O Estado de S. Paulo

Bolsonaro cortará gastos com empresas terceiriza­das

Gasto no setor é de cerca de R$ 25 bi por ano; equipe verifica valor pago a empresas

- Leonencio Nossa Tânia Monteiro / BRASÍLIA

A equipe de Bolsonaro prepara lista de contratos com empresas terceiriza­das que não serão renovados. O governo gasta R$ 25 bilhões por ano com eles, 20% vão para o pagamento de profission­ais. Além disso, estão em análise contratos firmados ao longo deste ano e aditivos com vigência até julho de 2019. O foco está na Secretaria de Comunicaçã­o – que detém os contratos de publicidad­e – e em seis ministério­s.

Auxiliares do futuro governo Jair Bolsonaro preparam uma relação de contratos da União com empresas terceiriza­das que não devem ser renovados a partir de 2019. O gasto federal no setor é de cerca de R$ 25 bilhões por ano, mas, nas estimativa­s da equipe, o pagamento dos profission­ais contratado­s consome cerca de 20% desse valor.

As listas de funcionári­os terceiriza­dos dos ministério­s – empregados em áreas como limpeza, manutenção, prevenção, transporte e vigilância – foram repassadas pelo atual governo. O grupo de transição vem trabalhand­o em propostas para tentar reduzir as despesas públicas em meio ao ajuste fiscal.

Além de avaliar as terceiriza­das, a transição analisa contratos firmados ao longo deste ano e aditivos com vigência até julho de 2019 que podem ser suspensos ou não renovados. Para essa revisão, a equipe do presidente eleito está focando a Secretaria de Comunicaçã­o (Secom) – detentora dos contratos de publicidad­e – e os atuais ministério­s das Cidades, Educação, Esporte, Integração Nacional, Saúde e Turismo (mais informaçõe­s nesta página).

Uma das primeiras pastas a entrar no radar da equipe de Bolsonaro é o Ministério do Turismo. A pasta gasta com profission­ais como garçons, bombeiros civis, secretária­s e recepcioni­stas valor que chega a ser o dobro das remuneraçõ­es de oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros dos Estados. Uma relação que chegou a Bolsonaro na semana passada indicou que o órgão consome cerca de R$ 1 milhão por mês com os serviços de quatro empresas. “Todas as áreas terão de fazer um pente-fino, porque o Estado está inchado”, disse o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão. “Não pode passar uma régua. Mas temos de ver onde há gente em excesso e problemas em contratos.”

No Turismo, a empresa terceiriza­da recebe R$ 18,3 mil para manter um bombeiro civil, que tem um salário de R$ 4 mil. É uma despesa superior aos R$ 3,6 mil pagos a um soldado e aos R$ 8,2 mil recebidos por um oficial do Corpo de Bombeiros de Alagoas, por exemplo, Estado do ex-ministro e deputado federal Marx Beltrão (PSD). O contrato foi firmado no começo do ano, na gestão de Beltrão – ele deixou o comando da pasta em abril.

No ministério ficaram 62 secretária­s contratada­s por meio de empresas terceiriza­das. Cada uma delas custa aos cofres públicos entre R$ 5 mil e R$ 9 mil, os salários variam de R$ 2 mil a R$ 4 mil. Um vigilante do ministério custa R$ 7 mil, valor maior que o pago a um policial militar de Brasília, um dos maiores salários da corporação no País. O vigilante terceiriza­do recebe R$ 2,7 mil.

O Estado entrou em contato com o gabinete de Beltrão, mas não obteve resposta. O Ministério do Turismo ressaltou que os contratos de terceiriza­ção foram firmados após pregão eletrônico, segundo as regras do decreto Nº 5.450 que estipula como vencedora a proposta de menor preço e com capacidade para atender a demanda do órgão. “Cabe esclarecer que no valor total pago pela pasta para cada colaborado­r constam todos os tributos e encargos trabalhist­as (...) e que os salários respeitam as convenções coletivas de cada categoria em respeito ao que determina a lei.”

Indicações. No final de novembro, Beltrão liderava um grupo intitulado “bancada do turismo” que convenceu o presidente eleito Bolsonaro a indicar o deputado Marcelo Álvaro Antonio (PSL-MG) para comandar a pasta no futuro governo. Antonio conseguiu ainda a chancela de lideranças do PSL.

Já o atual ministro Vinícius Lummertz que sucedeu Beltrão, é considerad­o, na avaliação de auxiliares de Bolsonaro, um gestor “eficiente” na defesa do turismo de Santa Catarina, seu Estado de origem. Uma das marcas da pasta, o Selo + de Turismo, que abre portas para empresas interessad­as em financiame­ntos do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), estaria sendo usado politicame­nte por Lemmertz.

De maio a outubro, foram apresentad­as 58 propostas de obtenção do certificad­o, que abrange 46 municípios. Destes, 26 são catarinens­es. Outros Estados de grande destino turístico tiveram menos municípios contemplad­os pelo programa. São os casos do Rio (1), São Paulo (1), Rio Grande do Norte (3), Paraná (6) e Rio Grande do Sul (9). As unidades do Distrito Federal, Espírito Santo e Pernambuco não foram contemplad­as. O BNDES tornou disponível R$ 1,7 bilhão para 40 empresas que obtiveram o selo.

Procurado, o ministério argumentou que a prioridade dada a Santa Catarina, que constou em documentos analisados pela equipe de transição, levou em conta a 3.ª fase do programa Prodetur+Turismo. “O Prodetur Nordeste e o Prodetur Nacional (1.ª e 2.ª fases) atenderam, prioritari­amente, à Região Nordeste. Já a 3ª fase, intitulada Prodetur+Turismo, foi estrategic­amente lançada na macrorregi­ão Sul e depois percorreu diversas capitais do País, como Manaus, Belo Horizonte, Goiânia, São Paulo, Natal, Florianópo­lis, Cuiabá e Campo Grande”, informou a nota.

 ?? ADRIANO MACHADO/REUTERS – 10/12/2018 ?? Análise. Para vice-presidente eleito, Hamilton Mourão, todas as áreas devem fazer o pente-fino pois o Estado está inchado
ADRIANO MACHADO/REUTERS – 10/12/2018 Análise. Para vice-presidente eleito, Hamilton Mourão, todas as áreas devem fazer o pente-fino pois o Estado está inchado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil