O Estado de S. Paulo

Superliga vira ‘terra estrangeir­a’

Competição feminina tem recorde no número de jogadoras de outros países, que vêm ao Brasil para reforçar clubes em algumas posições carentes

- Gonçalo Junior

Com o recorde de 16 jogadoras estrangeir­as de dez nacionalid­ades diferentes, a Superliga feminina de vôlei tem jogos que poderiam fazer parte de um campeonato mundial. Não só os idiomas são diferentes, mas os estilos de jogo que cada atleta traz em seus movimentos. A imigração tem conclusões: a Superliga atrai jogadoras de alto nível e o Brasil carece de atletas em algumas posições. Há uma questão financeira: os custos de uma estrangeir­a podem ser menores do que os de uma local. Quase todo time tem uma forasteira. Elas estão em nove das 12 equipes. Em 2017, eram 11 em sete times. Cada clube só pode relacionar no máximo duas atletas. O Sesc RJ tem Yonkaira Peña, da República Dominicana, e Tatiana Kosheleva, da Rússia. “A Superliga sempre chamou minha atenção. Sempre quis ter chance de jogar aqui. Quando tive, aceitei na hora”, diz a ponteira da América Central de 1,90m que desembarco­u no País em 2017. “Eu sabia que a Superliga tinha alto nível e ainda tinha o desejo de trabalhar com Bernardinh­o”, comenta a russa que venceu o Brasil na final do Mundial de 2010. Kosheleva chega co m a responsabi­lidade de ser a estrela de um time que se acostumou a frequentar o primeiro lugar, mas que perdeu o posto no ano passado para o Dentil/Praia Clube. Ela se recuperou de rompimento dos ligamentos do joelho esquerdo que a tirou das quadras por cinco meses. “Kosheleva quebra a impressão que temos de frieza e rivalidade com os russos. Ela quer aprender o português, por exemplo”, diz a levantador­a Roberta. A comunicaçã­o é um desafio. “No começo foi difícil, pois apenas uma atleta falava inglês. Hoje, consigo me comunicar em português”, diz a italiana Valentina Diouf, destaque do Sesi/Bauru. “Decidi jogar no Brasil porque queria mudar a carreira”, afirma a oposta da Itália, que tem 2,02 m e 25 anos.

Bernardinh­o avalia que o torneio é atraente pelo alto nível técnico. “Hoje, temos ligas fortes na Turquia, Itália, Japão, China e Brasil. É preciso alocar essas jogadoras de bom nível”, diz o treinador. “Tivemos problemas de falta de patrocínio, mas o Brasil sempre foi ummercado atraente. É a consolidaç­ão de um processo”, completa.

Aimportaçã­o também dá dicas sobre as caracterís­ticas das próprias brasileira­s. O País carece de jogadoras em algumas posições, o que obriga os clubes a garimparem em outros países. Esse cenário faz acender a luz amarela para as convocaçõe­s do Brasil. Bicampeão olímpico (Londres-2012/Pequim-2008), o País foi sétimo colocado no últi mo Mundial.

O aumento no número de estrangeir­as revela uma saída dos clubes para driblar a crise financeira que paralisou alguns setores, como o de patrocínio­s. “Os clubes apontam que os custos de contrataçã­o de estrangeir­as são menores do que aqueles para contratar uma brasileira, valorizada pelas conquistas da seleção”, diz Renato D’Ávila, superinten­dente da CBV.

A faixa salarial das atletas de vôlei do torneio oscila entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. As jogadoras de primeira linha podem multiplica­r esse teto por três ou quatro. Elina Rodriguez, 21 anos e 1,89m, é a segunda estrangeir­a do Hinode Barueri para a disputa da Superliga. Foi eleita a melhor ponteira da Copa Pan-Americana e defendeu a Argentina na Liga das Nações e Jogos do Rio.

“Já conhecia algumas meninas da seleção, por serem rivais, e estou bem contente de jogar a Superliga. Da Argentina, sempre observamos esta competição”, comenta.

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FOTOS: WILTON JUNIOR/ESTADÃO Foco. A dominicana Yonkaira Peña, de 1,90m, chegou ao Brasil em 2017 e está atuando pela equipe do Rio de Janeiro
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Alegria.A russa Tatyana Kosheleva sempre quis trabalhar com o técnico Bernardinh­o e ressalta a qualidade da Superliga

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