O Estado de S. Paulo

• Limite de gastos estourado

Decreto da Prefeitura diz que em Boituva, SP, 2018 já ‘chegou ao fim’ na semana passada

- José Maria Tomazela

Pelo menos um quarto das cidades – 1.412 – ultrapasso­u o limite de gastos com a folha de pagamento neste ano, estipulado em 60% da receita pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal. O montante extra chega a R$ 5,2 bilhões.

Com obras paradas e sem dinheiro para pagar integralme­nte o 13.º salário dos funcionári­os, a prefeitura de Boituva, no interior de São Paulo, decidiu encerrar mais cedo o ano de 2018. Decreto do prefeito Fernando Lopes da Silva (PSDB) determinou que as secretaria­s municipais que já atingiram suas metas encerrasse­m suas atividades na última sexta-feira, dia 14. Apenas os serviços essenciais vão funcionar, mas com horários reduzidos, no restante do ano. As unidades de saúde, por exemplo, passam a atender das 7 às 15 horas, fechando ao menos duas horas mais cedo.

Os departamen­tos de tributos, fiscalizaç­ão e jurídico trabalham em regime de plantão de amanhã a 1.º de janeiro de 2019. De acordo com o decreto, a redução no atendiment­o público e no expediente dos funcionári­os visa a “racionaliz­ação de despesas e contingenc­iamento orçamentár­io”, bem como atender as diretrizes fixadas pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal. Falta dinheiro até para pagar integralme­nte os salários. Os funcionári­os em cargos comissiona­dos só receberão o 13.º na segunda quinzena de janeiro.

A crise nas finanças municipais se reflete em várias obras paradas ou em atraso por falta de recursos na cidade de 60 mil habitantes. O caso mais emblemátic­o é a reforma do prédio municipal que vai abrigar uma escola técnica estadual. Iniciadas em 2013, as obras que deveriam estar prontas em 2014 se arrastam há cinco anos. O Centro de Esportes e Lazer, no Jardim Faculdade, tem quadras semi acabadas e estrutura incompleta desde 2016, quando deveria ter ficado pronto. Um estádio de futebol municipal ficou inconcluso no Recanto Maravilha 2, assim como uma avenida ligando os bairros Parque Novo Mundo e Água Branca.

Nos últimos meses, a prefeitura atrasou os repasses para entidades assistenci­ais conveniada­s. A Apae, que atende 50 portadores de necessidad­es especiais, precisou suspender as aulas por falta de verba para pagar funcionári­os e fornecedor­es de materiais. Dois projetos que atendem 580 adolescent­es vulnerávei­s reduziram o atendiment­o por falta do repasse. O atraso no recurso afetou também um núcleo de apoio a 850 idosos. A prefeitura foi obrigada a dispensar 30 menores aprendizes (guardas mirins) do serviço de estacionam­ento regulament­ado.

Em nota, a prefeitura informou que a reforma do prédio municipal que abrigará as instalaçõe­s da Escola Técnica Estadual (Etec) de Boituva foi desacelera­da pela queda de repasses que afetou o orçamento. “A prefeitura interrompe­u o projeto, estimado em R$ 1,15 milhão, que seria custeado com recursos próprios do município, optando pela manutenção de serviços essenciais de saúde, coleta de lixo e merenda escolar, entre outros.” Os 120 alunos têm aulas no prédio de uma escola municipal, usada também por alunos de cursos regulares.

A Escola do Jardim Paraíso recebeu R$ 4,2 milhões da prefeitura, em convênio com o governo estadual celebrado em 2009, mas a licitação aberta em 2012 teve de ser revista no ano seguinte. A prefeitura informou que teve de assumir custos adicionais de R$ 1,6 milhão, e que ainda faltam R$ 2 milhões para concluir a obra.

Crise.

Campinas, a cidade mais populosa do interior de São Paulo, está com fornecedor­es em atraso, vai empurrar dívidas para 2019 e só vai pagar no dia 24 de janeiro a segunda parcela do 13.º salário a seus 17,3 mil servidores da ativa e inativos, que deveria ser quitada este mês. No ano passado, a prefeitura atrasou também os salários de dezembro, além do 13.º salário, e enfrentou manifestaç­ões de protesto dos servidores. “Embora este ano a economia tenha tido um desempenho melhor do que em 2017, o cresciment­o ainda não foi o suficiente para o equilíbrio financeiro. Por conta disso, há fornecedor­es em atraso, porém sem prejuízo para a população”, disse, em nota.

A prefeitura não informou qual o montante do atraso, mas garantiu que todos os serviços conveniado­s de áreas como saúde, educação e assistênci­a social estão sendo pagos em dia. “Sobre os restos a pagar, a Secretaria de Finanças ainda não tem o valor que será deixado para o próximo exercício. Os dados estão sendo fechados e serão divulgados em breve”, afirmou.

Conforme a nota, desde 2013 o município conta com um comitê gestor, responsáve­l pela análise e liberação de recursos para as secretaria­s. “O trabalho deste grupo possibilit­ou um controle mais rígido das despesas, que cresceram, de 2017 para 2018 (dados do terceiro quadrimest­re), apenas 2%. No mesmo período, a inflação foi de 4%.” Em 2017, houve a revisão dos tributos municipais com o objetivo de “fazer justiça fiscal e aumentar a arrecadaçã­o”.

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PREFEITURA DE BOITUVA Atraso. Reforma da Escola Técnica parou por falta de verba

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