O Estado de S. Paulo

Alunos do Estado de SP podem ficar sem material

Problemas judiciais atrasaram processo de compra que costuma ter início em agosto; governo diz que pregão será realizado amanhã

- Renata Cafardo

Por problemas judiciais com os pregões, os 3,5 milhões de alunos das escolas estaduais de São Paulo podem começar o ano sem material escolar, como cadernos e lápis. Além disso, as apostilas didáticas não serão entregues porque ainda precisam se adequar à Base Nacional Comum Curricular. A Secretaria do Estado da Educação informou que um novo pregão será feito amanhã.

Os 3,5 milhões de alunos das escolas estaduais de São Paulo podem começar o ano sem material escolar. Os contratos para compra de cadernos, canetas, lápis e apontadore­s ainda não foram assinados. Além disso, as apostilas didáticas – usadas desde 2008 na rede – também não serão entregues porque precisam se adequar à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Alunos de redes municipais também podem ser afetados, já que o governo estadual compra materiais para o ensino infantil e fundamenta­l de algumas cidades. Segundo o Estado apurou, houve problemas judiciais com os pregões realizados para a compra dos materiais e o processo ficou parado.

Depois que o contrato for assinado, de acordo com o edital da licitação, as empresas têm até 150 dias – o equivalent­e a cinco meses – para entregar os produtos. As aulas começam no dia 1.º de fevereiro na rede estadual. Em geral, as licitações são finalizada­s nos meses de agosto e setembro para que os materiais estejam nas escolas a tempo.

A Secretaria do Estado da Educação informou, por meio de nota, que no dia 7 de dezembro, a Justiça deu o parecer para que fosse feita uma nova licitação. “Um novo pregão será realizado na próxima terça-feira (amanhã) e o contrato deverá ser assinado no dia seguinte”, afirmou o texto. No entanto, ao término dos processos licitatóri­os há sempre um prazo estipulado por lei para eventuais recursos, antes da assinatura.

Também segundo a secretaria, “a distribuiç­ão dos kits de material escolar iniciará em janeiro de 2019, antes do início do ano letivo”. Questionad­o como poderia garantir esse prazo já que o edital prevê 150 dias, o governo não respondeu.

Essa não é a primeira vez que os materiais atrasam. Segundo relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) deste ano, 56% das escolas – estaduais e municipais – não tinham recebido os materiais em maio.

Apostilas. “Há um grande risco de a aprendizag­em dos alunos ficar comprometi­da este ano”, afirma a educadora Anna Helena Altenfelde­r, presidente do Conselho do Cenpec. Ela se preocupa com a falta de apostilas didáticas, que integra m o programa São Paulo Faz Escola.

Os materiais foram adotados pela rede em 2008 e são divididos por disciplina­s para todos os anos do ensino fundamenta­l e médio. “Ele tem estruturad­o o trabalho pedagógico das escolas. É um currículo e um material de apoio dos professore­s, teve toda uma formação e um projeto nessa direção.”

O governo considera que os materiais estão desatualiz­ados após a aprovação da BNCC, em dezembro de 2017, que traça novas diretrizes para o ensino infantil e fundamenta­l. A versão para o ensino médio foi aprovada este mês. “Principalm­ente para o ensino médio, é bastante precipitad­o, poderia continuar com o material antigo e fazer adequações”, diz Anna Helena.

A secretaria da Educação informa que o novo material será construído com os professore­s ao longo de 2019 e, enquanto isso, eles terão “guias de transição” para “apoiar a elaboração das aulas na implementa­ção do novo currículo”. A pasta não passou, no entanto, detalhamen­to sobre qual será o conteúdo desses guias.

Em janeiro, o atual ministro da Educação, Rossieli Soares, assume o cargo de secretário da Educação em São Paulo, no governo Doria. Ele foi um dos responsáve­is pela finalizaçã­o da BNCC no governo de Michel Temer. Procurado, Rossieli disse que gostaria de se informar melhor da situação dos materiais antes de dar entrevista­s.

“Muitos pais não têm condições de comprar material para os filhos. Os alunos deixam até de ir à escola quando não têm caderno, lápis, caneta, têm muita vergonha.” Marcos Diego Teles Monteiro

UNIÃO MUNICIPAL. DE ESTUDANTES

 ?? GABRIELA BILÓ/ ESTADÃO – 8/5/2015 ?? Sem caderno nem lápis. Contratos para compra de materiais ainda não foram assinados
GABRIELA BILÓ/ ESTADÃO – 8/5/2015 Sem caderno nem lápis. Contratos para compra de materiais ainda não foram assinados

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil