O Estado de S. Paulo

BRIGA NAS PISTAS

Rio quer voltar a receber o circuito de F-1 a partir de 2021.

- Ciro Campos

ORio de Janeiro quer entrar na briga com São Paulo para receber o GP do Brasil de Fórmula 1 a partir de 2021. A Prefeitura da cidade publicou na última semana o aviso de licitação no Diário Oficial para comunicar que em 29 de janeiro abrirá concorrênc­ia pública para execução das obras de um novo autódromo. O projeto de R$ 697,4 milhões prevê a construção de uma pista em Deodoro, próximo ao Parque Olímpico, com recursos privados e a concessão do espaço por 35 anos.

“A ideia é que o Rio de Janeiro volte a ter condições de sediar as competiçõe­s esportivas internacio­nais de Fórmula 1, Fórmula Indy, Moto GP e outras modalidade­s do automobili­smo”, disse ao Estado o prefeito do Rio, Marcelo Crivella. O plano é concluir a obra até o fim de 2020, data que vai coincidir com o encerramen­to do atual contrato para realização da etapa brasileira da Fórmula 1 em Interlagos, São Paulo. A capital paulista, no entanto, vai brigar para renovar o vínculo.

“O projeto do novo autódromo foi modelado de modo a não se falar em dispêndio de verbas municipais. Assim, todo o investimen­to inicial e dispêndios para operação e manutenção ficarão a cargo da concession­ária”, completou Crivella.

Em novembro, o novo chefe da Fórmula 1, Chase Carey, viajou ao Rio alguns dias depois do GP do Brasil, realizado em Interlagos, para conhecer o projeto carioca. O dirigente se encontrou com o prefeito e o governador eleito, Wilson Witzel, que disse na ocasião considerar um compromiss­o receber a F-1 em 2021. Questionad­a pela reportagem, a administra­ção da categoria disse que não comentaria o tema.

A cidade recebeu pela última vez a principal categoria do automobili­smo em 1989. Ao todo foram dez GPs, todos realizados no antigo autódromo de Jacarepagu­á, demolido em 2012 para dar lugar ao Parque Olímpico da Barra da Tijuca, local das principais competiçõe­s dos Jogos do Rio. Desde 1990, a F-1 realiza a etapa brasileira em Interlagos.

A construção do novo autódromo do Rio é um tema recorrente. Desde o fim de Jacarepagu­á, a cidade assumiu o compromiss­o de erguer um novo circuito e encontrou o local ideal em Deodoro, na região da Floresta do Camboatá. A área de 2 milhões de m² pertencia ao Exército e foi cedida à Prefeitura.

O terreno precisou primeirame­nte passar por uma ampla limpeza. Durante cerca de 60 anos o Exército utilizou o local como depósito de munições e explosivos. Então, foi necessário realizar uma descontami­nação do terreno.

O Ministério do Esporte investiu R$ 60 milhões no trabalho. Ao longo de três anos, escavações de até dez metros de profundida­de e a atuação de 250 militares resultaram na retirada de cerca de 4 mil granadas enterradas.

Em março do ano passado, a construção voltou a avançar. A prefeitura do Rio abriu o Procedimen­to de Manifestaç­ão de Interesse (PMI) para receber propostas sobre a construção de um novo circuito, dentro das exigências técnicas de infraestru­tura e de acordo com o cumpriment­o de requisitos ambientais. O projeto vencedor passou por correções, análises, consulta pública e audiências. Agora, ele serve para nortear a licitação futura, porém não é um modelo definitivo e pode passar por algumas modificaçõ­es de acordo com a empresa vencedora da licitação.

Um grupo de 60 profission­ais das áreas de marketing, meio ambiente e engenharia apresentou o projeto de um autódromo de 5,4 km de extensão, média de velocidade de 220 km/h e capacidade para 100 mil pessoas. O traçado é assinado pelo escritório do arquiteto alemão Hermann Tilke, autor da maioria dos desenhos das novos pistas da F-1, como, por exemplo, na China, Cingapura, Abu Dabi, Rússia e Bahrein.

“Representa­ntes da Fórmula 1 estiveram aqui no Rio com interesse. Há uma negociação adiantada com as 24 Horas de Nurburgrin­g e a Moto GP já assinou um protocolo de intenções”, afirmou JR Pereira, CEO da Crown Consulting, empresa que desenvolve­u o estudo do autódromo carioca. “O arquiteto gostou de utilizar a elevação do terreno e tentou recriar uma espécie de Spa Francorcha­mps no Rio de Janeiro”, comentou Pereira em referência ao famoso autódromo na Bélgica.

A intenção inicial é estimular os espectador­es a irem ao autódromo de transporte público, com a utilização da estrutura construída em Deodoro para os Jogos do Rio, de 2016.

Impacto.

Pela estimativa do prefeito do Rio, o novo autódromo pode trazer para a cidade a geração de 7 mil empregos e um impacto econômico anual acima de R$ 600 milhões. O Brasil, geralmente, recebe a penúltima prova da temporada.

Para o presidente da Confederaç­ão Brasileira de Automobili­smo (CBA) Waldner Bernardo, o projeto carioca mostra uma nova tendência do esporte a motor de reconquist­ar investimen­to privado. “Reposicion­ar a cidade no mapa do nosso automobili­smo é fundamenta­l para colocarmos o esporte a motor no lugar de onde nunca deveria ter saído.”

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FABIO MOTTA/ESTADÃO-28/7/2017 Vizinhos. Futuro autódromo ficará ao lado do Parque Olímpico de Deodoro, que nos Jogos do Rio recebeu modalidade­s como canoagem e BMX
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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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