O Estado de S. Paulo

Aliado dos vereadores, na mira da promotoria

Favoritism­o na eleição vinha do apoio de Milton Leite (DEM); MP apura patrimônio incompatív­el acumulado em 4 anos

- / B.R.

Dono de um jeito calmo de falar, em que defende o diálogo entre as bancadas políticas, Eduardo Tuma (PSDB) tinha a vitória na eleição à presidênci­a da Câmara Municipal de São Paulo dada como certa desde o ano passado. A escolha ocorre em meio a uma investigaç­ão do Ministério Público Estadual (MPE), em sigilo, que apura como o patrimônio do vereador passou de R$ 89 mil, em 2012, para R$ 2 milhões em 2016.

O Bradesco enviou ao MPE, no último dia 28, as movimentaç­ões de sua conta na agência de Indianópol­is, zona sul, que estão sob análise. Tuma justifica o salto de patrimônio com o recebiment­o de um imóvel do pai. “O Ministério Público tem de investigar, e estou colaborand­o”, afirma ele.

Membro de um partido no divã após as últimas eleições – “como todo o País”, segundo ele –, Tuma evita opinar sobre os rumos do PSDB após a vitória de Jair Bolsonaro para a presidênci­a da República e a derrota do tucano Geraldo Alckmin.

Tuma diz que o foco do seu trabalho é o diretório municipal. E acrescenta: “Meu trabalho de vereador é atender à população.” Para ele, o prefeito Bruno Covas (PSDB), “ainda novo”, tem grande chance de se reeleger mesmo com novas ondas de renovação.

Membros do diretório lembram que, em 2012, um movimento para sua expulsão chegou a circular na legenda, por ação do então deputado Ricardo Montoro, que teve seu rosto estampado em santinhos de Tuma sem seu consentime­nto.

O favoritism­o na eleição vinha do apoio de Milton Leite (DEM), atual presidente da Casa. A aproximaçã­o se deu ainda em 2016, quando o ex-prefeito João Doria (PSDB) apoiou Leite ao cargo, e Tuma virou vice do Legislativ­o – mesmo com tucanos, como Mário Covas Neto, querendo o posto. Derrotado, o filho de Mário Covas deixou o PSDB. “Não o escolhi meu sucessor. Isso foi uma construção que ele fez, e eu apoiei”, afirmou Leite.

Essa construção começou em abril, na posse de Bruno Covas, quando Tuma virou secretário municipal da Casa Civil. Tido como político bom de diálogo, recebeu a missão de aparar arestas depois de Doria não conseguir votar a reforma da Previdênci­a Municipal – travada na Câmara diante da forte mobilizaçã­o de servidores municipais contra o projeto.

O desgaste, para Tuma, era fruto da demora em atender a pedidos cotidianos de vereadores, como verba para eventos ou ações de zeladoria. No governo, deixou gabinete e WhatsApp abertos para colegas e se envolveu nos pleitos. Como exemplo, cita reunião entre Covas e vereadoras para reativar a Secretaria de Políticas para Mulheres. Presente na conversa, Juliana Cardoso (PT) atribui o encontro a um protesto de um movimento feminista. Mas não descarta o papel de Tuma. “É uma pessoa política. Conversa, dialoga. Tenho muitas brigas com o governo, mas não posso dizer que ele seja fechado.”

Herança.

O conhecimen­to sobre o Legislativ­o vem de casa. Ele é sobrinho de Romeu Tuma, delegado da Polícia Federal que chegou a senador, morto em 2010. E seu pai, Renato, trabalhou por 37 anos na Câmara.

Evangélico, no primeiro mandato, em 2012, apresentou projetos ligados a essa base, como o Dia de Combate à “Cristofobi­a” – em resposta à “crucificaç­ão” de uma atriz trans em 2015, na Parada LGBT. O projeto não foi votado. Já no segundo mandato, aprovou duas leis para renegociaç­ão de dívidas públicas. “No primeiro mandato, os temas ligados à igreja tiveram presença mais forte nas pautas de votação”, diz Tuma.

CPIs.

Em comum, os mandatos tiveram sua participaç­ão em Comissões Parlamenta­res de Inquérito (CPIs). E é delas que surgiram seus problemas.

Em outubro de 2014, o Fantástico, da TV Globo, exibiu reportagem ligando um de seus assessores, e outros servidores, a um achaque de R$ 15 mil a um comerciant­e na CPI que apurava emissões de alvarás. O processo corre na 18.ª Vara Criminal, e não ligou Tuma ao caso. Em depoimento, o assessor negou pedido de propina.

Em 2017, na CPI da Dívida Ativa, Tuma participou de blitz na Procurador­ia-Geral do Município, entendida por servidores como abusiva. Também participou de requerimen­to à Controlado­ria-Geral do Município, pedindo acesso a investigaç­ões, que teria como alvo os procurador­es, mas daria acesso também à apuração do achaque anterior. Entidades da classe jurídica publicaram nota de repúdio. “Não vi nenhum problema. O procurador-geral do Município, na época, disse que a ação foi ordeira”, disse Tuma.

A investigaç­ão do MPE tem base em representa­ção que cita esses fatos. Relatório anexado pela Promotoria aponta transferên­cias de recursos incompatív­eis com a capacidade financeira do vereador e várias contas em um mesmo nome. Além de cópia de suas declaraçõe­s de renda, Tuma enviou ao MPE carta assinada pela mãe. Ela diz que, com a doença do pai, Tuma administra os bens da família e cita empréstimo do pai, de R$ 400 mil. “Há explicação (para o enriquecim­ento)? Existe. Vamos mostrar. O que não posso é abdicar da presidênci­a (da Câmara), porque há um inquérito. Vamos esperar a investigaç­ão e aí discutir qualquer coisa.”

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FELIPE RAU/ESTADÃO Eleição. Tuma recebeu 51 votos

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