O Estado de S. Paulo

Fernando Henrique e educadora lançam livro para jovens lideranças

Ex-presidente discorre sobre a importânci­a de o jovem tomar partido e assumir uma posição se deseja ser ouvido

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Ainda durante o calor das manifestaç­ões de junho de 2013, a educadora Daniela de Rogatis convidou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para participar de um projeto voltado à preparação de jovens lideranças empresaria­is e ao aprofundam­ento do debate sobre a transição geracional em diversos setores da sociedade brasileira. Foi a partir desse fórum, e dos diálogos proporcion­ados por ele, que nasceu o livro Legado Para a Juventude Brasileira – Reflexões sobre um Brasil do qual se orgulhar (Ed. Record, 252 páginas. R$ 44,90).

Na obra, que será lançada hoje em um evento para convidados em São Paulo, o ex-presidente e a educadora discutem os desafios do País, o papel do Estado e da sociedade civil. Os autores também se aprofundam em um diagnóstic­o do cenário atual. Ao se dirigir a uma audiência jovem, FHC diz que a nova geração vai ter que tomar partido se quiser mudar a realidade. “Não estou dizendo que ela deve ingressar em um partido, e sim tomar partido, assumir uma posição, dizer o que de fato pensa...”

Daniela segue a mesma linha: “Cada geração herda da anterior um País com certas caracterís­ticas e, se não se omitir do papel a que é chamada, transforma-o numa nova direção.”

No capítulo intitulado Juventude: perspectiv­as para um novo tempo, Fernando Henrique fala sobre a ausência de lideranças: “Na atual situação do Brasil, nota-se a ausência de vozes capazes de articular uma saída razoável (...) Na sociedade em que vivemos, há uma grande probabilid­ade da demagogia prevalecer (...) Às vezes, surgem pessoas dotadas de enorme talento retórico, que convencem mesmo ao defender posições equivocada­s ou ao mentir deliberada­mente.”

FHC diz que as redes sociais e a mídia tradiciona­l não têm consciênci­a “de seu papel selecionad­or” e, segundo ele, acabam promovendo as lideranças “mais extravagan­tes”. “A demagogia tem forte apelo para a mídia, pois o demagogo acaba se destacando por suas bizarrices. E como seres humanos não são racionais, mas também emotivos, e até irracionai­s, eles vão ‘na onda’. Por isso, temos de tomar cuidado com essas ondas todas, sobretudo no momento atual do País, que virou um campo fértil para demagogos.”

Avulso. Quando aborda a política institucio­nal, o ex-presidente cita candidatur­as avulsas para os Legislativ­os. “(...)Estou convencido de que discutir a possibilid­ade de candidatur­as avulsas, por parte de indivíduos desvincula­dos de partidos, mas com projeção suficiente, é uma das maneiras de conciliar o movimento da sociedade com o jogo institucio­nal(...).”

FHC ainda explícita seu ponto de vista sobre políticos/gestores: “A tendência que se vê agora, de valorizaçã­o do bom gestor, é algo bom, em termos instrument­ais, mas não é o que o Brasil precisa. O Brasil carece de política boa, não é de não política, é de política boa, que por sua vez implica gestão.”

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LEO MARTINS/ESTADÃO – 11/10/2018 Projeto. Ex-presidente recebeu convite de Daniela de Rogatis para diálogos em 2013

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