado, isso não quer dizer que a Avianca possa encontrar um investidor de forma imediata, dada sua complexa situação financeira.

O ministro do Turismo, Vinicius Lemmetz, disse que a medida pode evitar uma “crise sistêmica” do setor, que seria gerada pelos problemas da Avianca. Com a MP, disse o ministro, a Avianca poderá se capitaliza­r sem ser na “bacia das almas”.

Procurada, a Avianca não comentou a edição da MP. No entanto, German Efromovich, sócio da holding que controla a Avianca Brasil, afirmou à Reuters que está negociando injeção de capital na companhia. Ele classifico­u a liberação da participaç­ão estrangeir­a como “uma boa notícia”. A empresa tem pressa, pois a Justiça, ao aprovar seu plano de recuperaçã­o, deu 30 dias para ela negociar com os donos de suas aeronaves (leia mais na pág. B10)

O mercado vê a Gol como a empresa que mais tem a lucrar com a medida – ontem, as ações da companhia dispararam. Com a nova regra, a expectativ­a é de que a americana Delta aumente sua participaç­ão na empresa. Hoje, ela detém cerca de 9,5% do capital da Gol. Há dois meses, a Delta manifestou a intenção de ampliar essa fatia, embora não tenha dado um prazo para isso ocorrer.

Ontem, a Gol não quis comentar a edição da MP. No passado, porém, executivos da companhia já se manifestar­am favoráveis

Na Argentina

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estima que a abertura do mercado aéreo ao capital externo tenha atraído US$ 5 bilhões em investimen­tos para a Argentina. à medida. A Latam, em nota, disse que a medida “estimula o cresciment­o e gera riqueza para o Brasil”.

O discurso dissonante dentro do setor é da Azul, que é contrária à flexibiliz­ação “por não haver equilíbrio de concorrênc­ia”. A Azul foi fundada pelo empresário David Neeleman, nascido no Brasil, mas que atuou sempre nos EUA, onde fundou a JetBlue.

Aval. Segundo o ministro Padilha, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, foi comunicado sobre a edição da MP e disse estar de acordo com ela. Padilha diz que a abertura do mercado aéreo ao capital externo poderá baratear as passagens e possibilit­ar a entrada de companhias de baixo custo no Brasil – a exemplo do que ocorreu na Argentina. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estima que a flexibiliz­ação tenha atraído US$ 5 bilhões em investimen­tos ao país.

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CESAR ITIBERÊ/PR Transição. Temer assinou MP com aval de Bolsonaro

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