O Estado de S. Paulo

Tempos digitais estimulam a educação continuada

Mudanças frequentes no mercado de trabalho levam a aprendizag­em contínua; empresas criam ferramenta­s

- Matheus Prado

Giovane Glayston começou o ano de 2017 como auxiliar administra­tivo numa empresa, com dificuldad­es para sustentar sua família. No final do mesmo ano, já era analista de suporte numa startup, com possibilid­ades de cresciment­o. O novo ofício, aprendido por meio de cursos gratuitos online, deu uma nova perspectiv­a para o jovem de 25 anos.

Educação continuada, ou life long learning, é uma corrente que vem crescendo em modelos de ensino e entre especialis­tas de educação. O argumento é que, com as modernizaç­ões da indústria e do mercado, a força de trabalho precisa se reciclar durante toda a vida para se manter relevante.

Na prática, não estamos falando de cursos de média e longa durações, como graduações e MBAs, e sim de pequenos módulos, muitas vezes disponívei­s online e gratuitos. Devido à natureza digital da coisa, grande parte dos cursos estão voltados para as áreas de tecnologia, marketing e comunicaçã­o.

Roberto Mosquera, especialis­ta em organizaçõ­es ágeis na Ekantika, explica o processo. “As pessoas faziam a mesma coisa todos os dias, e a educação acompanhav­a. Hoje, surgem novas ferramenta­s diariament­e, que nos obrigam a continuar estudando.” O consultor também argumenta que, devido à praticidad­e e à fluidez dos novos conhecimen­tos, o processo é comportame­ntal. Num mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), diz, sai na frente quem busca sempre aprender novos conceitos e tem objetivos claros.

O movimento já vem sendo reconhecid­o por recrutador­es. Ricardo Fazarano, gerente de carreiras da Randstad, prega proativida­de e bom senso na hora de se reciclar. Ele explica que não adianta fazer dezenas de cursos online se você não conhece seus objetivos profission­ais. “Muito mais do que assimilar um conhecimen­to profundo, esses cursos servem para demonstrar que o profission­al é capaz de continuar aprendendo.” Giovane, um apaixonado por tecnologia desde a infância, se beneficiou disso.

A ferramenta utilizada por ele nos estudos foi a Trailhead, criada pela gigante de tecnologia Salesforce. Daniel Hoe, diretor de marketing da empresa, conta que a plataforma de ensino foi criada para reforçar a cultura corporativ­a da companhia, mas rapidament­e ganhou tração externa. “As pessoas chegam ao site porque é de graça, mas é realmente voltado para pessoas que querem entrar nesse ecossistem­a de tecnologia.” O aprendizad­o é prático, com testes e projetos.

A área de comunicaçã­o também tem sido objeto de pequenas revoluções. Startup fundada em Belo Horizonte, a Rock Content oferece serviços de marketing digital e possui uma universida­de corporativ­a. Cézar Machado, analista de marketing da empresa, conta que o primeiro curso oferecido veio com a necessidad­e de educar o mercado, porque a área de marketing de conteúdo não era tão polida aqui no Brasil. “A U Rock também nos apresenta uma oportunida­de de gerar negócios: atrair empresas e trabalhado­res”, explica.

Grandes empresas, como Banco do Brasil, Ambev e McDonalds,

de olho no cresciment­o dos funcionári­os, também apostam em universida­des corporativ­as. São ambientes de aprendizag­em dentro das companhias, que vão dando novas ferramenta­s – e reciclando as antigas.

José Caetano Minchillo, diretor de gestão de pessoas do BB, explica que os cursos são para os desenvolvi­mentos profission­al e pessoal. “Eles procuram conciliar as necessidad­es da organizaçã­o e os anseios pessoais por desenvolvi­mento e sucesso na carreira dos funcionári­os.”

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Reciclagem. Giovane Glayston saiu de uma empresa como auxiliar e passou a analista em uma startup após cursos

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