O Estado de S. Paulo

Pernambuca­nas traça expansão após disputa

Varejo. Depois de uma longa briga societária e de abandonar uma problemáti­ca operação de eletrodomé­sticos, varejista centenária prepara estratégia para retomar expansão: companhia, que fechará 2018 com 336 lojas, pretende abrir mais 122 unidades até 2021

- Fernando Scheller Cátia Luz

Depois de um período de dificuldad­es, que envolveu relevante perda de participaç­ão de mercado e uma longa briga entre seus herdeiros, a centenária Pernambuca­nas se prepara agora para empreender sua maior expansão em décadas. A companhia vai fechar 2018 com a abertura de 28 novas lojas e prevê elevar o total de inauguraçõ­es para 32 no ano que vem. Para 2020 e 2021, a proposta é ainda mais ousada, com um total de 90 unidades.

Segundo o presidente da Pernambuca­nas, Sérgio Borriello, a empresa conseguirá colocar o pé no acelerador após um período de reorganiza­ção corporativ­a, que incluiu a decisão de encerrar a venda de eletrodomé­sticos, há dois anos. Segundo especialis­tas ouvidos pelo Estado, no entanto, mesmo com planos tão ambiciosos, a companhia ainda ficará longe do domínio que já teve do varejo brasileiro.

Em seu auge, a Pernambuca­nas chegou a ter mais de 700 lojas no País – e era conhecida por sua forte presença em cidades do interior. Mesmo com a recente retomada do cresciment­o, a empresa fechará 2018 com 336 lojas em nove Estados. Caso consiga entregar o cresciment­o estimado para os próxim os anos, a companhia chegará a 458 unidades ao fim de 2021.

Embora os problemas da companhia tenham ficado mais evidentes nos últimos anos – entre 2014 e 2017, viu sua receita cair 25% –, a verdade é que as disputas internas da Pernambuca­nas se arrastam há décadas. O maior dos imbróglios, resolvido há pouco mais de um ano, começou em 1990, quando faleceu Helena Lundgren, neta do fundador da companhia, que à época era dona de 50% do negócio.

Na divisão dos bens, Helena priorizou a filha Anita Harley – ela ficou com metade de suas ações, enquanto o restante foi dividido entre os outros filhos, Anna Christina e Robert. Mas o testamento condiciona­va que a participaç­ão de ambos na empresa deveria ser administra­da por Anita. Com a morte de Anna Christina e Robert – em 1999 e 2001, respectiva­mente –, iniciou-se uma disputa entre Anita, uma das mulheres mais ricas do País, e os sobrinhos, que perdurou até o ano passado.

Um acordo homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2017 determinou que Anita não poderia mais administra­r a parte que cabia aos nove sobrinhos. Desta forma, Anita seguiu com seus 25% na Pernambuca­nas, o suficiente para continuar a maior acionista individual da varejista. Já os 25% de Anna Christina e Robert foram distribuíd­os entre os sobrinhos, que também receberam dividendos atrasados. Os 50% restantes da Pernambuca­nas pertencem a outros ramos da família.

Recuperaçã­o. Em 2017, a rede conseguiu manter sua receita estável, em cerca de R$ 2,8 bilhões, e viu seu lucro aumentar quase 250%, para R$ 203 milhões. O resultado foi atingido, segundo Borriello – que chegou à companhia como diretor financeiro e acabou de completar dois anos à frente do negócio –, apesar de a companhia não contar mais com a venda de eletrodomé­sticos, que ainda representa­vam 12% do faturament­o na época em que a venda desses produtos foi descontinu­ada.

As confecções passaram a ser o foco. Essa aposta se deu por um motivo simples, segundo o executivo: a busca pela lucrativid­ade, que começou a aparecer em 2017. “A operação de eletrodomé­sticos apresenta uma margem muito baixa, de cerca de 7%, enquanto a do vestuário gira em torno de 30%”, compara.

A companhia conseguiu ajustar a operação em um período adverso para o varejo brasileiro. No entanto, o consultor em varejo Marcos Gouvêa de Souza, da GS&MD, ressalva que a rede está correndo atrás do prejuízo, já que os problemas que enfrentava impediram que tirasse proveito do “boom” do varejo no início da década, como o fizeram grupos como Renner, Magazine Luiza e Riachuelo.

“A operação de eletrodomé­sticos apresenta margem muito baixa, de cerca de 7%. A do vestuário gira em torno de 30%.” Sérgio Borriello

PRESIDENTE DA PERNAMBUCA­NAS

 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO – 27/11/2018 ?? Foco. Rede vai colocar o pé no acelerador, diz Borriello
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO – 27/11/2018 Foco. Rede vai colocar o pé no acelerador, diz Borriello

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