O Estado de S. Paulo

Caixa dificulta transição com nova equipe

Futuro presidente do banco, Pedro Guimarães busca informaçõe­s sigilosas no TCU, onde há 200 processos sobre irregulari­dades na instituiçã­o

- Murilo Rodrigues Alves Adriana Fernandes /

A equipe que cuida da transição na Caixa está enfrentand­o dificuldad­es para ter acesso aos dados de operações sigilosas do banco, usado nos últimos anos como braço do governo na liberação do crédito, segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’. A principal fonte de informaçõe­s do novo comando está sendo o Tribunal de Contas da União (TCU), onde há 200 processos abertos para apurar irregulari­dades na instituiçã­o.

Apenas dados públicos, como balanços do banco e outros relatórios disponívei­s na internet, foram colocados à disposição. O temor da equipe de transição é encontrar, só depois de assumir, operações que colocam em risco a saúde financeira do banco. Escolhido para presidir a Caixa, Pedro Guimarães já foi oito vezes ao TCU e tem se encontrado com diferentes ministros, que relatam processos distintos em relação ao banco. Procurada, a Caixa não comentou o assunto.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, orientou Guimarães a acabar com as irregulari­dades decorrente­s do fatiamento político dos últimos anos. Partidos políticos, como o PP – que apadrinhou o presidente atual, Nelson Antonio de Souza – e o PR, o primeiro a declarar apoio formal ao futuro governo após a eleição, estão querendo fazer indicações, embora o novo governo tenha prometido resistir a isso.

Bolsonaro, além disso, tem demonstrad­o interesse em colocar um militar no posto de vice-presidente de tecnologia da informação do banco, para “vasculhar” os contratos da instituiçã­o. Isso, porém, poderia trombar com a política do banco, de escolher os diretores via empresas de contrataçã­o de executivos.

Futebol.

Outro ponto que aumentou a pressão sobre o novo comando é a decisão, anunciada por Bolsonaro, de rever os contratos de publicidad­e e patrocínio do banco. O presidente eleito disse que o banco estatal desembolsa­rá R$ 2,5 bilhões com esses atividades neste ano. A Caixa, porém, contestou o número e disse que o orçamento de 2018 é de R$ 685 milhões, dos quais R$ 500,8 milhões foram gastos até novembro. Os contratos de patrocínio de futebol só serão renovados depois de adotadas exigências feitas pelo TCU.

O Estadão/Broadcast apurou que Bolsonaro orientou que o novo comando do banco priorize patrocínio­s regionais em vez de grandes eventos esportivos e disse que eles precisarão ter “lógica financeira”.

A ideia é que a Caixa passe a focar nas linhas em que já tem tradição, como o crédito imobiliári­o, e nas políticas públicas, como a gestão do FGTS. Empréstimo­s a grandes empresas – que diminuíram drasticame­nte – devem cessar para que o enfoque seja microcrédi­to e crédito consignado. Na área de infraestru­tura, deverão ser priorizado­s iluminação pública e saneamento.

Ainda na interinida­de, o presidente Michel Temer anunciou que barraria o aparelhame­nto político nas estatais e fundos de pensão. Mas, assim que assumiu definitiva­mente, colocou nas 12 vice-presidênci­as do banco indicações do MDB, PSDB, DEM, PR, PRB, PSB e PP, que ficou também com a presidênci­a.

Novo modelo.

Depois que o Banco Central e a Polícia Federal recomendar­am o afastament­o de quatro vices por suspeitas de corrupção, o conselho de administra­ção do banco, presidido pela número 2 do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, impôs uma nova forma de escolher executivos. A seleção é feita por uma empresa independen­te.

Dessa forma foram escolhidos quatro vices: de governo, corporativ­o, loterias e habitação. Eles já estão trabalhand­o e têm mandato de dois anos. Outro processo está em andamento para a escolha de mais quatro: gestão de ativos de terceiros (área onde fica o FI-FGTS), logística, produtos de varejo e a própria tecnologia da informação.

Além de adotar o novo modelo de escolha dos executivos, a Caixa decidiu mudar a forma de escolha das empresas contemplad­as com recursos do fundo de investimen­to que usa parte do dinheiro dos trabalhado­res para aplicar em infraestru­tura, o FI-FGTS.

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 29/11/2018 ?? Conversa com ministros. Escolhido para comandar a Caixa, Guimarães já foi 8 vezes ao TCU
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 29/11/2018 Conversa com ministros. Escolhido para comandar a Caixa, Guimarães já foi 8 vezes ao TCU

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