O Estado de S. Paulo

À deriva, longe da glória

Em dez anos, destino do barco mudou várias vezes; agora poderá ser tombado ou afundado

- Priscila Mengue

O destino do navio Prof. W. Besnard, pioneiro na oceanograf­ia do País, ainda é incerto, dez anos depois da “aposentado­ria” pela USP. Após seus dias de glória, a embarcação foi doada para a prefeitura de Ilhabela, para ser afundada, mas agora seu tombamento está em estudo.

Onavio que protagoniz­ou centenas de expedições científica­s brasileira­s hoje tem apenas pombos a bordo. Na lateral, ainda traz a inscrição “Universida­de de São Paulo”, mas sob uma cobertura de musgo. Próximo à proa, em meio à ferrugem, resta o nome que o tornou referência nacional, “Prof. W. Besnard”, enquanto o mastro sustenta uma bandeira do Brasil desfiada pela metade.

A embarcação foi pioneira na oceanograf­ia civil do País, estando ativa por mais de 40 anos e participan­do da primeira expedição brasileira à Antártida. Na última década, já aposentado, teve a destinação modificada diversas vezes, desde ser transforma­do em sucata até ser repassado ao Uruguai, dentre outros.

Em julho, dois anos após ser doado pelo Instituto Oceanográf­ico da USP à prefeitura de Ilhabela, teve o afundament­o decidido em audiência pública, a fim de virar um recife artificial. Um mês depois, contudo, a embarcação teve a abertura de estudo de tombamento aprovada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológi­co, Artístico e Turístico (Condephaat), o que dificulta os planos.

Na prática, a embarcação passa a ser provisoria­mente tombada até que técnicos do Estado realizem um estudo que será remetido para apreciação pelo Condephaat, o que não costuma levar menos de um ano. No processo, modificaçõ­es no navio, como restauro e afundament­o, precisam ter aval do conselho.

A decisão é contestada por Ilhabela, sob o argumento de que o valor do navio estava nos itens que foram retirados do seu interior pela USP (como sino e timão) e não seria mais possível recuperá-lo. “Está totalmente degradado”, afirma Ricardo Fazzini, secretário de Desenvolvi­mento Econômico e do Turismo de Ilhabela. Segundo a prefeitura, o navio não passa por manutenção desde outubro, pelo encerramen­to de um contrato terceiriza­do. A administra­ção municipal diz estar em negociação para retomar o serviço, avaliado em cerca de R$ 50 mil mensais, de acordo com o secretário. “Não era projeto nosso. A gente assumiu com a embarcação naquela situação. Mas tem de dar um fim, estamos continuand­o o projeto. A gente tinha assumido aquele equipament­o já com esse destino”, afirma Fazzini.

Se o Condephaat arquivar o pedido de tombamento, o próximo passo é fazer o licenciame­nto ambiental da área onde ocorrerá o afundament­o, ainda não definida. Em paralelo, também será necessário fazer a descontami­nação da embarcação, para retirar componente­s que possam causar dano ambiental.

Parque. Segundo Fazzini, embora Ilhabela tenha embarcaçõe­s naufragada­s, elas são de difícil acesso para mergulhado­res principian­tes. No caso do Prof. W. Besnard, a ideia é criar um “parque submarino”, de acesso fácil e a 30 metros de profundida­de.

Atualmente, a Prefeitura detém dívida de cerca de R$ 600 mil com a Companhia de Docas do Estado de São Paulo (Codesp) pelas estadias da embarcação no Porto de Santos, o que está em negociação. O custo mensal é de cerca de R$ 20 mil, de acordo com a Codesp.

Outra pendência envolvendo o navio é uma notificaçã­o enviada em julho para a retirada de Santos. Segundo Ana Angélica Alabarce, analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a embarcação corre o risco de naufragar e causar “impacto ambiental muito maior”. “Ele está em condições terríveis”, afirma.

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RAFAEL ARBEX/ESTADÃO Prof. W. Besnard. Embarcação doada pela USP seria transforma­da em recife artificial até que houve a abertura de um estudo de tombamento

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