Quem ganha com o desgaste de Macron?
O atentado terrorista de Estrasburgo desviou a atenção da rebelião dos “coletes amarelos”, mas os protestos que já deixaram pelo menos 6 mortos e mais de 2.100 feridos na França não acabaram. As medidas anunciadas pelo presidente Emmanuel Macron não aplacaram a ira.
Macron se recusa a restabelecer o imposto sobre fortunas (ISF), trocado no início do ano pelo imobiliário (ISI). Com a troca, não apenas justificou o slogan “presidente dos ricos”. Criou uma armadilha fiscal para si próprio. O resultado foi a queda de ¤ 4 bilhões para
¤ 1 bilhão na arrecadação anual e a perda de ¤ 5 bilhões até 2022. Para tapar o buraco, Macron contava com ¤ 4 bilhões do imposto sobre combustíveis, mas teve de adiá-lo para apaziguar os “coletes amarelos”. Não se sabe como sairá do impasse.
Autoridades já falam num novo acordo de Grenelle, semelhante ao firmado com sindicatos para encerrar as greves de maio de 1968. Na mesa, revisão de impostos, benefícios sociais e incentivos à energia limpa. Desta vez, porém, a organização horizontal deixa o governo sem interlocutor confiável. Vandalismo e violência tomaram conta dos protestos. Em vez do espírito de Grenelle, proliferam teorias da conspiração, slogans racistas e o gesto antissemita conhecido como “quenelle”. O desgaste de Macron beneficia o extremismo.